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Ai, gente, não era assim que Melodee havia planejado passar o dia dos namorados. Ela queria matar a saudades dos amigos, mas quem estava morta era ela atrás daquele volante. Tinha pedido por romance, risadas e uma noite incrível, mas estava recebendo dor na coluna e aborrecimento. Não era uma troca justa. O pior era que tudo fora ideia dela, e dava para sentir os olhares de julgamento que vinham dos outros três.

Tinha trabalhado feito uma cachorra no estágio em outro país para conseguir míseros três dias de folga e dinheiro para voltar ao Brasil. O 12 de junho parecia uma data perfeita para um encontro de casais, onde ela poderia segurar na mão do amor da vida dela e ver o sorriso no rosto dos seus melhores amigos. Tinha feito reservas para os quatro num restaurante que parecia ser muito romântico e legal. Havia tido muita sorte! As vagas para o dia dos namorados estavam disponíveis, ela mal acreditou. Tinha visto fotos e lido comentários na internet, o restaurante era tudo de bom! Mas nada disso importava porque eles não iam conseguir chegar lá. Se o carro dela pelo menos tivesse asas... Isso ou um rolo compressor.

Como não havia muito o que fazer — Ela podia dormir e acordar no volante que nada aconteceria — Mel parou para prestar atenção neles. Vista de fora, até que era uma imagem fofinha. Os quatro amigos juntos no fusca pela primeira vez em meses. Arthur tinha desistido de falar e agora mexia no celular, ao lado dela. Os olhos puxados dele acompanhando o feed de alguma rede social. Ela adorava as mãozinhas dele, as unhas sempre cortadinhas. Quando ele passou uma das mãos pelo cabelo liso e com corte bonito, ela foi tomada de amor.

— Eu te amo — Ela disse, sem nem perceber.

Ele ergueu os olhos imediatamente e a fitou, com um sorriso no rosto.

— Você sabe que eu também — Ele respondeu e colocou a mão sobre a dela na marcha. Existia toda uma magia numa mão tocando outra que Mel não sabia explicar. Ela nunca enjoaria daquilo.

***

Era o jeito que ela fazia carinho na mão dele, Arthur pensou. Não, era o sorriso com covinhas! Se bem que talvez fosse a forma que ela brincava com os dedos dele. Ele sabia que Melodee adorava as mãos dele. Arthur amava quando ela encaixava os dedos dela nos dele, gostava também quando ela ia subindo a mão pelo braço dele e brincava com os pelinhos por ali. Ela era muito boa em brincar no braço dele, então com certeza era isso.

Não! Era a voz dela. Ela falava com tanta ternura e carinho. Como tanto carinho cabia numa voz só? Agora Arthur estava confuso se era por causa do lado de dentro ou por causa do lado de fora. Melodee era linda dos dois lados. Vai ver era isso.

Quando ele se inclinou sobre o banco para dar um selinho nela, ficou tentado a acreditar que era o beijo. Ela beijava bem suave, usando os lábios. Às vezes ela ia por cima, às vezes começava por baixo. Não importava por onde começava, porque terminava com ele apaixonado. Era o beijo. Tinha que ser o beijo. Mas aí ela colocou a mão na nuca dele, logo ela que tinha vergonha de beijar na frente das pessoas, e o puxou para mais perto. Eita que aquele selinho virou mais. Beijaram uma vez e Arthur viu o brilho no olhar dela. Tinham tanta saudade pra matar!

Não sabia exatamente o que era que fazia que ele ficasse todo derretido perto de Melodee. Tinha coisas que não se explicavam, Arthur pensou. Ele era muito bom em matemática, mas coração não sabia fazer conta. Melodee era a soma de variáveis que ele não sabia medir, só sentir. O clima naqueles bancos da frente era tão bom!

Então, começou a chover.

Os quatro e o fuscaOnde histórias criam vida. Descubra agora