POR QUÊ?

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Acordei com fome, mas diferente dos outros dias, sentia- me mais calma e conformada, Pelo menos por algumas horas não pensava nos meus problemas, de certa forma tinha até esquecido. Aliás falando em esquecer, meu celular continuava jogado de canto e sem bateria, não acreditava que não tinha a mínima vontade de pegá-lo, estranhamente a única coisa que conseguia pensar era naquele garoto.

De certa forma me sentia atraída por ele, apesar de nem conhecê-lo, queria saber mais dele, queria ouvir mais ele, e as últimas palavras ainda ecoavam na minha cabeça.

Eu tinha de saber mais, o que ele queria dizer com tudo aquilo. Fui tomar café, como todos os dias, meu pai e a Renata estavam me esperando. Após algumas perguntas sobre o que havia acontecido comigo, pois eu estava particularmente alegre, diferente dos outros dias que segundo palavras da Renata, "Estava choca".

— Filha, hoje você está tão diferente. Aqueles campos lhe fizeram bem.

— Aqueles campos ou o garoto?— Falou Renata, sorrindo para mim.

Logicamente fiz desdém, e meu pai com um ar de inocência repetia sem parar.

— Garoto? O que tem aquele garoto? Me explique essa historia Raiune. Vocês estão escondendo algo de mim?

— André, deixa a menina, para de ser aqueles pais chatos. E outra, se realmente houver algo além da conversa com aquele garoto, ela irá nos apresentar, não é? — Falou Renata, olhando para mim sorrindo e dando uma piscadela.

— Aaaah! O garoto que você me disse que viu la no campo. Cuidado filha, essa molecada de hoje em dia não é confiável, vou procurar saber quem é esse garoto, para ver se é boa pessoa.

— Você já me disse isso pai. — Respondi colocando a mão na testa e fechandonos olhos.

No momento seguinte, eu estava alheia a toda conversa que se formou entre meu pai e a Renata. Depois de algumas coisas desconcertantes, me levantei e voltei para o quarto, deixando os dois debatendo sobre uso de camisinha.

Pensava em Carlos, será que ele estaria lá? Mesmo sem ter essa certeza resolvi arriscar e ir novamente, voltei para a cozinha onde meu pai e a Renata ainda debatiam sobre "garotos de hoje em dia".

— Pai, vou me vestir. Vou dar uma volta novamente, pois assim consigo esquecer da vida da cidade grande.

— Onde você vai, filha?

— Oras, vou andar um pouco, como ontem.

— Não me diga que vai outra vez no campo de algodões?

— Talvez, não sei… O que sei é que gostei de caminhar e quero relembrar mais.

Meu pai continuou com alguns sermões, que sinceramente nem prestei atenção.
Renata então resolveu intervir:

— Pode ir querida. Juízo Rai. Deu uma piscadela e falou. — Amor, venha me ajudar a arrumar a cozinha.

Levantei-me e me arrumei, olhei para o celular, mas desisti de pegá-lo. Preciso dar um tempo nessas coisas tecnológicas, e me apressei em sair.

Estava um dia quente, porém lindo, o céu todo azul, sem nuvens, um vento renovador, será que seria isso o significado de sentir a natureza?

Se fosse, tinha acabado de descobrir a resposta. Quando moramos em cidades grandes, não temos a oportunidade de observar essas coisas, por vários motivos, talvez pela poluição, talvez pela correria do dia, talvez por nos apegarmos as coisas superficiais ou tecnológicas, talvez por desinteresse ou talvez por tudo isso.
Então, por que não prestar mais atenção nisso?

Eu poderia ter ido para outro local, para conhecer mais, mas o único lugar que minha mente queria era o campo de algodões. Eu tinha de voltar lá, ele tinha de estar lá, eu precisava disso, e logo percebi ao chegar, a triste diferença entre querer e não ter.

O CAMPO DOS ALGODÕESOnde histórias criam vida. Descubra agora