PRÓLOGO

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Era a noite importante da formatura do curso de Economia pela St. Helen University, em Nova York. Ao todo eram 25 jovens felizardos que sairiam para o mercado de trabalho, prontos para desenvolver projetos e pesquisas paras as respectivas empresas em que prestariam serviços. Muitos seriam herdeiros de grandes indústrias dos pais, outros abririam seus próprios negócios. Dentre tantos afortunados, Giuseppe eram uma trágica exceção. Junto com dois amigos de infância – David e Gloria Durant –, ele havia conseguido uma bolsa na importante faculdade de Lisboa. Um orgulho a qualquer parente italiano que tinha ficado para trás há mais de 20 anos.

David Durant era o filho mais velho da família composta apenas por ele, mãe e irmã mais nova – exatamente três minutos e meio. Moravam no subúrbio da Carolina do Norte antes de se mudarem para Nova York com o milagre da bolsa de estudos. Teve mais sorte que isso: conhecera Ellie. Filha de um importante contador de uma multinacional de cerveja do estado do Texas, ela decidiu estudar Economia sem nenhuma influência do pai. Crescendo por conta própria na cidade mais importante do mundo. Depois do segundo mês de estudos, eles se apaixonaram. E agora, depois da formatura, morariam juntos.

Gloria estava preocupada naquela noite. Não com a recém notícia do casamento do irmão com Ellie. As duas se davam bem, não seria problema algum chamá-la de irmã algum dia. O problema era outro. Muito mais grave. Só não tinha coragem de contá-lo ao irmão. Tinha muito medo.

Não foi à toa que resolveu buscar auxílio com Matteo. Ele tinha um irmão conhecido no meio penal; era o advogado do caso famoso que colocou na cadeia um psicopata que sequestrara duas menininhas de oito e dez anos cada.

Mas Matteo não era bem um amigo. Tiveram duas cadeiras na mesma classe, e, ainda assim, ele mal lhe dava 'bom dia' de manhã. Como pudera? Ela era uma bolsista que mal saia do dormitório ou ia às festas; tinha nem como conhecê-la mesmo.

Filho de um banqueiro inglês, ele era a representação perfeito do típico bom moço e popular com pinta de bad boy a ser consertado; na maioria das vezes, puxava mais pelo bad boy. Era um canalha, na verdade.

Obviamente, Gloria tinha uma queda por ele.

Mas não era momento para pensar nisso. Tinha que buscar meios de contatá-lo, garantir que o irmão a ajudasse – a qualquer custo. Era exatamente isso que ela temia na verdade. Matteo era pior que um cafajeste mimado, era um maníaco sexual, como dizia o boato. Se ele exigisse algum favor sexual, ela temia não ser capaz de cumprir.

O melhor amigo de Matteo, Jace, já tinha notado as olhadas indiscretas que Gloria disparava ao amigo durante toda a cerimônia de graduação. Sabia bem a fama da "bolsista da Carolina do Norte", a típica mocinha gostosa, "invisível" e antissocial que os filmes hollywoodianos costumam vitimizar. Ele sabia bem. A tal já tinha se envolvido até mesmo com Peter McGuire, com certeza uma péssima companhia. A pior do campus inteiro. Um marginal que fazia lutas clandestinas pelos bares periféricos da cidade. Algo no olhar dela o causava calafrios.

Logo depois da cerimônia, teria a festa com os formados e os familiares. Celine Gutteav mal podia esperar. A irmã estava se formando e era a oradora da turma! Um orgulho. Mais era além disso. Celine nunca tinha ido a Nova York; tudo parecia tão grande e iluminado que mal podia se conter. Quando viesse a festa, ela beberia e dançaria como se fosse a própria formatura. Nunca teria a sua própria de qualquer forma. O pai era um grande fazendeiro, exportador de frutas no extremo oeste do Texas; como primogênita, e lésbica, Celine vivia enfurnada nos mais obscuros confins da fazenda com a desculpa de tudo lhe pertencer um dia. Celine passou a ter professores particulares desde que o pai descobrira sua sexualidade. Isso continuou no ensino superior. Ou no que ela podia chamar de ensino superior. Celine era a filha favorita do grande Christopher Gutteav, também sua maior decepção.

Christopher também estava nervoso em sua grande pompa, enquanto observava a filha discursar. Ao seu lado, Celine brilhava ao admirar a irmã. Ele tinha que levá-la de volta para casa depressa, antes que pudesse haver maiores consequências. Detestava sair do Texas; sair com Celine só o deixava com um humor pior. Para piorar, convencer Celine de ir embora antes do baile de formatura, parecia tarefa impossível.

Victor Goulart também admirava Julia em suas palavras de boa fortuna e esperança pelo futuro de cada um ali. Ele era louco por aquela mulher desde o início do terceiro ano. Era o gênio da turma, os melhores trabalhos, as melhores respostas em todos os debates em turma; conseguira até mesmo o melhor estágio com o professor Richard. Era além do amor, era admiração. Vontade de se igualar àquela mulher e fazê-la ainda melhor do que já era. Mas em sua cápsula solitária, ele não conseguia dizer um mero 'oi' à sua deusa inspiradora. Ainda assim era capaz de fazer qualquer coisa por ela.

Julia finalizou seu discurso tremendo. Não sabia se conseguiria descer as escadas sem cair.

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Às 2h43min do dia 3 de junho de 2001 tudo mudaria. Para todos.

A festa ainda estava em seu auge no palecete alugado especialmente para ocasião. No jardim do lado de fora, não muito longe da grande fonte da frente da casa, dentro do labirinto de arbustos bem cortados um crime acontecera. O sangue estava por todo lado, por todos eles. Alguns ainda estavam na grama, chorando. O que seriam das suas vidas dali em diante? Precisavam pensar depressa. Friamente.

Diante deles, um corpo. Um único assassino. Doze testemunhas oculares. E um infeliz para culpar.

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