Os destinos são histórias imensamente esperadas, que se traçam de formas sutis. É preciso paciência e coragem para vê-los sendo tecidos.
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DEPOIS DO EPISÓDIO no vilarejo de Ágapi, a família Drakon empacotou suas coisas e se despediu de um ou outro amigo que haviam feito ali. Para a saída repentina, deram a desculpa de que precisavam ir cuidar de um parente que estava padecendo de uma doença desconhecida em outro reino. Ficou visível no olhar de todos que era com imenso pesar que partiam da casa que reformaram entre risos e resmungos de cansaço.
Alexis foi a última a sair, o olhar passeando por cada tijolo e móvel que formavam um pedaço daquele espaço. Quando chegaram ali, seus pais tinham prometido a ela que aquela seria a última mudança. Mas, como já imaginava, não fora.
Durante as cinco horas de percurso até o novo reino, deitada na parte de trás da carroça, a jovem observou o céu estrelado e imaginou quantas vezes mais teria que passar por isso. Seus pensamentos estavam tão bagunçados que pareciam fazer parte daquela imensidão. De dia, eram apenas pontos escondidos dentro dela, mas saltavam aos olhos quando o silêncio e a escuridão tomavam conta do mundo, tal qual as estrelas.
As pálpebras se fecharam, e ela aproveitou o vento fresco da noite e sentiu o cansaço se espalhando dentro de si. O sono correndo pelo corpo. O corpo parado, inerte.
Sentiu a irmã se mexer, as pernas dela bateram na sua perna direita quando a pequena Lamía se curvou de frio. Alexis abriu os olhos, sorriu para a irmã e puxou um cobertor que estava ao seu lado, jogando-o sobre a criança. Antes de virar para o lado e dormir, a jovem ainda beijou a testa da irmã.
*
Já era de tarde quando chegaram no vilarejo Kýpella, no Norte de Skotábi, e passaram pelas ruas de tons escuros sem chamar atenção. O vilarejo estava alvoroçado demais com um evento local para ter tempo de notar que uma família ia em direção a Floresta Luzir.
Havia gente dançando; vestes escuras balançando de um lado para o outro; olhares refletindo felicidade; canções que saltavam das suas bocas para exaltavar o guardiã Lucizeres, o deus que os stokabianos acreditavam protegê-los mais do que aos outros.
A pequena Lamía sorria, tentando acompanhar as músicas e errando a pronúncia da maioria das palavras.
Alexis observava as pessoas. Seus cabelos brancos permaneciam escondidos por um capuz que se fechava no pescoço. Diferente da irmã, ela cantarolava as canções corretamente.A carroça não demorou a sair dos limites do vilarejo e chegar na entrada da Floresta. Adentraram o caminho com rapidez e logo estavam em frente a uma casa de pequeno porte toda cercada de árvores, com apenas a frente livre dos troncos, além de pequenas flores rosas adornando a entrada.
— Era a casa de uma antiga amiga. Ela amava rosas. — A mãe murmurou quando viu o sorriso da filha mais velha ao ver as flores. Alexis olhou para Cynthia. Seus olhos sorriam também, mas sua mente se perguntava como os pais tinham tantos amigos em tantos reinos diferentes. Balançou a cabeça, voltando sua atenção para casa.
— São bem bonitas.
E a conversa morreu. Alexis foi ajudar o pai a tirar as poucas coisas que trouxeram, e entraram na casa, com uma Lamía agora contente, acreditando que aquela seria a última mudança.
"Crianças acreditam mesmo em contos encantados", Alexis pensou, colocando no chão de madeira a única mala que trazia. Fisicamente, ela só possuía algumas roupas e livros, mas emocionalmente, haviam mil e uma perguntas sem respostas. E nem sabia se um dia as teria. Duvidava muito disso. Muito mais do que temia ser uma corrompida.
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🌷Xióvi🌷 - A lenda das que se perderam (EM ANDAMENTO)
خيال (فانتازيا)~ Postagens as quintas e, eventualmente, as sextas. ~ ~ OBRA DIVIDIDA EM FASES, TENDO ALGUNS CAPÍTULOS DIVIDIDOS TAMBÉM. ~ Alexis cresceu ouvindo as antigas lendas nkrianas serem narradas pelos pais. Quando criança, costumava imaginar-se como as Tri...