A essência do teu amor

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Escrevo estas palavras desesperada, há dois anos que te vi partir num comboio com destino à guerra, aí não imaginava que chegaria a este ponto de desespero e incerteza.
A cada dia que passa pergunto-me com mais frequência será que partiste para a próxima grande aventura?
De noite, sonho que estou de novo nos teus braços, esses braços que me protegiam do mundo e que me garantiam o lugar mais pacífico. De dia, vejo-te em miragens com o teu cabelo desgrenhado e o sorriso terno.
Vejo-me assaltada pela mágoa por me teres deixado sozinha para partires para a tua morte. Por que não me levaste contigo? Seria melhor do que esta triste existência a que estou fadada, sem luz e cor, apenas uma escuridão opressora que faz questão de me relembrar que tu já não estás aqui para me protegeres.
Encontro algum alívio da escuridão nos momentos que em que te escrevo com a esperança que tu a recebas e que voltes para mim mas, depois, o encanto que a tua memória me provoca é quebrado e volta, outra vez, a sensação opressora.
Quando não penso em ti, penso em todas as outras mulheres que se despediram dos maridos e amantes como eu , com um beijo apressado e uma promessa que eles voltavam depressa e bem. Apercebi-me , com grande amargura, que a guerra me tirou a felicidade, não só a mim mas a milhares de outras mulheres que esperam a chegada dos maridos e amantes (que muitas vezes não chegam).
Eu continuo à espera de ti, esperarei para sempre porque quando partiste levaste contigo a minha alma e coração, para os voltar a ter e conseguir sossego nesta criatura torturada e incompleta tenho que te voltar a encontrar, a beijar-te, a abraçar-te.
Talvez, um dia, muito mais tarde encontre algo ou alguém que possa imitar o que senti por ti, que me possa dar uma ligeira forma de sossego, que me possa dar um novo coração e alma, mas, claro nunca se comparará a ti.
Estou a começar a aceitar a ideia de tu teres partido, de eu ser um ser incompleto e desesperado.
Espero que onde estejas, penses em mim e guardes o meu coração e alma junto aos teus, pois sei que aí eles serão eternamente felizes.
Mais tarde, juntar-me-ei a ti na próxima grande aventura, mas até lá continuarei aqui nesta simples existência a que fui condenada.

Até breve, meu eterno amor,
A rapariga que ficou à tua espera na estação de comboios

Cartas de amor nunca escritasOnde histórias criam vida. Descubra agora