Extra: Perdão

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Taehyung terminava de redigir o último relatório do dia, o qual deixara para adiantar em casa mesmo, pois se daria ao luxo de tirar uma folga no dia seguinte em sua empresa.

E, obviamente, isso tinha a ver com Jungkook.

Fitou o relógio do monitor: menos de vinte minutos para o dia primeiro de setembro.

O primeiro aniversário que passaria com o mais novo após tantos anos manchados por mal-entendidos que quase separaram ambos para sempre.

Sentia o peito apertar cada vez que pensava nisso, ainda que soubesse que, agora, estava tudo bem.

Jungkook estava consigo fisicamente, e não mais somente em suas memórias.

Viviam uma vida de casados, ainda que não houvessem assinado nada num papel, mas isso era o que menos importava diante de tantos obstáculos enfrentados até, enfim, ficarem juntos.

Desligou tudo do escritório particular e atravessou o corredor do segundo andar da mansão, chegando ao quarto que dividia com o Jeon, o qual provavelmente estaria jogando videogame para passar o tempo até ele aparecer.

Estranhou quando, ao abrir a porta devagar, não havia nenhum vestígio de luz, exceto o feixe que vinha por entre as cortinas da janela, estas sendo levadas pela brisa suave adentrando o local.

E, para seu espanto, ouviu as típicas fungadas de Jungkook, assim como notou o corpo trêmulo e encolhido sobre o colchão.

- Amor? - sussurrou, dando a volta na cama e ajoelhando em frente ao rapaz, cujas mãos apoiavam-se no travesseiro - Está passando mal? Dói em algum lugar?

- Não é dor física... - o outro murmura, com a voz embargada, e Taehyung acaricia a bochecha molhada.

- Então, o que é? - pergunta gentilmente, tentando disfarçar a tensão que seu corpo emanava.

Já havia visto Jungkook chorar no meio da noite desde que optara por fugir e largar tudo para trás, mas nada semelhante ao que testemunhava agora.

Parecia mais... Intenso. Algo que estava entranhado há muito tempo dentro si, e só agora era devidamente colocado para fora.

- Será que... Eles não vão me ligar de novo?

O Kim respira fundo, soltando um longo suspiro compadecido.

Havia esquecido completamente daquele pequeno detalhe.

Jungkook decidira morar com ele poucos meses antes de seu aniversário e, no dia propriamente dito, esperava que, talvez, seus progenitores tentassem uma reconciliação. Mesmo magoado, o Jeon mais novo estaria disposto a dar uma segunda chance, desde que não mais tentassem interferir em sua vida.

Porém, nem mesmo houve chance de conversa.

Pois a ligação nunca aconteceu.

Nem mesmo uma mensagem de texto.

Nada.

Era doloroso ver Jungkook daquele jeito e sentir-se tão impotente, mas... O que poderia fazer?

- Eu tenho tanta raiva... - o rapaz volta a falar, e Taehyung ergue a cabeça para fitá-lo - Tanta, tanta raiva do que a religião fez comigo... Eu me privei de tanta coisa. Deixei de viver tanta coisa. Tudo porque não questionava nada, ou não questionava o suficiente. Fui fraco, idiota, covarde. - ele soluçava, molhando o travesseiro ao manter o rosto ali - Tudo o que vivemos depois de adultos, Tae, já podíamos ter vivido muito antes, se... Se eu não tivesse permitido tanta manipulação.

- Jungkook...

- Eu odeio meu eu do passado. Odeio! Às vezes, nem sei como você conseguiu me aturar por tanto tempo, e muito menos como continuou me amando. Seria mais fácil ter me esquecido. Assim como... Eles esqueceram de mim.

Padre Jeon 🕯 TaeKookOnde histórias criam vida. Descubra agora