04. Aquele da sensação reciproca

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Rachel arregala seus olhos por um pensamento incerto, não sabe ao certo por que Jensen ficou tão fechado com a foto, mas uma hipótese quase impossível acende em sua mente, e todas as pequenas esperanças de seu corpo se juntam para mantê-la acesa.

Jensen ainda olhava as fotos, via varias com Will, seu olhar as vezes é direcionado a garota e depois para as fotos, ninguém sabe ao certo o que se passa na cabeça dele, ninguém sabe o motivo daquela sua expressão fechada.

— Will é meu amigo de infância. — Ela comenta, Jensen a olha atento, como se pedisse mais informações. — Ele... É meu melhor amigo. — Ela reprime os lábios, Jensen cerra a mandíbula e coloca a moldura em cima da cômoda, seu olhar está frio, ele está frio, o porquê? Ninguém sabe ao certo, Jensen parece menos irritado que antes. Rachel percebe a inquietação de Ackles, mas sente medo de dizer algo que o deixe mais instável. O silêncio que está se formando naquela sala está começando a deixar os dois desconfortáveis. Jensen pensa em ir embora, mas sabe que se ir não a verá novamente essa semana e isso que não é uma coisa fácil de lidar, não depois de ter aquela pequena conversa das "bolhas".

— Jensen. — Ela o chama apenas para quebrar o silêncio, ele a olha pedindo algum assunto para destruir esse gelo. — Quando vamos ter nossa aula... Sobre os olhares? — Ela molha os lábios abraçando a barriga de Tom, que agora brinca com um bonequinho do Homem-De-Ferro.

— Sábado? — Ele propõe, uma vaga frase de sua mãe passa em sua mente naquele momento.

"Você está de castigo, ouviu? CAS-TI-GO"

— Não vai dar. — Ela rola os olhos e ele franze o cenho formando-se um pequeno V entre sua sobrancelhas. Rachel se contorce por dentro pedindo para que pare com isso.

— Por quê? — Ele caminha até a cadeira cheia de roupas, sua intenção era sentar, mas para no instante em que iria sentar, está muito bagunçado e isso o desconforta em tantos níveis.

— Porque eu estou de castigo... — Ela sussurra tão baixo que quase não pôde ouvir a própria voz, Jensen fita o rosto envergonhado da garota. Sua vontade é de rir, há tantos tons de vermelho em seu rosto, por todo ele.

— Entendo. — Ele deixa escapar a ironia em sua voz, a garota se sente ainda mais envergonhada.

— Você tem quantos anos? — Ela pergunta aleatoriamente, Jensen se afasta da cadeira indo até um banquinho perto da cômoda, ele se senta e apoia seus cotovelos nos joelhos encarando a jovem.

— 30. — Ele cerra os olhos vendo o rosto vermelho da jovem empalidecer. As esperanças de Rachel deixam as luzes mais fracas, elas vão se desintegrando as poucos. — Presumo que tenha 17. — Ele chuta e acerta, Jensen sempre foi abençoado com esse dom maravilhoso de saber ler o rosto das pessoas, de saber o que elas pensam e o que escondem.

— Você é casado? — Ela sussurra desviando seu olhar para Thomas que por minutos de desatenção dormia como um anjo.

A testa de Jensen se enruga, ele contenta um sorriso. Por que diabos ela quer saber disso? Ele pensa, talvez seja um sentimento mútuo...

— Não, mas já fui. — Ele responde analisando suas ações, Jensen tem uma certa dificuldade em decifrar o que ela está sentindo, ela é confusa, ela é bagunçada, ela o confunde. — E você? — Ele pergunta, quer saber se essa garota namora alguém.

— Se eu sou casada? — Ela sorri olhando para Jensen confusa, sua expressão não muda, ele ainda a encara como se fosse invadi-la.

— Se tem namorado. — Ele corrige a frase esclarecendo-a, ela para de rir e fica seria. Lembrasse de Mike, seu ex namorado à tão pouco tempo. Ela se recusa a contar a Jensen, tenta pensar em algo o mais rápido possível para não deixá-lo desconfiado.

— Uma vez, na sexta série. — Ela mente. Já teve vários namorados, mas não quer contar para ele, não ainda.

— Uhum. — Ele resmunga se levantando. — Sabe... — Caminha até a garota sentando-se ao seu lado. — Aquela conversa que tivemos sobre as "bolhas". — Jensen faz aspas invisíveis. — Eu não estava brincando. — Ele a olha sério.

Sua diferença de idade é tão grande quanto à vontade de Rachel o beija-lo agora. Ambos sabem que é errado, ambos sabem que estão indo para o lado dos espinhos, mas eles não conseguem parar de seguir a trilha vermelha que dá acesso ao coração.

— Eu sei que não estava. — Ela sussurra. Rachel aperta o lençol encarando os lábios de Jensen se contraírem e formarem uma linha reta.

— Precisamos parar. — Ele murmura. Não sabe exatamente o que, mas precisa cortar essa pequena intimidade de olhares que um tem com o outro.

— Parar com o quê? — Rachel sabe do que Jensen fala, mas quer continuar vê-lo mexer seus lábios tão bonitos e provavelmente macios.

— Parar com esse... Esse... — Ele expira o ar pelas narinas, Rachel molha os lábios e Jensen morde o seu inferior. Ele sabe o efeito que faz nas mulheres quando umedece seus lábios, mas não sabia que um dia o feitiço iria virar contra o feiticeiro. — Você entendeu. — Ele respira, descola seus lábios fitando os olhos cinzas da jovem.

Ele quer tocar em seu rosto, quer acariciar sua pele branca , que agora está rosada e incrivelmente linda, sua mão coça. Rachel tem seu sentimento mútuo, a barba rala e feita por Jensen a deixam com vontade de morder o maxilar do homem. Dentre todos os seus namorados, nunca teve com um deles um desejo tão... quente.

— Preciso ir. — Ele corta aquele clima tão apreciado pela jovem, uma decepção eminente se estala dentro do corpo dela, seu olhar triste não deixa de ser notado pelo loiro, mas ele realmente precisa ir antes que faça alguma besteira da qual se arrependa.

— Tudo bem. — Ela se vira, pega Tom nos braços ainda dormindo e pede a Jensen que a acompanhe até o quarto do bebê. Jensen e Rachel descem as escadas e ela o leva até a saída.

— Até semana que vem, Professor Ackles. — Ela balbucia encostada na porta aberta, Jensen molha os lábios. Ele não quer ir embora, mas ela não sabe disso, ela ainda é inexperiente nessa área de "ler as pessoas".

— Até, Srta. Green. — Ele se vira para ir embora. Se Rachel tivesse um pouco mais de coragem, seguraria seu braço e não o deixaria ir, mas não quer transparecer tanto desespero, ele pode não sentir o mesmo e quem sairia na pior na história seria ela. A morena vê Jensen entrar em seu carro e, por mais que ela não saiba Jensen também a olha por trás do vidro filmado.

Ele pensa na hipótese de ter ferido a jovem, mas sabe que seria bem pior se tivesse feito alguma coisa. Sua consciência diz estar fazendo o certo, mas seu coração grita por outra coisa. Liga seu carro e parte para sua casa, Jensen vai voltar a sua rotina, sua rotina entediante e chata de todos os dias, normalmente Jensen está em sua academia essa hora, mas desistiu para ir buscar seu celular. Ele não é tão importante quanto diz ser, ele apenas queria vê-la novamente. Gosta de ter seu olhar sobre si, o analisando, se sente tão bem em saber que é o centro da atenção da jovem, mas essa sensação tão boa precisa ser rompida, não se sente assim a anos desde que sua esposa morreu, mas não é por simples desespero e falta de atenção que vai fazê-lo cometer tal crime.

(...)

São oito da manhã em Sioux Falls, Rachel tende ir à escola daqui a uma hora, normalmente essa hora está no seu sétimo sono tão profundo quanto o mar aberto, mas esse dia não, ela não dormiu direito, e sabe o que, ou melhor, quem está fazendo isso com ela. Precisa dormir, tem escola daqui a pouco, mas não consegue, porque a única coisa que se passa em sua mente é Jensen e como ele deve estar agora, o que está fazendo ou como está vestido. Seu pensamento a atormenta, milhões de pensamentos pairam sobre ela, sua mente está tão bagunçada quanto sua casa, há duas bolsas escuras sobre seus olhos, sua pele está mais pálida essa manhã, seus músculos doem por conta da quantidade de tempo que ficou na mesma posição, compondo uma canção da qual todos os seus sentimentos estão expressados num papel azul.

My peace by your sideOnde histórias criam vida. Descubra agora