P O N D E R A

31 3 0
                                    

Pensar em algo com clareza e calma. Refletir, posicionar-se, ponderar-se. Apago.

Ainda de olhos fechados, encaro o mundo com um olhar de sonhos e sonos. Acordo. Esqueço no travesseiro todos os meus pesadelos.

Ponderado. Nem morto, nem vivo. Acasulado em meu Eu poeta, referido ora outra como Narciso. Renascido em questionamentos antigos, fugindo do clássico e afogado no solto riso. Descosturados: Os olhos, a pele e os pensamentos. A alma também.

O pouco que sei é reaproveitado pelo caos, numa breve ideia de interpretação por outro ângulo, leio-me e compreendo-me de outro jeito. Vejo-me em outra forma. Uma flor. Embora a escrita pareça ser poética, quero ser realista (ou surrealista). Talvez sendo supra real. 

Não me consumo em tédio, vícios ou comportamentos impulsivos. Se penso, esqueço. Mas questiono-me: qual a razão de minha raça levantar-se do chão, se pouco a pouco colidimos nele? Somos dele, de fato. Somos do pó e poeira.

Qual a evolução das flores? De que parte do mundo elas nasceram para achegar-se ao meu quintal e dentro de mim? Reais e tocáveis. Inacreditáveis de tão belas e naturais.

Habitus que habitam em mim. Doutrinas sociais que ponderei ao longo das décadas. Habito em meus costumes e perspicácias psicopatológicas. Loucura ensinada? técnica em ato. Ato em instinto. Renascido em pétalas esmagadas. Atropeladas pelo caminhão, trator e carro.

Jogam pedras no rio. No mesmo em que me afoguei. Pedras caídas aos pés de meu corpo. Olho-as como meus calçados. Cinzentas, duras, incômodas. Anomalias retratadas em concreto. Concretas pedras que me apertam.

Admiro-me, exalto-me e venero-me. Falsamente, apenas para impressionar meus súditos. Silenciosamente deprimo-me, depredo-me e calo-me. Uma inquieta criança que busca fogo. O falso fulgor que me dê apoio por instantes instantaneamente. Bastardo massificado em ato, líquido surdo e incolor. O gosto muda, mesmo sem cor.

Quando falo as palavras querem fugir. Perdem-se nos diálogos curtos ou longos. Acomodam-se na pausa, congeladas na fala. Não saem pelos lábios, abrigam-se no inconsciente. Ignoro-me às vezes para esquecer o que sai. Após muito tempo guardadas, desfazem-se em euforias. As que aqui ainda ficam aprumam-se num baú invisível, que após abrir-se, explode em epifania.

Mente minha. Mentes à mim neste momento? Engana-me tanto que nem lembro das ideias. Insano. Não é um diário, não é longa poesia. São pensamentos anotados ao longo do dia. A soma das sílabas que resulta nas palavras que digo. Não narro, não omito. Escrevo. Escrevo o que inevitavelmente dentro do cérebro sinto.

PonderaOnde histórias criam vida. Descubra agora