Chamei-te cobarde mil vezes na minha cabeça, quando quem o foi mais fui eu. Fui cobarde por nunca ter tido coragem de dizer "olha estou aqui", de não ter demonstrado o quão fundo era o buraco onde me tinha enfiado.
Não há nada que supere a surpresa nas tuas palavras ao saberes o que realmente se passava. Sim, o meu silêncio era um grito de ajuda. Sim, a invisibilidade foi propositada. Sim, eu provoquei a discussão. Sim, nunca mais tocarei no assunto.
Oh, mas porquê? Sabes que falar faz bem, faz com que alivie o aperto que temos no coração e o peso que carregamos no peito.
Eu sei disso tudo, mas nada seria o mesmo. Nada apaga o facto de que de todas as palavras que me disseste nenhuma foi desculpa. Perguntaste-me se estava bem, disseste-me que até tinhas notado mas pensavas que não era nada demais. Nada disso substitui um pedido de desculpas por não teres dito nada mal te apercebeste que algo não estava bem, ou por muito que eu tentasse não teres entendido à primeira, e muito menos por não teres sido aquilo que eu esperava.
A única coisa que me deste foi mais uma razão, mais uma prova de que o certo era acabar com tudo. Quer o tudo fosse amizade, companheirismo, ou mesmo uma paixoneta. Não foi preciso falares dessa vez. Bastou-me olhar nos teus olhos cheios de culpa. Para mim, eles gritavam um desculpa muito mais sincero do que qualquer vez em que os teus lábios pronunciassem a palavra.
Mais uma vez o silêncio falou por si só, mas eu não o aceitei. Recusei-me a aceitar essa culpa que bailavam na tua imensidão de chocolate. Recusei-me porque a confiança esvaiara-se toda até aí.
Ainda hoje sinto o teu desconforto, o teu corpo rígido, o teu não saber o que fazer quando eu estou por perto. Sei que parece que eu sei o que estou a fazer, que estou completamente confortável com toda a situação. Não. Não, estou minimamente à vontade. Não passa tudo de uma farsa. Eu não sei o que fazer, então escondo, ignoro, e evito. Evito o quer que seja, desde quebrar silêncios constrangedores com conversa fiada, fugindo do contacto físico acidental, e principalmente, escapulindo-me dos teus olhos.
E assim, criei esta barreira, esta muralha, que faz com que eu siga com a minha vida sem um obstáculo com o teu nome (que às vezes ainda me incomoda ouvir) ou sem sentir a ausência da tua amizade que um dia foi indispensável.
Não é ódio, nunca foi. É ainda muita empatia, um carinho especial e talvez algo mais do que deveria; todavia tóxica, destruidora, cobarde.
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O Meu Alter Ego
Randomalter ego | s. m. alter ego |é| (locução latina, de alter, altera, alterum, outro + ego, eu) substantivo masculino 1. Outro eu. 2. Pessoa em que se deposita a máxima confiança. Outra pessoa. Outro eu. Talvez o eu verdadeiro, talvez o eu imaginário...