𝐏𝐫𝐨𝐥𝐨𝐠𝐮𝐞

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05/08/2028



O piso de madeira escura dava um contraste com as paredes de tons cremes da sala de estar — quadros estampavam fotografias de uma família feliz — as peças se espalharam pelo corredor largo. No chão, em um tapete felpudo marrom que cobre o piso, sua extremidade ficava debaixo do pé da mesa de vidro retangular; as marcas de dedos pequenos e gordos estavam gravadas na sua extensão.

O dono das marcas desejava animadamente com o giz azul em uma das mãos, na outra, segurava os demais tons de cores, intercalando de tempos em tempos entre elas. Ele desejava presentear o pai, o deixar feliz.

— Papai!

Ele grita.

A criança então se levanta gritando pelo homem, ele agarra o desenho entre os dedos e a empurra contra o peito da camisa. Ele corre pelos corredores amplos da casa, a adrenalina martelava dentro do corpo pequeno. O escritório fica no final do penúltimo corredor, próximo das portas duplas que levam ao jardim de inverno, a porta se encontra entreaberta permitindo que a criança pudesse adentrar sem ser anunciado ou visto previamente.

Ele avista o homem mergulhado entre múltiplas pilhas de papéis na frente do corpo.

— Tudo bem?

O homem de madeixas pretas e ar cansado ergue a cabeça encontrando a pequena figura do filho a poucos metros de si.

— Oh! Chim, está tudo bem — ele sorri gentil, ajeitando a armação dos óculos no rosto para ter uma visão mais clara do primogênito, Park — o que está escondendo?

Perguntou apontando para Jimin que sorri tímido com o tal desenho contra o tórax da blusa ainda, amassado em algumas partes.

— Oh! Chim, está tudo bem — Sorriu gentil, ajeitando a armação dos óculos escuros no rosto para uma visão melhor do pequeno Park — O que está escondendo? — Perguntou apontando, o garoto sorriu tímido com tal desenho no tórax, quase o amassando.

— Eu bem... desenhei a casa do lago papai! Busan! — Jimin se aproximou com um sorriso gigante nos lábios ao entregar o feito — Gostou?

Jimin se lembrava perfeitamente da casa de verão em Busan, Seul era legal, mas a casa no logo era seu lugar mágico onde passava os dias colado com sua mãe. O pier era rodeado por grandes árvores.

— Olha, filho... — Começou ainda olhando o desenho, logo soltou um longo suspiro — Eu... amei! Está cada dia melhor! — Afogou os dedos entre os fios do filho.

Jimin reclamou trocando o sorriso pelo bico grande pela brincadeira do homem.

— Você me assustou!

— Mil perdões! — Gargalhou vendo a cara emburrada dele — Que tal mostrar para o seu amigo? Vi que a família Jung retornou hoje.

Ao ouvir a frase, o bico se desfez tão rápido quanto surgiu, os olhinhos brilharam com a notícia. Ding só conseguiu ver o menino de estatura baixa sumir pela porta e então correu com a obra em mãos, deixando a entrada aberta. Riu com a reação afobada do menor.

O soar do telefone ecoou o trazendo a realidade ao escritório rústico, o som estridente invadiu seus sentidos, puxou o ar entre os dentes ao pegar a pea e então atender.

A voz surgiu dura.

— Sim, está tudo pronto.

As mãos correram pela mesa até duas fichas com fotos anexadas. A ligação foi rápida e direta.

— Sim...é pelo bem de todos. — Ambas as fichas foram deixadas de lado.

A primeira continha as iniciais gravadas no topo da folha 'JHS" ao lado da foto de um garoto de fios pretos como a noite, pele amendoada, trajava uma camisa branca com pequenos detalhes em verde na gola U, aparentava ter no máximo dez, o segundo documento seguia o padrão da anterior, as siglas "PJM" no topo, o garoto de bochechas rechonchudas levemente rosadas, prendia um sorriso entre os lábios rubros e cheios, fios castanhos claros como mel contrastava com a pele alfa e a blusa de listras azuis, possivelmente no auge dos dez anos.

O Park mais velho guardou os documentos na pasta de couro escuro enquanto se levantava da cadeira estofada, mãos trêmulas ao selar a papelada, respirou fundo deixando a sala com o objeto importante em mãos.

Ding pode ouvir as risadas altas, Jimin junto do vizinho, Hoseok.

Não iria desistir agora. Era tarde demais

"É para um bem maior e sempre será" Pensou olhando de relance as crianças no quintal aberto pela janela ampla.  

Year 2326Onde histórias criam vida. Descubra agora