Recomeço

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Sua cabeça doía.

Sentia uma enorme tontura, e com um olhar curioso olhou ao redor.

Era um quarto todo de madeira, extremamente organizado e delicado.

Olhando mais, reparou que havia algumas pinturas e roupas penduradas numa espécie de guarda roupa.

Ainda um pouco assustada, tentou se levantar. Caindo logo em seguida da cama, com dores em seu abdômen.

Sem entender, levantou a blusa de tom bege e ali naquele lugar escondido, reparou seus machucados e queimaduras.

Tocando o resto do corpo, reparou que seus braços e um lado de seu rosto estava machucado com pequenas queimaduras, mas que estavam arder como a brasa de uma fogueira.

Olhando atenta, escutou o que deveria ser passos em direção a porta em frente de si.

Logo, ouviu o rangido da porta, assim comprovando a teoria que haveria alguém vindo.

Olhando atentamente, viu uma mulher elegante tentar equilibrar o que era uma refeição. A moça estava tão atenta com a comida, que não havia reparado que sua visitante estava a encarar cada parte de si.

Reparando na mulher a sua frente, notou seus cabelos brancos e olhos azuis, um azul que nunca havia visto em ninguém.

Fazendo dela se lembrar de algo que amava.

"-Neve" - a menina soltou, assustando a mulher que colocava a refeição sobre uma espécie de mesa, que logo após de soltar a bandeja, me virou para a garota.

"-Oh! Parece, não?" - perguntou simpática, enquanto mexia em seus cabelos - "-Que bom que acordaste. Esta a se sentir melhor?" - perguntou logo em seguida, se sentando sobre a ponta da cama.

Fazendo a garota se afastar o máximo possível e sem mais para onde ir, se agarrou a parede que estava atrás de si.

A morena estava completamente assustada.

Não se lembrava de nada e aquela mulher diante de si, mesmo sendo gentil, poderia usar seus ferimentos e condição para a controlar.

Mas então, enquanto encarava diretamente aqueles olhos azuis e se perguntava da onde havia o visto. Se lembrou do garoto que encontrou naquela ilha destruída e em seguida, se lembrou de suas palavras doces.

"-Então, deixei-me lhe ajudar. Prometo que quando estiver lúcida, que quando souber o porque não podes confiar em mim. Lhe deixo partir."

Se perguntava se aquela mulher a sua frente tinha algum parentesco com aquele garoto.

"-Não tenha medo. Não irei fazer nada de mal" - ela disse e se aproximava mais, fazendo que morena se afastasse ainda mais com um sentimento de insegurança. - "-Sei que não se lembra de nada. Meu filho comentou como havia lhe encontrado. Sabe? O garoto de cabelos loiros e olhos estranhos?" - perguntou para a morena e a mesma confirmou com a cabeça.

"-Olhos estranhos..." - a morena repetiu, sem percebeu.

"-Sim. Ele pediu que cuidasse de você. Então, pode confiar em mim. Prometo que não irei lhe machucar." - ela disse, enquanto esticava sua mão para a garota e de olhos fechados esperasse que a mesma lhe retribuisse o toque.

Então, olhando para a mão delicada da mulher, a garota se aproximou aos poucos.

Pegando na mão da mulher, a viu dar um sorriso caloroso.

"-Estou com fome." - disse a garota enquanto ainda segurava a mão da platinada que soltou um leve risada.

"-Sim, imagino." -falou e se soltou levemente da garota, se direcionando para pegar a comida que havia feito com um enorme carinho - "-Espero que goste..." - ela começou, esperando que a mesma completasse com o seu nome, mas a garota nada falou.

Com a cabeça tombada para o lado, representando dúvida, esperou que a mulher a sua frente continuasse a falar.

"- Nada." - disse com um sorriso, a morena deu de ombros e olhou para a comida a sua frente que era um peixe grelhado com um pouco de arroz e entre outros vegetais.

Olhando para o prato, se perguntava se ali, haveria algo que lhe fizesse mal.

"-Pode comer." - ela disse e a garota concordou com a cabeça.

Estava tão cheia de fome, que mesmo se morresse por conta de algum veneno, morreria feliz.

"-Bom" - ela disse com um sorriso, enquanto devorava a comida em sua frente fazendo com que a esposa do chefe risse com isso.

"-Pode comer devagar. Nada vai lhe roubar." - ela disse gentil e a morena se acalmou um pouco, enquanto limpava a boca com as costas da mão.

"-Perdão." - disse quando reparou que já havia comido o suficiente para saciar sua fome. - "-Obrigada"

"-Nada." - ela disse e limpou um parte que estava suja no rosto da garota. - "-Me chamo Elsa, e você?" - perguntou delicada para que não afetasse a menina.

Então, novamente ela fez uma careta e lágrimas queriam sair de seus olhos mas a mesma os segurou.

E novamente soltou aquelas duas palavras que odiava.

"-Não sei!" - disse enquanto cerra os dentes que ódio e tristeza.

"-Não segure." - a mais velha falou, fazendo com que a morena não a entendesse - "- Chore. Sabe? Chorar é um modo de eliminar as tristezas do seu corpo, assim poderá sorrir quando tudo passar."

Então, com um desejo de sorrir novamente, ela chorou.

Chorou por não se lembrar de nada.

Chorou por sua família, se é que tinha alguma.

Chorou por seus amigos, sem saber quem eram.

Chorou por suas memórias esquecidas.

Chorou por suas feridas.

E chorou pelo o seu nome, que a mesma não sabia.

Ainda a chorar, sentiu braços a lhe rodar e um cheiro doce.

"-Vai ficar tudo bem. Nós vamos cuidar  de você, a partir de hoje você será da nossa família." - disse com um sorriso, enquanto havia algumas a lágrimas no canto de seus olhos por ver o desespero daquela garota. Desespero esse que aquela mulher já havia passado a anos atrás.

Se separando da doce mulher, a garota secou suas lágrimas e com um sorriso gentil a olhou.

"-Obrigada, Elsa" - disse calma, ainda sorrindo.

"-Nada, Alysson" - disse sem hesitar, fazendo a morena se perguntar da onde havia vindo esse nome - "-Esse é um dos nomes que eu queria da para minha filha, mas meu marido preferiu outro." - disse como estivesse um tanto decepcionada, mas logo sorriu novamente. - "-Se você quiser, esse pode ser seu nome, enquanto não se lembra."

"-Alysson...Gostei desse nome" -disse fofa - "-A partir de agora, me chamo Alysson" - disse determinada.

Já com outros pensamentos, começou a encarar a perda de suas memórias como um recomeço.

Um recomeço como Alysson, mas como um desejo incontrolável de saber o que lhe passou consigo.

A Princesa dos DragõesOnde histórias criam vida. Descubra agora