Uma semana se passou após o ocorrido em meu quarto, Eleanor acabou estendendo a viagem para mais duas semanas, dizendo que só voltaria ao Reino Unido se eu estivesse realmente bem.
Acabei não respondendo Harry em todas as suas ligações e mensagens, fazendo ele desistir no sexto dia de vácuo, me deixando finalmente em paz.Resolvi tirar umas férias do trabalho, pelo menos durante um ou dois meses, já que os desenhos da próxima coleção da Tomlinson's já estava praticamente finalizado, só faltando produzir as peças de roupas, então eu não precisava fazer mais nada lá.
Nesses últimos dias que se passaram, eu me recusei a deitar em qualquer cama, então acabei optando em dormir no sofá da sala, que era espaçoso e aconchegante, melhor do que meu próprio colchão.
Deixei de manter contato físico com as pessoas, até mesmo com Els e Nialler, esquivando de abraços e beijos que me arrepiaria de lembranças ruins.
Ninguém resolveu falar nada sobre minhas mudanças de comportamento e sobre os meus novos hábitos, sei que eles escutam o meu choro todas as noites antes de dormir, e sei também que eles pensam que tudo isso é sobre Harry ou o meu passado com ele. Talvez ninguém imaginasse que algo tão traumatizante poderia ter acontecido comigo.
Oras, como poderia? Eu sorria o tempo todo, como conseguiria esconder algo tão grave e acusatório assim de todos?
Quando eu falei para eles que iria passar alguns dias em Doncaster assim que Eleanor voltasse para Manchester, ninguém me julgou ou fez perguntas. Niall falou que aproveitaria para passar um tempo na Irlanda, junto com sua família, e eu não falei absolutamente nada.
Eu sabia que eles estavam com medo de me deixar em Doncaster, e eles sabiam que eu não tinha mais ninguém. Se eu estava indo para lá sem ser por serviço ou algo do tipo, e sem nenhum acompanhante, era porque havia tomado finalmente a decisão de encarar minha família frente a frente.
E eles entendiam que era um momento delicado para mim e que eu teria de passar por isso sozinho.
A ferida só irá parar de doer quando você se acostumar com a dor, e você só se acostumará com a dor quando ela finalmente se cicatrizar. Eu precisava parar com aquela dor, precisava deixar tudo cicatrizar, se eles me aceitariam ou não, eu só saberia se fosse até lá e tentasse.
"Hey, você tem certeza do que irá fazer?" Perguntou Els assim que Niall saiu para fazer sua caminhada diária no parque próximo de casa.
Dei um meio sorriso e me encolhi mais ainda no sofá, embaixo dos cobertores quentinhos.
"Não foi você quem disse que eu precisava fazer isso? Dar um sinal de vida?" Retruquei, irônico.
"Uma ligação ou algo do tipo, Lou. Encontrar com eles é muita..." Respirou fundo. "Pressão, é muita pressão. Algo muito grande. Tenho medo de você não aguentar." Fez menção que iria tocar em minha bochecha mas me esquivei a tempo.
"Eu sei o que estou fazendo, Eleanor." Fui para o canto do sofá, agora sentado no mesmo. "Não preciso mais da sua ajuda para isso." Finalizei o assunto.
"Tudo bem, então. Você sabe muito bem o que faz." Respondeu baixinho, cabisbaixa e parecendo tristonha.
(...)
Quando as duas semanas se passaram e Eleanor foi embora, comecei a entrar em pânico e Niall me ajudou nesse momento também.
Exatamente no mesmo dia da minha viagem Niall viajaria para a Irlanda, me acompanhando pelo aeroporto enquanto dizia em meu ouvido que tudo ficaria bem em breve.
Mas eu não tinha muita certeza e tinha exatamente medo disso.
Quando cheguei na estação de Londres, completamente sozinho, peguei o primeiro trem que fosse em direção a Doncaster, tentando não pensar muito no que estava fazendo.
De repente a palavra casa se tornou tão familiar e aconchegante para mim, como se esse fosse o lugar que eu sempre iria pertencer, e eu sabia que era exatamente assim, que sempre estive certo.
Quando o trem parou uma hora depois na estação principal de Doncaster, eu sabia que estava roendo as unhas por pura ansiedade, então sai daquele lugar que de um segundo para o outro parecia tão apertado para mim e caminhei até o hotel que ficava ali perto, o local que sempre me hospedavam com todo o carinho do mundo.
Dei meus dados na recepção, peguei a chave do meu quarto e a chave do carro que eu comprei há anos e deixava guardado no estacionamento daqui, subi de elevador até o último andar, me jogando no pequeno sofá após abrir a porta.
Eleanor me ligou assim que liguei meu novo celular.
"Bom dia, bela adormecida! Como foi a viagem?" Perguntou ela, animada.
"Fale baixo, Els. Minha cabeça insiste em gritar que ainda está de noite e as minhas pálpebras estão pesadas demais para mantê-las abertas." Reclamei, fazendo um pequeno biquinho nos lábios.
"Se acostume com o fuso horário, doce." Ela deu uma gargalhada e gritou um: "Já vou", para alguém que também estava ao outro lado da linha. "Escute, Lou, preciso ir fazer compras com Cal, só liguei para saber se você está bem e vivo. Descanse um pouco e depois pense em como você vai..." Pigarreou. "Bem, em como você irá falar com eles." Falou ela, soando apreensiva.
"Tudo bem, pode deixar, Els. Até depois, ouviu?" Me despedi e desliguei a ligação.
Peguei uma coberta e o travesseiro que estava em cima da cama de casal, fechei as cortinas, retirei meus sapatos e deitei no sofá de um modo desajeitado, pegando no sono segundos depois.
(...)
Acordei com o barulho de um pombo batendo na enorme janela do quarto, me fazendo despertar assustado, mas recuperando a consciência assim que sentei normalmente no estofado.
Encarei o relógio que ficava na parede do quarto e vi que já era uma da tarde, me fazendo levantar rapidamente de onde estava sentado e tomar um rápido banho, descendo para comer algo e em seguida ir dirigindo em direção a casa de minha mãe, que não era muito longe de onde estava hospedado.
Quando estacionei em frente a pequena casa de portas e janelas brancas e sai do carro, comecei a encarar a campainha, respirando fundo várias e várias vezes.
Tentei concentrar minha atenção nos minutos a seguir, enchendo minha cabeça de pensamentos positivos e de que tudo iria ficar bem caso acontecesse algo não previsto.
Toquei o pequeno botão branco duas vezes seguidas, só para ter a certeza de que alguém lá dentro escutou.
"Eu abro!" Gritou uma voz feminina.
"Vá terminar de fazer a mamadeira de Ernest, deixe que eu atendo." Falou uma voz autoritária, que eu julgava ser de minha mãe.
Não havia nenhum carro parado em frente a pequena casa, o que indicava que Dan estava trabalhando, mas pelo visto todas as meninas e meu irmão caçula estavam lá dentro.
Em seguida a porta foi aberta e fui atendido por uma Johannah sorridente, com um lindo vestido casual azul — que combinava perfeitamente bem com seus olhos — e sandálias adoráveis da mesma cor, que deixava suas unhas cor de rosa totalmente a mostra, seus cabelos estavam amarrados em um baixo coque, e pelo seu olhar, presumi que sem sombra de dúvidas ela não havia me reconhecido.
"Olá, posso lhe ajudar em algo?" Perguntou ela, gentil, como sempre fora em todos os anos de minha vida.
Sorri e senti meus olhos marejarem, e por esse único motivo tentei não deixar uma gota d'água cair ou minha voz fraquejar naquele momento tão especial.
Eu senti tanta falta de casa. Do meu lar.
"Olá, mamãe." Sussurrei, quebrando a frase quando senti um soluço vindo em minha garganta e saindo de minha boca, fazendo lágrimas grossas escorrerem por minha bochecha gélida.
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Feelings and Freedom // L.S
Fanfiction[Finalizado] Louisa era uma adolescente que se considerava incomum - tanto pela família, quanto para sí mesma -, além de ter um belo corpo e achar ele um grande erro, ela era apaixonada pelo menino mais solitário da escola desde seus oito anos de id...