"A liberdade é algo que você deveria ter desde o seu nascer, se não a tem, conquista-a."
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O CASTELO DE SKOTÁBI tinha algo peculiar. Construído em um dos solos mais escuros de Nkri, não importava qual pigmento mágico fosse colocado em suas paredes, elas sempre se tornavam foscas ao amanhecer. Parecia que precisavam se esconder dos raios solares, impedindo-os de decifrar segredos que nem elas tinham autorização para saber.
Os moradores de Nkri, os que já haviam tido o privilégio de andar pelos corredores da construção, espalhavam boatos de que havia vida naquele barro mágico. Alguns, os mais audaciosos, até diziam que já ouviram vozes pedindo por libertação. Eles emendavam, dramáticos, recitando um trecho de um poema antigo de algum sábio esquecido:
"Já escutou o choro das paredes?
Tinha alguém pedindo por socorro.
Baixo, triste, acima de tudo, verdadeiro."
Isso, claro, colocava medo nas crianças ingênuas.
Era certo que a realeza skotabiana não tinha sido a linhagem mais nobre ou a mais pura do continente, mas os anciões duvidavam que alguma alma perdida estivesse presa ali.
"Boatos são apenas boatos." Era o que conselho de Stokábi afirmava ao ser questionado por algum monarca de outro reinado.
Enquanto observava o quadro da família real, Thais pensava que os deuses não deveriam gostar daquilo. Boatos. Não era harmonioso que as famílias reais buscassem defeitos umas nas outras.
"Para a guerra, basta um sopro, para a paz, é preciso um furacão. E nem sempre ele é suficiente." Sua professora Sophía dissera enquanto estudavam sobre a única verdadeira guerra que assolara a terra cinza. "Às vezes, criança, parece que as pessoas precisam ver mais sangue nkriano no chão para entender que somos todos iguais."
Era com pesar que Thais concordava com ela. Não era à toa que sua mestra tinha um nome que significava sabedoria.
— É encantador observar a linhagem de Skotábi em toda a sua plenitude, não acha? — Fora justamente Sophía que sussurrou, aproximando-se de Thais. A jovem olhou para o lado, encarando a sábia e assentindo. — Como se sente em saber que logo irá fazer parte da realeza de Skotábi? — A mulher sorriu, tentando passar segurança. Não deveria ser fácil não ter escolha própria. Ela imaginava como Thais se sentia sobre isso, mas sabia que a jovem não podia expor seus verdadeiros pensamentos. As paredes até poderia não terem almas presas, mas tinha ouvidos, e não seria agradável ter que se explicar ao conselho real.
— Será uma honra, senhora. Além do mais, foi para isso que eu nasci, não é mesmo? O que mais eu poderia pedir aos deuses?
Havia um misto de tristeza e lealdade no tom da discípula de Sophía. Para ela, seria realmente uma honra fazer parte da realeza do segundo reino, só não diria que era fácil não poder opinar sobre sua própria vida. Se fosse pelo seu desejo, já estaria no ateneu da guarda, instruindo-se para defender o reino com a espada que escondia embaixo da cama, a mesma que ganhara de seu tio, general de Skotábi e único do reino que sabia do anseio da jovem em guerrear. Que seus pais não sonhassem que a ela ansiava por batalhar. Aquele era um desejo que morreria logo. Iria desaparecer diante do sacerdote – ao menos, esperava que fosse assim.
Thais era filha mais nova de um casal de sacerdotes, por isso havia crescido em meio a escritos sagrados e duas irmãs tão leais às escrituras que chegavam a assustar a jovem. Se não houvesse sido ela a destinada, se tivesse sido uma das suas irmãs a nascer com a marca, tudo seria tão diferente...
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🌷Xióvi🌷 - A lenda das que se perderam (EM ANDAMENTO)
Fantasi~ Postagens as quintas e, eventualmente, as sextas. ~ ~ OBRA DIVIDIDA EM FASES, TENDO ALGUNS CAPÍTULOS DIVIDIDOS TAMBÉM. ~ Alexis cresceu ouvindo as antigas lendas nkrianas serem narradas pelos pais. Quando criança, costumava imaginar-se como as Tri...