De mansinho

17 1 0
                                    

Tu não chegaste de mansinho cedo numa manhã soalheira ou com pezinhos de lã num corredor vazio.

Não. Tu chegaste que nem um furacão a romper pela madrugada, quebrando o escuro das minhas expectativas. Invadindo o que eu nunca pensei ser nada mais do que território meu.

Mas eu não bloqueei essa intrusão brusca e repentina. Não nego que a estranhei e a receei antes de alinhar nela.

Fez me reconsiderar desejos e planos outrora feitos, em alturas em que nada era o mesmo. Fez me pensar no passado recente que se tornara num futuro tão imprevisível.

Mas o que interessa é que eu mergulhei nesse furacão e deixei me levar pelas correntes fortes do vento da tempestade. Pelo menos por aquela noite.

E o meu espaço foi invadido. E eu gostei, eu efetivamente gostei. O que é de estranhar porque nunca gostei que entrassem no meu mundo sem autorização.

Porém a tempestade apanhou tudo e todos tão de surpresa que as águas acalmaram depressa. Deixando um rasto de novos pensamentos e novas reconsiderações.

Foi como se a tempestade não tivesse ali passado e o sol que hoje brilha sempre ali tivesse estado.

A verdade é que os trovões provocados pelo toque e pela novidade deixaram me sem ar durante algum tempo. Deixaram me sem norte, sem saber o que fazer.

E tu não chegaste de mansinho. Não chegaste ao cair devagar da noite. Mas abandonaste como quem vai de fugida, como quem não quer ser ouvido.

Nessa altura quando o vento amainou e a chuva acalmou, tu escapaste-me pelos dedos frios e duvidosos de se aquilo alguma vez seria a agitação que eu queria.

Agora o sol brilha e tu continuas lá, mas desta vez és mansinho, tão mansinho que nem se dá por ela.

O Meu Alter EgoWhere stories live. Discover now