Tentação

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AVISO: esta história retrata o efeito negativo que a religião pode trazer à vida de alguém, assim como mostra que a desconstrução de alguns pensamentos nem sempre vai ser algo fácil, pois cada um é cada um.

Se não gosta desse tipo de história e/ou personagem, nem está disposto(a) a se colocar no lugar dele, não leia.

Caso prossiga... Boa leitura! :)

🥀

Todo meu sangue, suor e lágrimas

Meu corpo, mente e alma

Sei que eles são seus

É um feitiço que irá me punir

Pêssego e creme, mais doce que doces

Bochechas de chocolate e asas de chocolate

Mas suas asas são asas de demônio

Há um "amargo" perto do seu "doce"

~♡~

- Olá, padre Jeon. Gostaria de se confessar primeiro?

Jungkook estremeceu sobre a cadeira.

Contudo, não precisava fitar a parede esburacada e tentar distinguir a silhueta de quem se atrevia a lhe dirigir palavras tão insolentes.

Sempre reconheceria o dono daquela voz de rouquidão peculiar.

Ainda que não a escutasse há anos.

- Kim Taehyung?

O mencionado abafou a risada curta e, naturalmente, sarcástica.

- Se ainda lembra meu nome, devo ter sido muito marcante em sua vida, padre.

Jungkook inspira e expira calmamente, tentando controlar a respiração, cujo compasso já não fazia mais sentido.

Porém, as memórias do passado lhe atingiram em cheio.

Ambos haviam sido amigos durante a adolescência, pois participavam do clube de música da escola, tendo doze e catorze anos, respectivamente, quando se conheceram.

O mais novo vinha de uma família religiosa e, por sempre frequentar uma das paróquias de Daegu, era caçoado pelos colegas, sendo Taehyung um dos poucos que o defendia, alegando que "aqueles babacas" (palavras do próprio) deveriam conhecê-lo melhor antes de julgar o menino por causa de onde ia ou deixava de ir.

Naquela época, Jungkook se sentia muito grato ao amigo, para não dizer deslumbrado, sempre disposto a ouvir sobre as diferentes formas de Taehyung enxergar o mundo, compartilhando suas dúvidas, ideias e receios, apesar das eventuais divergências, mas o mais velho sempre parecia extremamente sábio e gentil aos seus olhos.

- Você tem religião, hyung? - perguntou ao rapaz que, há poucas semanas, havia entrado no primeiro ano do Ensino Médio.

Eles caminhavam até o ponto de ônibus, depois de se encontrarem na saída da escola, como de costume.

- Hã... Não. Meus pais são budistas, mas... Eu não tenho religião específica. Acho que sou agnóstico.

- "Agnóstico"? - pendeu a cabeça, confuso.

Padre Jeon 🕯 TaeKookOnde histórias criam vida. Descubra agora