Lauren não era típica menina má que se viam na TV. Na verdade, acho que mal posso considerá-la assim. Ela só era uma daquelas garotas que poderiam ser confundidas com uma má influência aos olhos de pessoas passando na rua. Sempre estava com algum grupo de amigos, segurando uma garrafa de algum vinho barato ou até uma de Vodka em ocasiões especiais, quando o colega mais riquinho aparecia por lá. Ela também fumava. Ao menos, eu sabia que ela fumava cigarros, nunca perguntei a respeito do resto. Nunca me senti no direito de me intrometer em sua vida pessoal. Isso não ajudava a imagem dela, mas ela não era uma má influência.
Lembro até hoje que a primeira vez que me meti com aquele grupo de pessoas e começaram a me fazer tentar beber. Ele deve ter me visto, sem graça e desconfortável e, num ato que nunca vi de novo, ela saltou em minha direção e tirou a garrafa da minha mão, dizendo que não tinha acabado de beber. Ela provavelmente havia feito aquilo para que eu não acabasse fazendo algo que iria me arrepender e sempre achei que ela apenas havia sido intrometida ou queria fazer graça para os amigos, mas hoje eu entendo que ela apenas se importava com os outros ao ponto de fazer coisas assim.
Não foi a primeira vez que ela me protegeu de algo. Na verdade, eu também não fui a única a ser protegida. Antes de qualquer saída, ela passava uma hora, a uma hora e meia sem beber um gole de qualquer bebida para ver o estado de todo mundo. Ela se juntava com aquele grupo por tempo o suficiente para saber como todo mundo poderia acabar e quem iria acabar precisando de um carona pra casa. Provavelmente exageravam tanto porque ela sempre estava lá para oferecer o seu carro e levar cada um para casa, mesmo que durasse a noite toda. Mesmo que chegasse em casa por volta de duas da manhã.
Ela era uma boa pessoa, mas eu nunca pensei muito nisso ou nela.
O grupo costumava se juntar a beira da praia toda sexta a noite, às vezes no sábado, e se dividiam em dois. O da Lauren e os que não-eram-da-Lauren. Apesar da separação, nós ainda tínhamos uma interação quase que direta, mas dava para notar qual era qual. Eu era do outro grupo e estava tudo bem. Não era como se a Lauren tivesse algum status magnífico que me faria ter inveja dos integrantes do outro grupo e nem ao menos importava, já que todo mundo acabava bêbado. Menos eu e umas pessoas aleatórias. A cena no inicio da noite era maravilhosa. Todo mundo se cumprimentava e conforme iam chegando pessoas, mais risos eram soltos ao ar. Todo mundo sempre se divertia, até quem não estava embriagado. Era divertido ver os outros assim.
Mas é claro que com o tempo começaram as fofocas. Quero dizer, com o tempo começaram a me enfiar nas fofocas e comecei a saber sobre cada uma das pessoas. Às vezes aparecia gente nova, as vezes sumia, mas os centrais eram no geral bastante fofocados. Acho que o mesmo acontecia em todos os pontos dos grupos, mas parando pra pensar, eu nunca achei que havia muito o que fofocar sobre mim. Talvez sobre meus exes? Ou sobre onde eu morava? Eu acho que eventualmente alguém acharia algo sobre mim que nem eu mesma lembraria, mas voltaria a tona naquela conversa. Naquele momento em que alguém falaria para outra pessoa, se tornaria material e seria como se eu estivesse fazendo aquilo naquele momento, mesmo não sendo algo mais importante em minha vida.
De todo jeito, eu descobri muito sobre as pessoas. Sabia quais tipos de bebida cada um gostava. Se fumavam maconha ou só cigarro. Se não gostavam de beber, mas isso eu acabei descobrindo porque no final ficavam as mesmas pessoas e dava para perceber que não estavam bêbados.
Também descobri muito sobre a orientação sexual de todo mundo. Em resumo, todo mundo era meio bi. Meio, porque muita gente não conseguia admitir isso. Nunca havia sido um problema pra mim, mas compreendo que a nossa identidade é algo complicado. Compreendo agora, depois de algum bom tempo. Na época, eu não era a mesma pessoa lúcida que está lhe escrevendo. Eu lembro de fazer graça, chamar de "falsa lésbica" ou coisas do tipo. A melhor coisa era que nós tínhamos um Igor no meio do grupo, e quando nós vimos ele ficando com uma garota, todo mundo se juntou, em uníssono, na mesma hora e gritamos "Igor nera viado?". Coisas assim são momentos idiotas de uma adolescência já passada que me fazem rir até hoje.
No meio das fofocas, é claro, como basicamente todo mundo já havia ficado entre si, descobrimos algumas coisas bizarras, como o menino que gostava de ser enforcado. Ou a menina que adorava sentir dor. Nós apelidamos ela de masoquista, e nós achávamos o máximo ficar chamando ela assim. Não era nada demais, olhando pra trás, mas adolescentes, né. Apesar disso, eu nunca soube nada sobre a Lauren. Haviam boatos que ela gostava de umas coisas mais estranhas, mas eu nunca soube exatamente o que isso significava.
Hoje eu sei. Mais do que qualquer outra pessoa, eu sei tudo o que eu precisava saber e um pouco mais.
E estou aqui lhe convidando para sentar junto a mim enquanto relembro dos momentos que mais me marcaram em minha vida.
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Crepúsculo das memórias
FanficToda história já aconteceu. Em algum lugar, com algumas pessoas. Essa história é sobre Lauren e Camila. . Recontando suas memórias sobre Lauren, Camila convida o leitor para o seu mundo de lembranças, as vezes falhos, as vezes exagerados, remontan...