Capítulo 6

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Um dos oficiais de ciências da USS Siegfried selecionou entre os destroços da base espacial as partes referentes ao armazenamento de dados. As caixas eram estruturas projetadas para suportar explosões, mas ainda assim sempre se perdia alguma coisa. Nelas deveriam estar registrados todos os acontecimentos referentes à estrutura da base, produção e consumo de energia, acionamento de máquinas, taxa de radiação espacial, variações térmicas internas e externas, além do diário do comandante da base. Tais aparelhos eram concebidos de tal forma que registravam informações mesmo durante a destruição completa da base, o que forneceria dados imprescindíveis sobre o que havia ocorrido com a Sat-ômega.

Não foi difícil para o oficial encontrar o que ele queria porque os aparelhos emitiam uma espécie de radiação de alta frequência, facilmente detectável, mesmo em meio a uma nuvem de partículas quarkiônicas.

Ele teletransportou as caixas para uma câmara isolada do laboratório, uma área cujas paredes eram feitas de uma estrutura cristalina de tântalo transparente. Ela era resistente e impedia a passagem de partículas ou emissões eletromagnéticas de média e alta energia.

As caixas eram, na verdade, dois cilindros um tanto quanto retorcidos pela explosão. Não havia neles cabos ou outro tipo de ligação mecânica com o exterior. Todos os dados que eles recebiam para armazenar vinham na forma de ondas subespaciais, emitidas por milhares de sensores instalados na base. Para acessar as informações contidas ali, o oficial de ciências teria que desmontar os aparelhos e fazer a leitura com um instrumento propício.

Havia um braço mecânico dentro da câmara, e ele foi usado para abrir a caixa de dados. Apesar da dificuldade, o oficial conseguiu encontrar o cristal onde as informações estavam armazenadas. Depois de confirmar que os níveis de radiação eram seguros, ele fez o braço trazer a peça transparente até uma janela da câmara. O oficial estendeu a mão para pegá-la, e quando ele sentiu a superfície lisa e extremamente fria do cristal, uma pequena garra mecânica fincou suas pontas afiadas nos dedos dele. O oficial teve um reflexo involuntário de retirar imediatamente a mão. Sem querer, ele trouxe para fora da área de contenção uma espécie de aranha mecânica. Ela estava pendurada no braço robô, pronta para entrar em contato com algum humano daquela nave espacial, injetar nele uma sonda de multiplicação, e assimilar.

Em desespero, o oficial tentou arrancar aquele misto de ser orgânico com máquina de sua mão, mas era inútil tentar. A agulha da aranha mecânica estava enfiada até o pulso do oficial, e a dor de sentir alguma coisa caminhando por dentro de seu braço era terrível. Queimava e enfraquecia. Sua única salvação, ele pensou, era se entregar. No entanto, ele não tinha certeza de que aquele era realmente um pensamento seu. As vozes que ele escutava eram confusas no início, mas depois elas se tornaram claras, nítidas. A dor era irrelevante, e a vida dele até aquele momento havia sido ínfima perto do que acabara de ganhar.

Quando o oficial de ciências se pôs em pé novamente, ele era um Borg a bordo da USS Siegfried.    

STAR TREK: SÉRIE SPIRITUS - Ep. 1 - A Quarta LeiOnde histórias criam vida. Descubra agora