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Cinquenta metros depois, o amor tinha acabado nos corações novamente e o tédio reinava. Ainda tinham algum tempo para chegar no restaurante, porque Téo quis sair com muita antecedência já prevendo desastres, então estavam sobrevivendo apenas pela fé. Ou isso ou pelo ódio, que era o que também alimentava a galera buzinando do lado de fora. A chuva não estava tão forte, mas era constante o suficiente pra eles serem obrigados a fechar as janelas do fusca roxo.

Arthur tinha tentado puxar uma música, mas ninguém acompanhou. O rádio não funcionava, ele tentou ligar. Quando tentou puxar um Victória-roubou-pão-na-casa-do-João, Téo chutou o banco dele. Quis contar as últimas aventuras dele em Batalhas dos Reinos IV, o jogo de computador favorito dele, mas até Melodee grunhiu. Isso havia sido há quinze minutos.

— Onde vocês se conheceram? — Ele perguntou do nada, olhando para o celular.

— Ai, gente — Mel disse.

— Aff — Téo e Vic completaram.

— Eu e Mel nos conhecemos na escola — Ele continuou, dessa vez ignorando a má vontade alheia — Acho que na aula de... Química?

Silêncio no carro. Buzinas ao fundo.

— Ou foi Física? — Ele continuou — Eu lembro que tinha números.

Educação Física — Mel respondeu.

— Nada disso, Educação Física foi quando a gente conversou pela primeira vez. Mas eu já tinha reparado em você bem antes, no primeiro dia de aula. Eu lembro que eu tava só a Cady de Meninas Malvadas vendo a cabeça do Aaron na frente das equações.

Melodee riu. Arthur prosseguiu.

— Téo e Vic a gente sabe. Se conheceram graças a mim.

— Ainda não acredito que você cadastrou o Téo num site de romance crente — Vic comentou.

— Funcionou, não funcionou?

— Mas foi graças a você uma ova, né? — Téo se meteu no papo — Você marcou encontro meu com uma garota que nem apareceu e por acaso Vic estava lá e achamos que fosse ela.

— Eu estava no lugar errado na hora errada, deveria ter feito que nem essa menina — Vic disse.

— Até hoje a gente não sabe o que houve com ela — Arthur disse, e de repente todos fizeram 1 minuto de silêncio como se a garota tivesse morrido — Ok, há quanto tempo estamos juntos? — Arthur disse, olhando para o celular.

— Humn... Mais de três anos — Mel respondeu.

— Seis meses. Perdemos — Téo disse, rindo, e apertou com carinho a mão de Victória.

— Ah, eu acho que estamos indo muito bem — Victória disse — Quer renovar por mais seis meses?

— Com certeza.

Em segundos, Téo e Victória estavam se beijando no banco de trás e Arthur olhou só para Melodee.

Lá fora, a chuva caía e os carros na pista não tinham intenção alguma de se moverem.

— Quem é mais ciumento, eu ou você?

Mel nem respondeu, só devolveu o olhar para ele.

— Ok, sou eu. Eu passo mal vendo aqueles marmanjos assanhados do seu fã-clube e imaginando você sozinha lá no Canadá — Arthur admitiu.

Melodee tinha apostado numa carreira de cantora antes de ir para outro país estagiar. Mesmo longe do Brasil, tinha conseguido milhares de seguidores em seu canal do Youtube e alguns realmente eram muito assanhados. Mas o ciúme de Arthur com os meninos do Canadá que não existiam era injustificado. Ainda estavam aprendendo a lidar com isso.

— Téo também é o mais ciumento — Vic disse interrompendo a conversa — Deve ser coisa de homem.

— Deve ser coisa de gente feia — Téo disse — Vocês são lindas, a gente fica inseguro.

Você é feio, Téo. Eu sou lindo — Arthur disse.

— Então talvez seja coisa de gente burra — Téo replicou.

— Aí sim — Arthur voltou ao celular — Quem cozinha melhor?

— Isso é um jogo? — Melodee perguntou.

— Desafio dos namorados no Facebook! — Arthur respondeu, mostrando a tela do celular para a namorada e com um sorriso infantil no rosto.

— Téo não frita nem um ovo. É deprimente — Vic disse.

— Mas eu faço um misto quente que você adora!

— Isso não conta como cozinhar — Ela replicou.

— Quem dorme mais? — Arthur perguntou. Agora o jogo estava engrenando e ele estava levando a participação dos amigos como uma conquista pessoal sua.

— Victória. Acorda depois de meio-dia se deixar — Téo disse — Pronto, expus.

— Nossa, é pecado dormir agora? Eu tô cometendo algum crime?

— Quem é mais paciente? — Arthur continuou, rindo da resposta de Vic.

— Quem é menos paciente seria uma pergunta melhor pra gente — Ela continuou.

— Melodee com certeza é mais paciente que eu, vocês viram que até agora ela não buzinou nenhuma vez — Arthur apontou pra namorada no volante.

— Mas tô xingando dentro da minha cabeça — Ela respondeu baixinho, olhando pra fora.

Os três riram. O trânsito até que estava se movendo agora.

— Próxima pergunta: Quem é mais divertido?

— Você — Mel disse — Agora mesmo você arrumou esse desafio enquanto a gente só quer morrer.

— Sempre um prazer entreter vocês — Ele disse, sorrindo.

— Eu também sou o mais divertido — Téo respondeu.

Victória apenas ergueu as sobrancelhas. Melodee primeiro encarou Arthur, que também devolveu o olhar. Ambos viraram para ver a reação de Victória.

— Que foi, gente? — Téo disse.

Foi o suficiente para os três explodirem numa gargalhada gostosa. Arthur praticamente cacarejou no banco da frente, Melodee até buzinou sem querer. Victória não sabia se jogava a cabeça pra trás ou se ria curvada pra frente, porque sua barriga estava doendo de tanta risada.

— Cara, eu tô chorando de rir — Arthur disse com os olhos realmente cheios d'água e Melodee segurou na mão dele pra mostrar a lágrima escorrendo no rosto dela.

— Nossa, vocês são ridículos. Não precisava disso — Téo comentou, revirando os olhos.

Isso fez o ataque de riso histérico durar por mais cinco minutos. Em algum momento, Victória ligou para a casa de Téo e colocou no viva-voz.

— Oi, Liv! Perguntaram aqui quem era mais divertido, Téo ou eu, e ele encheu a boca pra dizer que era ele! Dá pra acreditar?

Liv, a irmã de quase doze anos de Téo, deu praticamente um urro do outro lado da linha.

— Ok, eu já entendi — Téo disse.

— O Téo acha que é divertido porque a gente ri muito dele — Liv explicou — Ai, deixa eu contar pra minha mãe. MÃE, TÉO TÁ DIZENDO PRA TODO MUNDO QUE É DIVERTIDO.

Dava pra ouvir a mãe berrando no fundinho da ligação.

— Obrigada, cunhada — Vic disse — A gente precisava de um parecer profissional.

Assim que a ligação terminou, Téo estava com uma carranca no lugar do rosto, bem putaço mesmo, o que só fazia os outros acharem mais graça.

Os quatro e o fuscaOnde histórias criam vida. Descubra agora