Na beira do rio Tanais, as pedras de gelo formavam belos desenhos, promovidos pela intervenção dos asgardianos, que não abriam mão de seus mergulhos naquelas águas nem mesmo no auge do inverno. Decerto o clima não se equiparava a um dia comum em Jotunheim, para tecer comparações, porém, num reino em que o sol costumava brilhar sempre, refletindo-se nas construções da Cidade Dourada, qualquer queda de temperatura era sentida com o dobro de intensidade.
Thor fazia jus a estas declarações encostado numa árvore à margem do rio, tremendo enquanto assistia aos colegas nadarem. O supervisor de treinamento de sua faixa etária considerara um bom treino de resistência submetê-los a uma tarde no gelo, e não havia escapatória. Pessoalmente, ele preferia descansar em frente à lareira, embora, como príncipe, precisasse dar o exemplo. Escondido sob camadas de pele, suplicava para que os outros guerreiros se contentassem com Balder e Loki, que mergulhavam e emergiam amiúde no rio, e o deixassem quieto. Já aprendia muito sobre resistência imóvel no frio.
— O que é aquilo?
— Você viu?
— Que esquisito!
As exclamações, mais frequentes e crescendo em altura, o obrigaram a se focar em um ponto no meio do rio, onde haviam quebrado o gelo da superfície para que os guerreiros apostassem quem conseguia ir mais fundo sem conseguir respirar.
— É verdade mesmo! Eu já sabia, mas ver assim tão de perto...
Apertando os olhos, Thor compreendeu sobre o que tagarelavam: um garoto com a pele manchada de azul, que contrastava com o branco predominante de seus colegas. Balder fingia não o ver, nadando para longe; outros cochichavam e apontavam, temendo se aproximar.
— Essa é a primeira vez que eu vejo um jotun! — Um rapaz tocou no ombro de Loki, que o rechaçou em seguida. — Ele é frio!
— Claro que estou frio! Estamos nadando no gelo!
— Não precisa ser tão rude... Foi só um comentário.
Os casacos rolaram por seus braços quando Thor levantou. Suspirou, lamentoso, porém, precisava intervir antes que Loki partisse para a briga. Apesar de já ser conhecimento geral que o príncipe caçula era um Gigante de Gelo, com a aparência similar à dos asgardianos, o fato costumava ser ignorado pelos plebeus. Odin alegava ter planos de transformar Loki no símbolo de sua campanha para criar um acordo com Jotunheim e encerrar as desavenças de uma vez por todas, no entanto, até o momento, não tomara nenhuma atitude.
— Não me importa! — Loki esbravejou, fuzilando com o olhar os garotos que o rodeavam. — Não aceito que encostem em mim!
— Acalme-se! — Fandral ergueu as mãos para reforçar o pedido. — Ele não disse por mal, apenas não entende.
— Entendo, sim! Ele é um Gigante de Gelo, como os que escravizaram tantos de nós no passado!
— Tem razão — outro o acompanhou, franzindo a testa. — Talvez por isso não goste que cheguemos perto. Considera-nos inferiores a ele.
— Que belo príncipe ele é! — alguém gritou. Com tantas pessoas no círculo, a fonte das vozes se perdia. — Desprezando seus futuros súditos!
— A pele dele nem é bonita!
— Não mesmo. É cheia de cicatrizes e estes símbolos estranhos...
— Encherei a sua de cicatrizes para combinarmos, então! — Loki foi puxado pelo braço antes de avançar em cima de um guerreiro.
Thor estacou no gelo, aguardando o desenrolar da cena. Determinada, Sif sussurrou algo para o príncipe caçula e, com um resmungo de desprezo, ele a acompanhou para a beira do rio. Mais comentários cheios de animosidade se seguiram. Os dois se sentaram ao lado de um arbusto e tentaram se secar, conversando numa altura que não permitia a Thor que ouvisse.
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Where Death Lies (Thorki)
FanficThor considera o universo um lugar maravilhoso. Loki o considera uma fonte eterna de sofrimento e decepção. Apenas um dos dois está certo, e a resposta inevitavelmente trará a morte até a Yggdrasil. Resta saber quem irá sofrê-la, se apenas um ser ou...