CAPÍTULO UM

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Como a pessoa tem a capacidade de se atrasar morando a dez minutos do trabalho? Boa pergunta

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Como a pessoa tem a capacidade de se atrasar morando a dez minutos do trabalho? Boa pergunta. Mas eu tenho esse incrível talento. Odeio me atrasar, porque sempre que chego tarde, já têm em média cinquenta pedidos atrasados. É uma maravilha.

Abro a porta do restaurante, tentando disfarçar que acordei depois do meio-dia e que só tive tempo de escovar os dentes, e sorrio para Kate, a nova garçonete, enquanto corro para a cozinha tentando passar despercebida pelo Mr. Mathew. Infelizmente, o homem tem um faro para atrasos e logo ele se vira para mim, falando, ou gritando, já que ele não é nada silencioso, com seu inglês mais rápido do que necessário.

— Parece que teremos comida para os clientes hoje, afinal. — Apesar do tom de bronca, o sorriso zombeteiro está ali e eu murmuro um "desculpa" sem parar para abraçá-lo como todos os dias.

Tiro todos os acessórios de frio e coloco o avental, prendo meu cabelo rapidamente e corro para a cozinha que me espera com o calor gostoso de sempre. Ironicamente, apesar do frio lá fora, essa cozinha fica um inferno. Junta chama acesa com calor humano e movimentação constante, não dá realmente um bom resultado.

Cumprimento os ajudantes da cozinha e logo desligo meu cérebro, me concentrando única e exclusivamente no que amo fazer. O restaurante sempre foi minha salvação para não pensar nos problemas, nesse último ano as coisas não foram diferentes. Na verdade, as coisas foram piores. Tive que conviver com meus arrependimentos e com a minha tristeza, e, no início, nem o trabalho conseguiu me fazer esquecer aquele sorriso. Hoje resta apenas um buraco no meu peito, a sensação de que está faltando alguma coisa, mas já não dói tanto quanto antes.

As horas passam voando, e, quando menos espero, Mr. Mathew me grita que está na hora de eu comer alguma coisa. Ele fala as coisas de sempre sobre eu desmaiar de fome e cair com a cara nas panelas, sobre a minha magreza e mais um pouco do seu discurso decorado de todos os dias. Bem paizão mesmo. Reviro os olhos fazendo a minha primeira pausa do dia para almoçar. Um almoço quase cinco horas da tarde? Sim, mas um almoço. Após comer, vou ao banheiro e em seguida até o armário onde guardo minhas coisas, pegando meu celular. Se eu não ligar todo dia nesse horário minha mãe come meu couro.

Isa, filha. Já ia te ligar. Mesmo sabendo que você não me atenderia — Dona Helena diz e só ouço o barulho de panelas batendo através do telefone. Sorrio, mesmo com a saudade apertando meu coração. Saudade de casa.

— Mãe, nem demorei tanto assim para ligar. E sabe que quando estou na cozinha não tenho acesso ao meu celular.

Eu sei. Mas já tem quase quinze horas desde a última ligação, filha — responde e consigo visualizar o sorriso ao dizer isso. Minha mãe virou uma mulher bem carente. — Como você está? Anda comendo direitinho? Tomando banho?

— Dona Helena, você não perdeu a mania de me tratar como uma sem cabeça. Estou bem. Estou comendo, mas quanto ao banho, só aos sábados — brinco e ela apenas ri.

LIVRO 2 - Você me aceita? [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora