Capítulo 3

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Abro meus olhos devagar, pisco várias vezes para me acostumar com a claridade.

Tento me levantar, mas desisto assim que sinto todo meu corpo doer.

Olho em volta e percebo que estou em um quarto de hospital. Logo em seguida me vem uma pergunta a mente. O que aconteceu comigo?

Tento me lembrar o que houve, mas minha cabeça dói tanto que acabo desistindo por agora.

- Oi? - Chamo por alguém.

Quando quase havia perdido as esperanças que iria aparecer alguém, a porta do quarto é aberta.

Uma mulher aparentando uns 45 anos entra no quarto. Ela se parece tanto com minha mãe, que acho até estranho.

Me bate uma saudade de casa ao lembrar de minha mãe e meus irmãos, mas infelizmente estou longe deles.

- Olá querida. - A mulher me oferece um sorriso carinhoso. - Sou Jane, sua enfermeira.

- O que aconteceu comigo? - Pergunto. - Por quanto tempo dormi?

- Você sofreu um atropelamento, mas não corre perigo de vida. - Ela me tranquiliza. - Respondendo a outra pergunta, você dormiu por 24 horas.

Arregalo os olhos com surpresa. Não achei que fiquei por tanto tempo desacordada.

- Não me lembro do que aconteceu. - Suspiro frustrada.

- É normal. - Ela diz. - Com o tempo você lembrará.

Faço uma careta quando sinto uma dor aguda em minha costela, que até perco o ar.

- Tem algo para dor? - Pergunto a Jane.

Ela caminha até uma mesinha ao lado da cama, pega alguma coisa sobre ela e se vira para mim novamente.

- Tome. - Jane me entrega alguns comprimidos e um copo com água. - Vai aliviar sua dor.

- Essa cama levanta um pouco? - Pergunto.

- Claro. - Jane aperta em um botão em um aparelho ao lado da cama, e a cabeceira começa a subir um pouco.

Deve estar claro para ela que sou uma caipira. Não tenho a mínima idéia de como mexer nessa cama.

- Quais foram os danos? - Pergunto.

- Um pé e duas costelas quebradas. - Jane fala.

Tá explicado a dor que estou sentindo nas minhas costelas.

- Qual é o seu nome querida? - Jane pergunta.

- Darla. - Digo.

- Quando o motorista que te atropelou lhe trouxe para o hospital, disse que você entrou do nada na frente do carro. - Diz. - Você não tinha nenhum documento com você. - O que aconteceu?

- Eu não sei. - Digo. - Não consigo me lembrar.

A última coisa que me lembro é de chegar em Nova York e chamar por um Táxi, depois disso está tudo um borrão em minha mente.

- Tudo bem. - Jane coloca um mexa do meu cabelo atrás da orelha. - Você vai lembrar com o tempo, agora descanse.

Jane liga uma TV e me entrega o controle remoto. Logo em seguida caminha até a saída do quarto.

- Jane? - Chamo por ela antes que saia do quarto. - Esse hospital não é público não é?

- Não. - Ela diz.

Agora estou ferrada, complemente ferrada. Como vou pagar por tudo isso?

- Não precisa se preocupar. - Ela me tranquiliza. - O senhor Russell já cuidou de tudo.

- Quem é senhor Russell? - Pergunto curiosa.

- Vai conhecê-lo em breve. - Jane sorri abertamente.

- Obrigada. - A agradeço. - Por tudo.

Jane me oferece um largo sorriso e diz:

- Não precisa agradecer meu bem. - Pisca para mim. - Se precisar de alguma coisa, e só apertar esse botão vermelho ao lado da sua cama.

- Ok. - Digo. - Obrigada novamente.

Jane acena com a cabeça e sai do quarto.

Quem é senhor Russell? Por que sinto meu corpo gelar só de ouvir menção desse nome? Será que foi ele quem me atropelou?

Olho para a TV a minha frente, mas não consigo prestar atenção em nada.

Começo a me desesperar quando me dou conta que estou sozinha em Nova York sem dinheiro.

Com certeza receberei alta do hospital em breve. Para onde eu vou? O que vou fazer da minha vida?

Não posso arrumar um emprego até estiver 100% sã, e mesmo que estivesse quem iria me contratar sem documentos e sem experiência?

Se ao menos me lembrasse o que aconteceu. Não adiantaria de nada, mas pelo menos poderia tentar achar meus documentos.

Não gravei na mente o número do telefone da Antônia, então não tenho como entrar em contato com minha família.

Com toda certeza estou sendo uma decepção para minha família. Prometi a eles que não perderiamos o rancho, mas no final das contas será o que irá acontecer.

Sou inútil por agora, e não tenho a mínima idéia do que será da minha vida por agora em diante.

Seria tudo tão mais fácil se papai estivesse vivo, e não nos deixado cheias de dívidas que não temos condições de pagar. Tudo isso teria sido evitado, e eu estaria com minha família agora, não em um quarto vazio e solitário de um hospital.

Fracassei com quem amo, e não vou ser capaz de cumprir minhas promessas.

- O que vai acontecer comigo? - Pergunto a mim mesma.

A porta é aberta, e Jane entra no quarto novamente com uma bandeija nas mãos.

- Você deve estar com fome. - Coloca a bandeija sobre meu colo.

Minha barriga ronca alto, me lembrando que estou faminta.

- Estou com muita fome. - Sorrio abertamente.

Nem me lembro quando foi a última vez que fiz uma refeição, então ataco um potinho de iogurte sobre a bandeija com vontade.

- Darla você vai engasgar. - Jane gargalha alto.

Começo a rir também, mas me arrependo logo em seguida.

- Ai. - Coloco a mão sobre minhas costelas.

- Não ria. - Jane diz. - Se não quiser sentir dor.

- A culpa foi sua. - Finjo estar brava.

- Eu sei. - Ela sorri abertamente. - Não vai se repetir novamente.

Volto minha atenção para a comida. Posso estar toda machucada, mas o apetite continua sendo grande.

Sempre fui magra, mesmo comendo igual uma vaca. Puxei a meu pai na magreza, ele também tinha um enorme apetite e não engordava.

Sinto tanta falta do meu velho que chega doer. Tive que ser forte e assumir as responsabilidades da casa, já que minha mãe não queria saber de nada, a não ser sofrer por sua perda.

Tive que ser a cabeça da casa, quando meu desejo era sumir no mundo por alguns dias, e poder chorar por minha perda, e não precisar parecer ser forte perto das pessoas.

Foi difícil para mim, e ainda continua sendo. Nunca irei superar minha perda. Sinto falta de meu pai cada segundo da minha vida, sinto falta de ouviu o som das suas risadas escandalosas, suas piadas sem graça. Sinto falta de receber um beijo seu de boa noite, acompanhado com um "eu te amo" como ela fazia todas as noites antes de dormir. São memorias que vão ficar para sempre em minha mente e meu coração.

Quando percebo uma lágrima solitária corre por meu rosto, antes que eu levante a mão para enxuga-la, a porta do quarto é aberta novamente, e dessa vez não é Jane que está me encarando da porta.

Encontro Ao Acaso (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora