A noite havia chegado, já era hora da minha posse como supremo. Meu lobo estava inquieto, por si só ele já era assim, mas hoje cedo ele queria sair. Não sei ao certo o motivo, a única coisa que me vem a cabeça é Louise, mas é impossível eu mal a conheço e ela não é minha luna, deve ser pela posse que ele se encontra inquieto. Já estou pronto fisicamente para meu destino, mas o meu coração ainda não se sente pronto, ele sabe que lhe falta uma parte, falta ela.
Deixo meu coração de lado, não é ele que deve guiar-me e sim meu cérebro. A partir de hoje todos os clãs dependeram de mim e confiaram suas famílias para que eu as proteja e as guie. Não posso e não devo fraquejar em nenhum momento. Termino de me vestir e deveria me dirigir ao salão para receber os convidados, mas ao invés disso me dirijo ao quarto da Nivini, para que me acompanhe ao salão. Entro sem bater como de costume, em casa nunca tivemos problemas com esse tipo de invasão de privacidade. Vejo minha irmã de costas para mim com uma toalha na cabeça e com fones, provavelmente escutando alguma música popular no momento.
Toco seu ombro para que note a minha presença, o que eu não esperava era encontrar aqueles olhos violetas e dois segundos depois eu estava jogado no chão, como se fosse uma pena. Aquela jovem garota havia me derrubado, nem os melhores guerreiros conseguiam essa proeza, quando a olho vejo que está com cara de preocupação.
- Eu sinto muito – ela diz estendendo a mão para me ajudar a levantar – Sinto muito mesmo, mas você me assustou.
- Eu realmente devo ter te assustado – digo com a intenção de ser uma brincadeira, mas percebo que ela não viu desse jeito – não se preocupe eu estou bem, mas acho que vc mentiu para mim.
- Como assim? Eu mal falei com vc e sou uma pessoa muito sincera, então realmente não entendo o que quer dizer.
Parece que eu a deixei nervosa. Percebo que minhas costas estão doendo, deve ser pela queda.
- Sim, vc mentiu quando me disse que tinha duas pernas esquerdas para a luta. Pelo que parece vc é muito boa nisso – digo olhando nos seus olhos, que me dão a sensação de que estou em meu lar.
- hahaha – ela ri e me parece que não há nada mais bonito que aquele sorriso – Ah isso, na verdade eu tenho duas pernas esquerdas para a luta, mas quando me assusto consigo me defender, deve ser a adrenalina.
Nesse momento minha irmã entra no quarto segurando o que parece ser um lindo vestido preto.
- Pronto, achei esse daqui. Acho que vai ficar muito bonito em vc – quando me vê continua andando em direção a Louise e lhe entrega o vestido – o que faz aqui Enzo? Não me leve a mal adoro quando vem me fazer companhia, mas acho que não veio por isso e sim para me roubar minha querida amiga e isso eu não deixar, então dá o fora.
- Nossa pensei que vc me amava mais e sem falar que agora estou com dor, então vc tem que me paparicar maninha – digo com cara de sofrido.
- O QUE ACONTECEU? – minha irmã grita e vem até mim a procura de machucados para justificar a minha dor.
- Sua querida amiga me derrubou no chão quando encostei nela – digo olhado para Louise que está com uma cara de remorso.
- Eu já disse que sinto muito e vc não deveria ter me assustado – diz Louise rápido, na tentativa de defesa – quem em sã consciência toca em outra pessoa quando ela está distraída, pelo amor de Deus, isso não se faz.
Minha irmã começa a gargalhar e não entendo o motivo e aparentemente Louise tampouco.
- Meu Deus, não acredito que estou viva para ver alguém te derrotar. Vou ter que contar isso a todos, queria que aqui tivesse uma câmera para que pudesse ver.
- Eu estava distraído com as questões da posse, só por isso ela conseguiu me derrubar, então nem começa e se isso sair desse quarto haverá consequência para as duas – digo no intuito de assustar mais a minha irmã que Louise, que parecia não dar importância ao assunto.
- Tudo bem, mas eu quero alguns favores meu caro irmão – diz Nivini após o surto de riso – e agora que já sei que a única dor que vc tem é seu ego ferido pode sair do meu quarto que temos que nos trocar – minha irmã olha para Louise e para mim – a não ser que vcs dois tenham assuntos pendentes.
- Não – dizemos os dois ao mesmo tempo.
- Ok, já entendi. Vcs não tem assuntos pendentes, então fora Enzo.
Dou um beijo na cabeça da minha irmã e sai do quarto sem dizer mais nada. Desço para o salão e após cumprimentar algumas pessoas chega a hora da minha posse, meu pai me chama para subir ao palco montado no salão.
- É com enorme prazer e pesar que hoje passarei o cargo de Alfa Supremo para meu filho. Prazer pq agora poderei passar mais tempo com a minha luna e talvez ate tenhamos mais filhos, não é meu amor – meu pai diz e todos riem a não ser eu e minha irmã que estamos com cara de nojo.
- Talvez mais um filhote meu bem – diz minha mãe em voz alta para que a escutem. Minha mãe é uma linda mulher, alta, cabelos louros escuros e olhos verdes como esmeraldas, a dona Valda, ela sim fazia jus ao seu nome, ela governava a casa e o coração do meu pai.
- E o pesar é por ter que deixar todas as responsabilidades para Enzo, mas não se enganem, não digo isso por acreditar que ele não está preparado, mas porque sei que a tarefa de governar é árdua e têm caminhos sinuosos. – Vejo agora tristeza em seu olhar. Ele pega uma adaga para cortar a palma de sua mão e após cortar me dá a adaga para que faça o mesmo – eu Alef, passo a ti meu filho o fardo e a honra de guiar a todos até que chegue a sua vez de passar ao teu filho – meu pai diz ao apertar minha mão cortada com a sua.
Percebo que minha vida inteira me preparei para aquele exato momento, para me tonar alfa supremo, mas tenho consciência que ainda falta uma peça para que eu possa ser o líder que todos esperam. Inconscientemente busco por Louise na multidão e a encontro com um sorriso no rosto, como se estivesse orgulhosa de mim. Volto a atenção ao meu pai e digo:
- eu Enzo Leader assumo a responsabilidade de guiar a todos de forma mais sabia possível e prometo por o bem comum acima do meu próprio bem.
Com isso a cerimonia estava finalizada, a partir de agora eu era o supremo. Todos os alfas juraram lealdade a mim e eu não tinha mais vontade de continuar na comemoração, então me dirigi ao meu quarto e lá permaneci ate a minha seguinte, quando todos voltariam para suas casa e eu cumpriria meu papel de líder até que passar esse titulo para meu filho ou filha.
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A filha da lua
Manusia SerigalaApós a guerra, a cada cem anos as sete alcatéias principais se reúnem, para a Tertúlia, pretendendo consagrar novamente a união, que lhes permitiu vencer. A ultima Tertúlia ocorreu quando Louise Blanc era jovem, ainda não preparada para um companhe...