INCÓGNITA ;; villainous

07. O MISTÉRIO DE BLACK HAT

Era como se o mundo tivesse parado por alguns segundos - tinha a impressão que Tiberius e Clary sentiram o mesmo. Ela estava olhando para o nada, com uma cara de bobinha que me deixou consternado. As narinas de Black Hat esfumaçavam, fiquei imaginando se era pela poeira do laboratório ou por pura raiva. Procurei inutilmente pensar na primeira opção.

Os pulmões ardiam, o resultado do fracasso agora fazia parte de mim, literalmente, quase como um veneno (se eu tivesse ficado mais um tempo naquela sala, acredito que estaria tão lerdo quanto Demência). Eu estava trêmulo, com medo de dizer qualquer coisa. Mesmo em meio a cortina de fumaça que atravessara o lugar, vi os olhos apavorados de Tiberius. Não era preciso falar nada para entender sua expressão - eles diziam "você está ferrado, Flug".

- Flug, dê um passo a frente. - ronrona Black Hat, da maneira mais calma possível, o que me deixava ainda mais ofegante.

- P-Pra quê exatamente, chefinho? - questiono, me arrependendo na mesma hora. Ele me silenciou e repetiu a frase que estava me dando nos nervos.

Fiz o que pediu, lentamente, sem a mínima coragem de encarar seus olhos sombrios. Eles exerciam um poder tão forte, que nem mesmo se usasse óculos escuros eu deixaria o nervosismo de lado. Quando percebo que estou a quase 3 palmos de distância dele, resolvo erguer a cabeça.

Por que eu fiz isso?

Black Hat me deu um forte tapa, que me fez cair no chão imediatamente. Logo depois, Tiberius foi me ajudar a ficar de pé. Senti meu rosto ficar quente e logo notei que se tratava de dois arranhões nem tão profundos, formados por suas unhas. Cambaleei antes mesmo de conseguir levantar, mas o Garoto Smurf me segurou. Toquei na ferida, onde duas pequenas linhas deixavam meus dedos úmidos (sangue, óbvio). Voltei ao meu estado de dúvida, sendo atormentado pelo olhar de Tiberius ("eu avisei").

- Seu completo imbecil! - gritou o rei da vilania, quase deixando cair a pomposa cartola que fazia jus a seu nome - Você só tinha um trabalho. Apenas um e tudo o que nos resta agora é um laboratório esfumaçante e uma... bem... uma Demência!

"A culpa não foi minha", pensei em dizer, mas não sei se realmente surtiria o efeito desejado "Foi sua lacaia preferida que estragou tudo. A mesma lacaia por quem você quase teve um infarto quando meu laboratório foi comprometido pela bomba de fumaça."

Afinal, o que foi mesmo aquilo? Teria Black Hat, o vilão mais ambicioso e egocêntrico que já conheci, sentido algo? Seria estranho demais pensar que ele esboçou alguma emoção?

Quem verdadeiramente é Black Hat?

- O que você tem a falar, doutor Flug?

Olho para seus sapatos - não sei muito bem por que. Apenas uma reação imediata - e novamente para seu rosto. Quase pensei que existisse uma ruga de preocupação em sua testa, mas era só uma impressão. Não deixei transparecer muitas emoções, ainda pelo susto (e um pouco pela dor, sendo sincero), mas ainda fui capaz de respondê-lo.

- Você fede.

Black Hat forçou uma longa e raivosa respiração, cerrando o punho como se alguém tivesse acabado de ameaçá-lo. No lugar de me enfrentar, porém, ele caminhou sem olhar para trás até a porta de saída. Antes de ir embora, ele se pronuncia com uma voz mais grossa e misteriosa que da última vez que falou.

- Espero que esse tenha sido um efeito do gás, Flug. E lembre-se: se não limpar o laboratório até amanhã, vou estraçalhar sua tão querida câmera, assim como todos seus sonhos.

Me engasgo com o próprio ar, talvez tão impressionado quanto Tiberius. Minhas gravações eram confidenciais, tinha certeza absoluta que o Garoto Smurf não me delatara para Black Hat antes. Ele não faria isso, era o meu melhor amigo. Não pude lutar dontra o anseio de fazer a pergunta.