DE VOLTA À INFÂNCIA

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E então cheguei, após uma viagem de ônibus longa e cansativa, de mais de 10 horas. Meu pai foi me buscar na rodoviária, ainda surpreso pela minha mudança de pensamento repentina, me fez varias perguntas, tentou de todas as formas me agradar, me senti mimada depois de muito tempo.

Como ele e minha mãe não se falavam, usei isso a meu favor e assim que cheguei liguei para ela e disse que havia chegado e que estava tudo bem, mas que estava cansada e que depois conversaria mais, então desliguei o celular.

Foi então que vi meu pai falando com o motorista, ele tinha cara de espanto, e a minha rapidamente se tornou apreensiva, pois eu tinha muitas malas, como imaginei, ele veio e me disse:

— Nossa filha! Até parece que você veio morar aqui. — Mal sabia ele que era isso mesmo.

— Pai, você sabe como são as mulheres, quando saem levam o guarda roupa inteiro. — Dei uma risada sem graça.

— Sei bem como é, a Renata também é igual você.

Então fazendo uma cara de espanto total, deixei escapar.

— Peraí! Renata? Quem é essa Renata?

— Desculpe filha… Esqueci de dizer que me casei novamente.

— O que? A Mãe sabe disso?

— Não devo mais satisfações para dua mãe.

— Pelo jeito nem a mim, pois não se preocupou em me contar.

— Desculpe seu velho pai, me esqueci…
Agora percebo que faz muito tempo que não nos falamos.

— Ok pai! Sem problema.

— Se eu pagar um mega milk shake, você me perdoa?

— Vou pensar no caso. — Respondi sorrindo.

Mal sabia ele que na verdade, eu nem lembrava em querer falar com ele, muito menos saber dos "casos" dele, já bastavam os da minha mãe, mas mesmo assim, confesso que senti uma pontada de ciúmes pela minha mãe. Fiz uma cara de sono, e então ele falou:

-—Vamos, você deve estar muito cansada. — Falou, pegando as malas e colocando no carro.

Quando chegamos em sua casa, meu novo lar, fomos recebidos por uma mulher toda sorridente, cabelos compridos e negros, unhas feitas e toda arrumada, não parecia em nada mulheres que trabalhavam na roça, pelo menos era como eu pensava que seriam, sim… Fui preconceituosa.

Afinal, a última coisa que imaginei era uma mulher toda perfumada e arrumada, trabalhando em uma Fazenda, isso é coisa de dondoca de cidade grande… Enquanto divagava meus conceitos preconceituosos, a mulher veio em minha direção e esticou a mão.

— Prazer! Raiune, é isso mesmo neh?

— Infelizmente sim, é feio, mas é como me chamo.

— Dei uma bronca no seu pai, pois como deixou colocar um nome desses?

— Concordo, mas minha mãe também tem culpa nisso ai. — Falei rindo, mas em minha cabeça eu queria xingar ela, pois como você recebe a filha do seu marido, criticando o nome dela? Porém ela emendou uma frase que acabou mudando o rumo da conversa.

— Pena o nome não acompanhar a beleza que você tem, pois seu pai disse que você era linda, agora posso dizer que não é exagero dele.

O espanto foi tão grande que fiquei sem reação, pois realmente não esperava aquilo, fiquei olhando para ela sem saber o que dizer. Desde as fotos, minha auto estima estava muito baixa, me olhava no espelho e só conseguia ver uma derrotada, ouvir um elogio me fez sentir-se bem.

O CAMPO DOS ALGODÕESOnde histórias criam vida. Descubra agora