Família Feliz

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Sempre gostei de brincar às casinhas, ás mamãs e aos papás. Era a minha brincadeira preferida. E éramos claro assim uma família feliz.

Agora abomino tal brincadeira. É algo que já não existe no meu dicionário do realismo. Famílias felizes é coisa de filme, de sonho, do País das Maravilhas.

Sempre quis ter uma família feliz quando fosse grande. Uma família em que o pai era o amor da minha vida, o meu príncipe encantado; e os meus filhos seriam crianças alegres que tal como eu sonhariam sempre alto demais. Não passou de um sonho, agora quebrado pela realidade de quem não tem uma família feliz.

Julguei em tempos viver no mundo do conto de fadas onde raros eram os problemas e se os haviam eram resolvidos com bom senso e uma boa dose de paciência e, está claro, muito e muito amor.

Agora vivo em algo onde os problemas perduram e nem todos os querem resolver da mesma maneira que os outros. Por vezes torna-se em algo tóxico, algo sufocante que me faz querer desaparecer de vez da face da terra. Nem que seja por um dia, um único dia. Um dia em que eu vivesse no País das Maravilhas, no meu mundo cor-de-rosa.

E então eu clico no play, aumento o volume. Não se ouve nada, nem as lágrimas, nem os pensamentos, nem os gritos.

Só a melodia me preenche, enquanto os trovões ribombam lá fora e os relâmpagos rasgam a tensão de uma discussão.

Quando volto, a tempestade já passara, mansa e sorrateira. O mundo parece ter continuado como se nada se passasse. Tudo se torna num velho pesadelo que nos assombra de vez em vez.

E aquela criança feliz e que sonha alto de mais renasce com uma nova coragem para seguir em frente. Porque no fundo eu ainda vivo num filme, num sonho, no País das Maravilhas.

O Meu Alter EgoWhere stories live. Discover now