Capítulo 3: Edmond

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30 de setembro de 2014 – França, às 6:01 p.m.

Nunca foi fácil ser para o eu pai o filho que ele tanto sonhara. Depois de duas tentativas falhas, eu vim por uma inseminação artificial de sucesso – quase milagrosa. A gravidez era para ser de gêmeos, mas meu irmão morreu na hora do parto. Era o mais velho. Eu vim depois; acompanhado de asma e uma deficiência ocular grave. Era a imagem perfeita de um nerd desprezível.

Meu pai era um galã em seus tempos de escola. Eu ser esse monstrinho com metade dos cromossomos vindos dele era inconcebível. Mesmo correndo risco de vida, aos dez anos, ele mandou fazer uma cirurgia cerebral para reparar meus olhos. Foram mais de 24 horas de cirurgia, mas eu sobrevivi. Mais uma vez.

Infelizmente para ele, eu já tinha desenvolvido bem minha personalidade, e não era nada parecida com um badboy disputado pelas menininhas da escola.

Charles veio como um herói em sua capa reluzente. Quando eu me sinto muito acuado ou tão bosta que não suporto minha própria presença, ele surge. É meu completo oposto. Confiante, falador, galante, simpático, popular. Ora pois!, conseguia ser bonito. Durante boa parte da minha infância, quase não a vivi de fato. Tudo foi Charles. Devo minha vida a ele. O amor de meu pai também.

Quando paro muito para pensar no assunto, penso que Charles é o meu irmão, que de alguma maneira deixou seu espírito para viver junto ao meu nesse corpo. Não me importo em dividir espaço. Gosto de Charles; com ele ao meu lado eu não me sinto tão só.

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