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Estou tão acostumada com a rotina que acordo meio que no modo automático todos os dias, ouço o despertador tocar e no mesmo instante abro meus olhos e levanto da cama me espreguiçando. Saulo, meu marido, continuava dormindo como pedra ao meu lado.
O cabelo grisalho e bem cuidado levemente bagunçado, as bochechas amassadas entre os travesseiros e seu abdômen quase que inteiramente exposto, mulheres brigariam para tê-lo como marido, mas eu sou a sortuda.

Caminho até o banheiro tirando minha lingerie pelo caminho e vou diretamente para o box, ligando o chuveiro e esperando que a água lave meu cansaço, o que é impossível. Depois de escovar meus dentes e passar um hidratante na pele, volto para o quarto e abro meu closet, a roupa do dia já estava devidamente separada, odeio perder tempo procurando.
Uma calça caqui justa na cor preta, blusa branca de manga e botões e um salto alto simples, também na cor preta. Tiro meu celular da tomada depois de ter deixado o mesmo carregando a noite inteira e o coloco em minha bolsa, junto de alguns papéis importantes para hoje.

Coloco um único pão integral na torradeira e quando o mesmo fica pronto saio de casa o comendo com certa rapidez.
Entro em meu carro e dirijo até a empresa, finalmente o sono tinha ido embora, dirigir felizmente me faz despertar, deve ser por isso que nunca sofri um acidente ou coisa do tipo, amém!

—Sr. Agatha, chegando mais cedo?. — Pergunta Rafael, segurança do prédio, assim que me vê sair do carro.

—Sim Rafa, contratos importantes para hoje, felizmente. — Pisco pra ele e abro um meio sorriso entrando na empresa.

Chegando em minha sala deixo a bolsa sob a mesa e sento em minha poltrona, um leve gemido escapa de meus lábios, era realmente confortável.

—Mais um dia... — Solto o ar preso em meus pulmões e fecho meus olhos, mas sou interrompida pelo barulho da porta sendo aberta.

—Bom dia, trouxe as papeladas. — A mulher até então desconhecida por mim entrara em minha sala sem pedir permissão. Uma loira de cabelos na altura da orelha, usando uma calça rasgada, blusa xadrez e um tênis que julgo ser velho. Parecia simpática, mas não admito que entrem em minha sala sem ao menos bater na porta.

—Bom dia? péssimo dia, incrivelmente já estou me estressando. — A encaro me inclinando na mesa.

—Por que?. — Pergunta ainda de pé segurando a pilha de papéis, provavelmente pesados.

—Por quê querida? talvez porque existam pessoas mal educadas nessa empresa que provavelmente não foram ensinadas a baterem na porta antes de entrar. — Respondo me referindo a ela indiretamente, a mesma abre um sorriso.

—Que pena, boa sorte com essas pessoas. — Foi o que saiu de sua boca, mas já bastava para me deixar enraivecida, onde já se viu fingir que não entendeu o que eu quis dizer?!.

—Querida, qual a sua função aqui? — Cruzo minhas pernas e entrelaço meus dedos com um olhar desafiador.

—Meu nome é Megan inclusive, senhora Agatha. A função seria organizar papeladas e documentos e os distribuir, significa que tenho bastante trabalho pela frente então por favor, me deixe colocar isto na sua mesa antes que meu braço entre em estado de decomposição. — Deixa os papéis em minha mesa com pressa.

—Mas o que... — Tento retrucar mas logo sou interrompida.

—Desculpe, tenho que ir, tenho mais papeladas pra entregar — Fala por fim saindo rapidamente da sala.

Quem ela pensa que é?, nem mesmo as pessoas mais próximas de mim podem falar comigo dessa forma, mas seja lá o que ela esteja pensando, está completamente errada e sofrerá as consequências de seus atos.

Volto minha atenção aos papéis os assinando, já vi que hoje será um longo dia.

———

Depois de trabalhar por horas presa em meu escritório, encaro a tela do celular, já passava das 8hrs. Sim, eu não consigo deixar trabalho pro dia seguinte, se tiver uma pilha com mais de cem papéis, eu irei analisar todos na mesma hora. Claro que eu era uma das únicas que ficava na empresa até esse horário, não é bem uma obrigação, mas se posso ficar, fico. Arrumo minha mesa deixando tudo completamente alinhado e saio de minha sala. Procuro o número de Saulo em minha agenda "Amor", é como está salvo. Brega, eu sei.

Olá, amor. Aconteceu alguma coisa?. — Pergunta ao atender.

Oi meu bem, não aconteceu nada. Já está em casa? — Apoio o celular em meu ombro enquanto fecho o zíper da minha bolsa caminhando até o elevador.

Não, desculpe.. irei ficar até as 12hrs hoje, evento entre alguns empresários.

Ok, ok.. — Aperto o botão do elevador e fico aguardo por algum tempo. Não demorou muito até o mesmo chegar e as portas se abrirem, Megan estava lá dentro. Fico parada com o celular na mão, ela me encara confusa.

— Não vai entrar?. — Pergunta.

Amor, ainda está aí? — Ouço Saulo perguntar do outro lado da linha, por alguns segundos esqueci da ligação.

Hãm... desculpa, amor, tenho que ir agora, estou indo pra casa. — Encerro a ligação e guarda o celular entrando o elevador. Encaro a loira ao meu lado que parecia perdida olhando pro nada.

— Por que está me observando? — Pergunta me assustando, como diabos ela percebeu isso?

— Você não tem noção do perigo, não é? talvez não saiba que sou sua chefe. — Cruzo meus braços.

— Tenho noção sim, mas adoro o perigo. — Abre um sorriso pervertido, junto as sobrancelhas pronta para julgar seu comportamento, mas as portas se abrem antes que eu o faça.

— Quem você pensa que é pra falar dessa forma com sua chefe e ainda sorrir como uma predadora?. — A sigo, já estávamos fora da empresa.

— Eu quem me pergunto isso, pois já estamos fora da empresa, e fora dela você não manda em mim, quer saber, nem lá dentro você tem esse "poder". — Meu rosto queimava de tanta raiva, ela se afasta da calçada ficando próxima ao asfalto.

— Você não dá valor mesmo ao seu emprego né?, sabe muito bem que posso te colocar pra fora.

— Oh, que medinho. Como se esse fosse o único emprego no mundo! — Ri.

— Quer saber? meu sincero vai se foder pra você! — Sinto minha cabeça doer, a raiva estava me consumindo.

— Uau, que agressiva, achei que você fosse uma princesinha educada. — eu já estava perdendo o pouco de paciência que me restava, ninguém nunca falou assim comigo, ela não tem esse direito. Não pensei direito e logo expressei minha raiva dando um tapa estalado em sua cara, me arrependo em seguida. Ela tinha braços fortes, se eu receber um tapa dela vou precisar reconstruir meu rosto com plásticas.

— Ouvi dizer que onde há ódio, existe amor. Estou começando a achar que está apaixonada por mim. Me diga, foi amor a primeira vista?. — Sou surpreendida por seus lábios, eles me envolvem de uma forma que fazia ficar impossível de não retribuir. Estava beijando uma quase que desconhecida que me fez ficar com dor de cabeça de tanta raiva a segundos atrás.

Um carro estaciona próximo a calçada e ela se afasta indo até ele, que sai em alta velocidade e eu permaneço alí em pé, petrificada.

Eu beijei uma mulher. É, eu acabei de beijar uma mulher, uma mulher.. não!, uma mulher me beijou e eu não tenho nada a ver com essa história!.

Querida chefe [Em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora