Capítulo 1

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                        Betina ON

A última briga havia sido o estopim para a minha loucura de deixar o interior e seguir minha vida na capital. Minha mãe não queria ser ajudada, de tudo e mais um pouco eu já havia feito para tirá-la das garras do meu padrasto. Eu não podia passar minha vida inteira dentro daquela casa, fingindo que não sei que meu padrasto trata minha mãe pior do lixo. Por isso nos últimos dois anos do ensino médio eu estudei muito para passar no ENEM e trabalhei mais ainda juntando cada centavo para me manter pelo menos por alguns meses na capital. Meu plano era passar no vestibular, conseguir uma república e começar a trabalhar por lá. Se daria certo eu não sabia, mas de todas as formas eu beijei o rosto da minha vó, o da minha mãe, respirei fundo para não socar a cara do meu padrasto, peguei minhas malas e entrei no UBER que me deixou na rodoviária. Para a minha família, digo minha mãe e a minha vó apenas, eu estava indo ficar em uma casa só para garotas, mas todas que eu procurei ou a mensalidade era cara demais ou estava lotada ou a "responsável" pela casa fez pouca questão esnobando mesmo. Enfim, o ano já havia virado, eu já tinha que ir até a faculdade pra resolver a matrícula, minha mãe estava me cobrando e eis que me apareceu a postagem no Facebook na página de universitários da Faculdade de uma república próxima a ela ao ponto de dar para ir a pé, com o preço acessível e pelas fotos toda jeitosinha. Rapidamente eu já cliquei para ler mais, porém me decepcionei ao ver a última linha "APENAS PARA HOMENS". Doeu, claro que doeu, mas em um lapso de doideira, sabendo que eu já estava mais do que em cima da hora, decidi arriscar e ver no que dava. Fiz outro Whatsapp e usando fotos do meu irmão mais velho, também seu nome, eu me passei por homem enquanto conversava com o responsável pela república. Em menos de dois dias de conversa, ele já estava me enviando a cópia do contrato da casa, marcando de ir me buscar na rodoviária e me colocando no grupo que ele tinha com os outros moradores da casa. Quando a euforia passou, eu já estava dentro do ônibus e chegando na capital.

Betina: Meu Deus, eu sou louca!

  Minha mão tremia de nervoso. Coloquei meu rosto entre as mãos, abaixei a cabeça e comecei a rezar para não tomar no cu com os meninos. Eu ia caprichar no meu jogo de palavra, chorar, espernear, tudo o que estivesse ao meu alcance. Meu celular vibrou, percebi que era do grupo dos meninos da república e eu fui lá olhar o que eles estavam falando. 

  TALARICOS ✉ 

Miguel: E ai , já está chegando? 

Beto: Sim cara, acredito que em uns 15 minutos chego a rodoviária.
Will: Isso ai fiel 

Noah: Aquela recepção pra tu (Foto de cima)

Beto: Agora sim eu vi vantagem 😂 

Erick: Brota logo, bb 

Miguel: Essa noite é pra travarrrr 

Eu vou é travar de tanto nervoso, isso sim. Enfiei o celular dentro da minha bolsa, perguntei a moça do lado pela milésima vez se já estávamos chegando e ela respondeu que sim. Pela janela eu podia ver a cidade, linda demais, eu já estive aqui uma vez quando tentei dar uma chance para o meu pai e para o meu irmão, não sou boa com segundas chances, mas é aquele ditado né? Vamos fazer o que, irmãos. De 0 a 10 eu estava fudida demais, mas eu estava arriscando tudo na bondade humana.    

go after your dreamsWhere stories live. Discover now