Vocês acreditam em outros planos ou vida após a morte? Respeito todas as religiões e credos, cada um tem sua fé e crenças, também há as pessoas que não acreditam em nada.
Independente de qual grupo você faça parte, o que posso dizer é que por alguma razão continuei viva, quando digo isso quero dizer viva de espirito, como os fatos foram limitados até para mim, não posso dizer muita coisa sobre aquele dia no campo de algodões.
Lembro de pequenos flashes e após a chegada do meu pai não me lembro de nada, o que sei foi o que meu pai me contou, que ao chegar me viu olhando para o nada em direção ao céu e falando sozinha, e que após eu desmaiar me pegou no colo e me levou de carro até o hospital.
E chegando lá nenhum médico conseguiu explicar por que havia parado de sangrar, uma vez que meu pulso havia sido cortado, e que por sorte eu havia sobrevivido, outros diziam ser um milagre, na época fiquei meio constrangida em dizer que havia conversado com Carlos, cheguei a pensar a falar, mas...
Quem iria acreditar? Alguém de vocês acredita, caros leitores? Imaginem eu chegando em meu pai e dizendo…
"Poxa pai você não viu o Carlos ali? E as asas e tudo mais?"
Pensei que poderiam dizer que eu estava louca, ou até pior. Seria tudo imaginação minha? Seria meu cérebro tentando me salvar de um erro?
Pensei em infinitas possibilidades, mas, nenhuma delas explicava por completo o que havia acontecido. Meu pai também disse que ao chegar com a Renata, foram me procurar e foi quando acharam a carta na minha cama, e que ao lerem entraram em desespero e ficaram me procurando, foi meu pai que deu a idéia de vir até o campo de algodões. Ele disse que acredita ter ouvido alguém sussurrar em seu ouvido.
"Vá aos campos de algodões."
O que ele afirma ter sido um pensamento lógico da mente dele, afinal era o único lugar que eu poderia estar.
Renata me disse que tinha deixado um recado em cima da mesa, avisando que tinha ido encontrar com meu pai, que voltaria naquela manhã de São paulo, estava tudo explicado no recado, lógico, o papel em cima da mesa.
Claro que todos, além de traumatizados, ficaram preocupados comigo,e meu pai repetia várias vezes.
Suicídio filha?! Por que não procurou ajuda?
Era uma repetição como forma de sentimento de culpa, ele até que tentou me dizer palavras duras, devido a situação que tudo envolvia, amoleceu. Deve ter percebido que havia culpa em todos envolvidos, principalmente eu, mas sim! EU DEVIA TER PROCURADO AJUDA, e hoje consigo ver isso claramente.
Após aquele dia, fiquei em observação no hospital por um tempo e depois na casa do meu pai. Todos ainda estavam com medo que eu tivesse uma recaída. Por isso eu passava com um psicólogo 2 vezes na semana, no começo não achei necessário, depois percebi que seria uma boa, pois eu conversava com ele sobre muitas coisas, e apesar do medo da minha família de eu tentar novamente me suicidar, eu sabia, tinha a certeza no meu coração que não precisava mais disso, de alguma forma as palavras de Carlos fixaram-se em minha cabeça, de uma forma boa.
Não me sentia depressiva ou triste, claro que a cada lembrança da minha mãe, eu sentia uma saudade, uma fincada no coração, porém nada além do que qualquer pessoa sentiria após uma perda.
Com o passar das semanas tudo foi relativamente voltando ao normal, no fim, acabei ficando com meu pai, minha avó tentou me convencer para voltar para São Paulo, mas não tinha mais clima, não tinha motivos.
Só existiam lembranças ruins, e apesar do tempo curar tudo, eu ainda tinha aquele sentimento lá no fundo, escondido no coração. As semanas com o psicólogo acabaram virando meses, e todo o resto do ano visitava-o, uma vez na semana para conversar, e com a repetição, acabou virando convivência e dessa convivência acabei conseguindo me libertar da culpa.
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O CAMPO DOS ALGODÕES
Short StoryUma garota à Beira do suicídio conhece o fantasma de um garoto, que ira mudar para sempre sua vida,