Primeiramente, antes de falarmos sobre ateísmo, devemos antes definir o que é o ateísmo. O ateísmo, em seu significado mais simples, é a descrença em qualquer forma de deus. Os dicionários definem ateísmo como uma doutrina ou atitude de espírito que nega categoricamente a existência de Deus, asseverando a inconsistência de qualquer saber ou sentimento direta ou indiretamente religioso, seja aquele calcado na fé ou revelação, seja o que se propõe alcançar a divindade em uma perspectiva racional ou argumentativa. O biólogo Richard Dawkins, provavelmente o mais famoso ateu da atualidade, define o ateu como "... alguém que pensa de Jeová o mesmo, que qualquer cristão decente, pensa sobre Thor ou Baal ou o bezerro de ouro... somos todos ateus sobre a maioria dos deuses em que a humanidade já acreditou. Alguns de nós vão só um deus além". O historiador e professor George Minois explica que "se toda noção de divindade, finalidade, transcendência, alma imortal é negada, caímos no ateísmo teórico ou dogmático, que ele próprio pode assumir diversas formas". O filósofo Friedrich Nietzsche compreendia o ateísmo na qualidade de instinto de negação de Deus, "Não conheço em absoluto o ateísmo como resultado, menos ainda como acontecimento: em mim, ele é óbvio por instinto. Sou muito inquiridor, muito cético, muito altivo para me satisfazer com uma resposta grosseira. Deus é uma resposta grosseira, uma indelicadeza para conosco, pensadores – no fundo, até mesmo uma grosseira proibição para nós: não devem pensar!".
Apesar dos diversos pontos de vista, todos entram em um comum acordo que é a negação de Deus. Mas há algo mais, e este livro tentara definir esse algo a mais. Como alguém se torna ateu? No que os ateus acreditam? Que tipo de pessoa os ateus são? O que se ganha sendo ateu? O que se perde sendo ateu? São esses tipos de perguntas que geralmente aparecem entre as pessoas mais religiosas. Para essas pessoas que tem dúvidas, sobre o ateísmo, tentarem responder elas. Para os ateus que lerem, será uma forma de introspecção, não apenas para eles mesmos, como também para o próprio ateísmo.
O ateísmo tem crescido aos poucos, tornando-se mais expressivo no cenário mundial. Cada vez mais percebe-se debates entre ateus e religiosos nos rádios, TVs, internet, entre outros meios de comunicação, assim como notícias sobre discriminação de ateus, ou de religiosos que se sentem desrespeitados por manifestações de ateus.
Dados apresentados pela revista Mundo Estranho (2012) sobre uma pesquisa realizada pelo sociólogo norte-americano Phil Zuckerman, afirmam que 749,2 milhões de pessoas no mundo se dizem ateias. Isso equivale a 11% da população mundial. A matéria indica a Suécia como sendo o país com o maior número de ateus na população, em torno de 85%, o equivalente a 7,6 milhões de habitantes de um total de 8,9 milhões. No Brasil, 73% da população, ou seja, 137 milhões de habitantes são fiéis a alguma religião, ou possuem algum tipo de crença. Estes dados colocam a cultura do ateísmo como uma minoria populacional no país.
Mesmo com tal expressividade e aumento populacional, a cultura do ateísmo, como se conhece hoje, é muito recente na história e o fato de negar-se qualquer entidade superior, que para muitas pessoas é tão real quanto o ar que se respira, é um choque tremendo de culturas, uma vez que a grande maioria das pessoas acredita em algum tipo de divindade. Esse choque cultural pode gerar um preconceito discriminatório tanto por parte dos religiosos, quanto dos ateus.
Autores como Freud, Dawkins, Nietzsche e outros colocam a religião como sendo um mal da sociedade, dando muitas razões para afirmarem isso: "Quando se trata de questões de religião, os homens tornam-se culpados de toda forma possível de sinceridade e de todas as maldades intelectuais". (FREUD, 1927). "Não sou a favor de ofender nem magoar ninguém sem motivo. Mas fico intrigado e espantado com o privilégio desproporcional da religião em nossas sociedades ditas laicas". (DAWKINS, 2007). Da mesma forma, outros autores tratam o ateísmo como uma existência vazia e, segundo eles, a religião preenche esse vazio existencial. "Quando um dia você ficar velho e, tendo as necessidades imediatas todas atendidas, então se voltar para a vida interior, aí bem, se você não souber onde está ou o que é esse centro, você vai sofrer". (CAMPBELL, 1995). Esses autores se posicionam com uma visão mais critica ao ateísmo e, de certa forma, discriminatória ao ateísmo.
Estes dois pontos de vistas diferentes sobre o ateísmo, me fizeram começar a trabalhar na criação deste livro. Neste livro exploraremos os dois pontos de vista sobre o ateísmo. O ponto de vista dos religiosos e, principalmente, o ponto de vista dos ateus.
O ateísmo, embora seja um tema que merece ser muito discutido, é pouco estudado. O historiador George Minois (2014) percebeu também, tendo ele escrito muitos livros e artigos sobre a história das religiões, uma grande escassez de livros sobre o ateísmo e um diluvio sobre livros religiosos. Muitas pesquisas, tantos sociais, quanto cientificas, preocupam-se em estudar as religiões e o seu papel cultural, buscando entender as razões que fazem alguém aderir a elas, mas poucas se preocupam em estudar o seu oposto, o ateísmo, e as que o estudam, muitas vezes, apenas criticam as religiões e seus dogmas, sem explicar o que é o ateísmo, seu papel cultural e as razões das pessoas que optam por ele. Assim, o presente livro teve por objetivo, estudar e entender o que é o ateísmo e as razões que levam a pessoa a optar por ser ateu. Levantando a história do ateísmo no mundo. Identificar as razões da escolha de ser ateu. Analisar as razões identificadas. Citar alguns famosos expoentes do ateísmo. Entender os conflitos dos ateus e dos religiosos.
Pessoalmente comecei a publicar esse livro por ser ateu. Como ateu, tenho percebido muita marginalização dos religiosos para com os ateus e favoritismo do Estado para com as religiões, ao mesmo tempo em que percebi um crescimento do ateísmo, mas ainda muito lento, em um mundo ainda fortemente ligado às religiões. Chama a minha atenção a polêmica que existe sobre este tema em si polêmico, que as pessoas tentam evitar discutir para não haver conflitos. Mas, penso que não se trata de provocar conflitos e sim de estudar e entender mais o tema.
Entendo, ainda, que olivro em si pode produzir uma contribuição social à medida que espero nãoapenas aumentar o entendimento dos ateus sobre si mesmo, mas, da mesma forma,espero conseguir aumentar o entendimento dos religiosos sobre o que é o ateu eo ateísmo, quem sabe contribuindo para diminuir a discriminação de muitosreligiosos para com os ateus. Este livro, portanto, não planeja denegrirnenhuma religião, ou mesmo oferecer um favoritismo ao ateísmo ou a religião.
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Graças a Deus Existem Ateus
Não FicçãoO ateísmo tem crescido em vários países, principalmente no Brasil, por conta disso, muitos livros sobre o tema têm aparecido. Porém há poucos livros que falam sobre a psicologia do ateísmo. Muitos livros que falam sobre o ateísmo e sobre os ateus cr...