ACOTAR: ENIGMA - AMOR

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O salão do trono estava lotado. Féericos e Grão-Feéricos de todas as cortes - incluindo todos os Grão-Senhores - se amontoavam ali, imaginando se Feyre conseguiria completar o último desafio e se sairia viva.

Depois de Feyre ter sujado as mãos com sangue feérico inocente sua alma foi corrompida. A ligação que o laço oferecia a ambos me permitia sentir junto com ela seus sentimentos e emoções mais profundas, os mais audíveis e gritantes. Ela estava quebrada e tentava se enganar de que a vida de três feéricos fora perdida pela possibilidade de um futuro sem Amarantha para Prythian.

Assim que sua lâmina perfurou a carne de Tamlin, seu osso se partindo ecoou pelo salão. Todos ouviram. Eu sabia que ele não poderia morrer. Bom, pelo menos não daquela forma. Quando Feyre tirou a faca, a ponta estava dobrada para dentro, quebrada, retorcida. Ao pé da plataforma e observando tudo, não pude deixar de exibir um largo sorriso. Amarantha se levantou, chocada com a coragem da humana que subestimou tanto. Os feéricos e Grão-Feéricos murmuravam entre si.

- Ela venceu - disse alguém na multidão.

- Liberte-os - o outro disse.

A tirana estava pálida, sua pele de alabastro conseguira ficar ainda mais branca. O rosto contorcido de ódio. Ela estava totalmente descrente da vitória de Feyre.

- Vou libertá-los quando achar que devo. Feyre não especificou quando eu precisaria libertá-los, apenas que precisaria. Em algum momento. Talvez quando você estiver morta - terminou ela, um sorriso raivoso em seu rosto se formou - Presumiu que quando falei de liberdade instantânea com relação ao enigma, ela se aplicava às tarefas também, não foi? Humana tola e burra.

Amarantha descia as escadas, ódio emanava dela.

- Mas você. Você. Eu vou matar você. - ela sibilou para a humana. Eu jamais poderia permitir.

- Feyre! - gritei assim que Amarantha lançou sua magia em Feyre, dando um clarão tão repentino quanto um relâmpago na sala do trono, causando-lhe uma dor lancinante e ela caiu no chão.

- Admita que não o ama de verdade, e vou poupá-la. - Amarantha dizia e caminhava até Feyre, o desespero controlador tomou conta de sua voz - Admita que é um pedaço de lixo humano covarde, mentiroso e inconstante.

Ela se debatia no chão, era incapaz de gritar perante a dor que a cegava. Estava sendo destruída de dentro para fora.

- Feyre! - rugi novamente. Feyre havia reconhecido minha voz e parte de meu coração se aqueceu. Tudo que ela sentia era intenso demais naquele momento, intenso demais para que pudesse passar desapercebido por mim e pelo laço que nos unia.

- Acha que é digna dele? Um Grão-Senhor? Acha que merece qualquer coisa, humana? - e, depois da fala tempestuosa de Amarantha, o som das costelas de Feyre se quebrando uma a uma enquanto ela se torcia no chão, me desnorteou.

Gritei seu nome novamente. E de novo. E de novo. O salão virara uma confusão de vozes e acontecimentos, tudo muito rápido para que eu pudesse esperar. Quando vi, estava agachado perto de Tamlin, então, peguei a adaga que Feyre largou ao seu lado. Todo o ódio por Amarantha que esteve guardado durante 49 anos me consumiu ao ouvi-la chutando as costelas já quebradas de Feyre repetidamente. O som de seu choro, a dor que ela sentia, essa víbora iria sentir na pele tudo isso dez vezes pior.

Disparei para Amarantha, ágil da forma como as sombras me ajudavam ser, a adaga de freixo estava apontada para a garganta dela, mas num movimento rápido, ela me atirou para longe numa parede de luz branca sem sequer parecer incomodada. Me levantei novamente partindo pra cima e me choquei com o escudo invisível que Amarantha ergueu em volta de si.

- Sua imundície traidora, você é tão ruim quanto essas bestas humanas. - ela fervilhava em ódio. Minhas garras que raramente eram vistas por alguém foram empurradas para dentro de minha pele à força, deixando um rastro de sangue. Xinguei baixo. - Você estava planejando isso esse tempo todo!

A magia de Amarantha me atirou pelos ares e me golpeou de novo, dessa vez com tanta força que minha cabeça se chocou contra as pedras e, graças a tontura, a faca que estava em minhas mãos caiu de meus dedos abertos. Ela me acertou novamente, e o mármore vermelho onde bati se rachou, as rachaduras trilhavam um caminho até Feyre. Amarantha, tomada pela cegueira que só a raiva proporcionava, me golpeou de novo. E de novo. Eu gemi. Sangue escorria de meu nariz e todos os ossos de meu corpo doíam, alguns quiçá estavam quebrados.

- Pare - ouvi Feyre dizer, ainda que baixo - Por favor.

Enquanto eu tentava me levantar com dificuldade, meus braços cederam e meu olhar encontrou o de Feyre. Algo aconteceu. A ligação entre nós se intensificou, tudo ficou mil vezes mais forte. Ela... é minha parceira. E então, Feyre estava na minha mente. Compartilhávamos a mesma visão. Visão esta que, era ela própria estirada no chão partida, sangrando e chorando. No mesmo lampejo no qual ela entrou, saiu. Amarantha concentrou sua atenção novamente em Feyre.

- Pare? Pare? Não finja que se importa, humana. - Amarantha cantolorou e dobrou os dedos, fazendo com que a coluna de Feyre se estirasse quase ao ponto de quebrar. Eu gritei novamente.

Amarantha falava e Feyre estava inerte. Viva, porém inerte, presa nos próprios pensamentos. Presa nas lembranças de sua vida humana, desde quando caçou pela primeira vez até agora. Amarantha estava sendo engolida pelo desespero, pela sede de ganhar. Ela perdera o controle da situação, implorava para que Feyre admitisse algo que, para ela, não era verdade. Amarantha implorava por uma mentira para satisfazer seu ego frágil.

Ela ordenou que Feyre admitisse pelo menos mais três vezes. Tamlin, com a voz entrecortada, pediu para que Amarantha parasse, seu sangue ainda pingava no chão enquanto clamava pela misericórdia dela. Mesmo assim, ele foi ignorado. Feyre estava disposta a morrer por Tamlin. Parceira. Ela era minha parceira. E minha parceira estava disposta a sofrer a pior das torturas em nome dele, e esse desgraçado covarde nem sequer tentara salvá-la direito.

- Diga sua besta vil! - Amarantha sibilou para Feyre.

- Amor - Feyre sussurrou com a boca cheia de sangue. Seu olha estava compenetrado em seu grandissíssimo Grão-Senhor - A resposta ao enigma... - ela se engasgou no próprio sangue - é... amor.

E então, crec. Tudo ao meu redor parou. O som mais aterrorizante que já ouvi na vida. A coluna de Feyre se partiu e, de repente, o corpo frágil de minha dádiva do Caldeirão jazia bem à minha frente. Um pesar se atrelou em meu peito, um peso que jamais senti antes. Uma dor emocional tão profunda que chegou a ser física, palpável. Meu coração doía.

Feyre estava morta.

A Court of a Dark PrinceOnde histórias criam vida. Descubra agora