CAPÍTULO DOIS

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A Alice vai me matar

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A Alice vai me matar. É isso. Meu voo está atrasado e com isso chegarei praticamente em cima da hora do casamento. Ela já me ligou mais de dez vezes para perguntar se já estou chegando. E agora que peguei o avião. Tento pensar se trouxe tudo o que devia, mesmo que agora seja um pouco tarde para isso, mas continuo conferindo minha lista mental para não ter que pensar em outra coisa. Acho que não esqueci nada. Torço para que o vestido que ela escolheu me sirva, porque se não servir, terá que ser aquele mesmo, não vai dar tempo nem de ajustar.

Eu passei os dias anteriores praticamente riscando o calendário contando com a chegada do dia de hoje. Usei a tática infalível de colocar minhas roupas na mala aos poucos e espero que tenha dado certo. Despedi-me de todos no restaurante com o drama deles parecendo que nem voltaria mais. Eu hein. Tento me distrair da ideia que assim que chegar a Alice me jogará da ponte, e adormeço.

Não sei exatamente quando tempo depois acordo, meio grogue ao ouvir a aeromoça me perguntando se desejo comer alguma coisa. Nego com a cabeça e agradeço ainda sonolenta. Olho as nuvens pela janela do avião e uma sensação de ansiedade se instala no meu estômago. Mordo o lábio com força e aperto os olhos a fim de tirar esse pensamento que apareceu de repente.

Após uma escala e mais algumas horas de voo, eu finalmente desembarco no aeroporto de Brasília. Olá, calor. Seja bem-vindo. Espero impaciente para pegar a mala e fico intercalando meu olhar entre a esteira e a porta de saída do desembarque. Por favor, Deus, não me deixe carregar as malas sozinha dessa vez. Pego a bagagem e a coloco no carrinho praticamente correndo em busca de quem quer que tenha vindo me buscar. Dessa vez, eu avisei umas mil vezes o horário que meu voo chegaria, e ele saiu atrasado ainda, então não tem desculpa.

— Ei, moça. — Ah não. Meu coração dá um pequeno salto com uma voz masculina que se aproxima por detrás de mim.

Viro-me devagar, nervosa com a ironia dessa situação.

— Você pode me dizer as horas? — Um homem negro, com uma pele perfeita que chega dá inveja, sorri para mim mostrando seus dentes mais brancos que leite.

Olho meu celular e respondo as horas para o rapaz. Ele agradece e se afasta e eu resmungo brava.

— É um tipo de lição, Deus? Ele irá roubar meu relógio e dizer que está atrasado para o bar também? Ou irei me apaixonar de novo?

— Oi? — O homem se vira e percebo que reclamei antes que ele pudesse se afastar. Parabéns, Isadora. — Falou comigo?

— Não... Desculpa. Estava pensando alto.

Ele abre mais uma vez aquele sorriso maravilhoso e acena um tchau antes de se afastar. Bufo passando a mão pela testa e sacudo a cabeça pela minha insanidade. Ficarei louca em breve. Ando sem rumo procurando alguém da minha família e vejo outro rapaz que faz meu coração acelerar. Ah não. Eu já estou tão louca que estou vendo até gente parecida com ele. Isso é algum tipo de assombração pelas merdas que fiz? Miragem? Castigo divino? Desvio o olhar e pego meu celular, mas quando vou ligar para minha mãe ouço três vozes se aproximando.

LIVRO 2 - Você me aceita? [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora