Capítulo 4: Michael

6 1 0
                                    

07 de agosto de 2015 – Alemanha, às 8:59 p.m.

Na verdade, eu não tenho problema algum. Nenhuma doença psicológica nem nada do tipo. Bem, a não ser que amor seja considerado uma doença mental; acredito que Platão falou que era. Quem sou eu para descordar do mestre?

É isso. Meu mal é o amor.

Conheço Cath desde os dez anos de idade, quando ela foi com a família em uma festa de fim de ano da indústria de papai. Aos dez anos, eu era mais trouxa que qualquer um – minha mãe chegou a me levar ao psicólogo por achar que era homossexual –, tão romântico e esperançoso com o mundo como há muito não se via em uma criança – hoje, até eu não acredito na minha cara de pastelão quando vi Cath pela primeira vez.

Ela surgiu em um vestidinho rodado de seda e renda, repleto de pérolas por todo o tronco do modelo. Os cabelos estavam presos para trás, deixando claro os olhos azul-acinzentados que tanto me encantaram.

Não sei dizer com precisão como iniciamos nossa amizade. Mas lembro de perceber seus olhos tristes naquela noite. O amor nasceu aí: na minha necessidade incontrolável de protegê-la e fazê-la sorrir. Como era falante, logo depois de eu perguntar alguma coisa qualquer – acho, realmente não lembro porque começamos a conversar –, ela começou a falar sem parar. Acho que achou e mim um porto seguro que podia se abrir. Gosto de acreditar nisso já que ela não costuma falar de seus sentimentos.

Em 2011, quando soube que ela seria enviado a um internato na Alemanha, não pensei duas vezes. Convenci os meus pais a me mandarem para o mesmo. Claro que eu nunca imaginaria o que fosse o Instituto Para Jovens Alemães e Parceiros – ou IPJAP. Não era bem uma escola de estudos avançados, como costumava-se estampar nas campanhas publicitárias. A escola era um refúgio para os filhos problemáticos de grandes empresários. Era como um hospício para ricos.

Não sei se algum dia me arrependi de vir para cá. Se algum dia o fiz, o sentimento de proteger Cath aumentou tanto nos últimos anos que abafaram qualquer outro temor que possa vir ao meu coração. Ainda assim, realmente, não é fácil viver aqui.

Quando Cath me beijou pela primeira vez, no entanto, tudo passou a valer mais a pena. Um ano de namoro ainda era muito pouco para conhecer de verdade a mulher que eu amava, mas já tinha certeza que queria ela como esposa.

INTRÍNSECOOnde histórias criam vida. Descubra agora