ALYSSA|| 16 de novembro de 2012 ||
Dezenove dias antes do desaparecimento de Meredith
Splash. Splash. Splash. As gotículas de água caíam do teto e beijavam-lhe a face. As pálpebras estremeceram com o toque úmido e gelado na superfície da pele, mas ela não acordou. Estava em sono profundo. Uma hipnose, uma meditação antes de dormir. Tentava pensar em nada, esquecer todos os problemas que a cercavam como um nevoeiro de lembranças. A respiração possuía um ritmo lento e calmo, coisa que era inesperado ao recordar-se de quem era no colégio.
Na maior parte do tempo Alyssa não se sentia ela mesma, era como se existissem duas versões da mesma garota. Já chegou a imaginar que tinha algum tipo de doença, personalidades múltiplas ou alguma coisa parecida. Em casa era completamente diferente do que na escola, para a sua família era uma espécie de garotinha insegura e calada. Quem era ela?
Observou seu reflexo no espelho, o retrato perfeito do que poderia ser. Uma menina alta, dona de longos cabelos loiros, de pele clara, magra, olhos azuis, o típico padrão de beleza da época. Mas por que sentia como se lhe faltasse algo? Como se não fosse suficientemente preenchida? As vezes ela era pega em devaneios, refletindo solitária em seu quarto, deitada na cama. Pensava em Samantha Jones e em como fora cruel com a novata. A culpa era torturante e a única coisa que lhe impedia de querer fugir e mudar de nome era que podia compartilhar com suas amigas, não que mencionassem o acontecimento. Elas nunca falavam sobre o que aconteceu. Se não falar, não aconteceu. Era o seu lema. Entretanto, todas elas sabiam e Alyssa sabia, o dia do julgamento estava próximo.
Os raios solares suplicavam para entrar, mas eram impedidos pelas cortinas black out ainda fechadas. A garota abriu a torneira e jogou água no rosto. Era extremamente custoso manter-se acordada às sete da manhã. Abriu o armário e vestiu a calça jeans, uma blusa básica branca e a jaqueta de couro, passou o rímel e desenhou os lábios com batom vermelho. Poderosa.
Desceu as escadas e tomou o café da manhã: o de sempre. Pão com geleia e um copo de leite, sem achocolatado. Saiu pela rua a fora sem despedir-se, a casa lá dentro permanecia vazia, sem vida. Os pais já tinham ido trabalhar, mas Alyssa já era acostumada em não vê-los com frequência. Respirou fundo e pôs-se a caminhar com o queixo erguido.
Quando Holly estava presente, saía buscando cada uma nas portas de suas casas. Holly tinha carro, um carrão para falar a verdade. Uma ferrari prateada maravilhosa que as levava para todos os lugares. Faltavam ainda alguns meses para Alyssa terminar as aulas práticas e então finalmente ganhar seu carro, porém enquanto não ganhava e enquanto Holly estivesse fora, as Rosas de Moulinville precisavam andar a pé.
— Meus pés estão me matando!— escutou Kate reclamar assim que encostou a bunda na cadeira dura. Alyssa pousou a mão direita nos lábios e fingiu um bocejo entediado. Kate revirou os olhos para ela.
Podia sentir que Kate estava afastada. Ambas nunca se deram muito bem uma com a outra, porém quando Holly estava presente as coisas eram bem mais divertidas. Kate agora era irritante e mimada, principalmente por causa de Louise, ela não conseguia compreender a importância de um novo membro na equipe. Era tão idiota e patética! Achava que Louise poderia simplesmente substituir Holly ou algo do tipo. Esse não era o plano, mas Alyssa estava cansada de tentar explicar a ela. A coisa toda era bem simples, apenas manteriam a menina por tempo o suficiente para poder tirar uma onda, divertirem-se um pouco como nos velhos tempos.
As aulas sempre eram exaustivas, Alyssa vagou por diversos planos distintos e aleatórios que não fossem aquela sala de aula.
Algo chamou sua atenção: Josh sentou-se perto de Louise naquele dia e ele não parava de brincar com os cabelos da garota. Uma raiva pulsante ferveu em suas veias. Josh era namorado de Meredith, que diabos ele estava fazendo? Apenas porque ela não estava lá, pensava que poderia dar em cima de outras meninas? E o pior de tudo: dar em cima de Louise?!
Seus pés começaram a bater no chão irritantemente, os saltos fazendo barulho. O professor de Geografia lançou-lhe um olhar furtivo para ordenar que parasse. Ela não obedeceu. Sem paciência, o homem na casa dos trinta anos caminhou até ela e apoiou ambas as mãos nas extremidades da mesa.— Pare agora mesmo com esse barulho insuportável!
Alyssa não era do tipo que acatava ordens e jamais fraquejava com ameaças de autoridades. Os lábios rubros desenharam uma curva maliciosa e os pés chutaram o chão com mais força. Tampouco se importava, sabia que estava chamando a atenção da turma. Kate balançou a cabeça, sem acreditar. Os olhos de Louise encontravam-se fixos na cena.
— Já chega! Já para a diretoria. — segurou-a pelos braços e levantou-a.
Ah, mas ele não tinha aquele direito! Quem ele pensava que era?! Alyssa empurrou-o com toda a força que possuía e ele tropeçou em uma mesa vazia, quase perdendo o equilíbrio. Viu o rosto transformar-se em vermelho, quente. Mas ele se conteve.
Ela riu e virou-se para Josh, que estava perplexo. Pôde escutar todos sussurrando ''Qual o problema dela?'' Alguns alunos davam risinhos, outros se controlavam para não bater palmas. Contudo, Josh entendeu a razão daquilo tudo, ele tinha certeza de que era para ele.Antes de sair da sala, caminhou até a mesa do namorado de Meredith com os punhos cerrados. Deu-lhe um tapa e atirou os cabelos em sua face antes de sair, sem ao menos ver a reação dele. Um dia de suspensão por desrespeitar o professor. Dois por agressão física.
— Da próxima vez serei obrigado a colocar em seu currículo. — disse o diretor.
Alyssa deu de ombros.
(...)Foi obrigada a ir para casa, não que se importasse muito. A caminhada de volta parecia mais longa do que a anterior por estar sozinha. Quando tinha suas amigas com ela era sempre mais divertido, mais confortável. Riam de qualquer coisa, faziam fofocas e marcavam encontros.
Assim que chegou em casa, deitou-se no sofá e fitou o teto. Pensando. Como Josh era idiota! Sempre fazendo joguinhos, era ridículo. Não que ela ligasse para Louise, não dava a mínima se a menina iria se machucar. Entretanto, era injusto com Meredith, mesmo que ele não fosse traí-la definitivamente ou algo do tipo. Ao menos era o que ela dizia para si mesma. Ou talvez existisse um outro motivo por trás disso, um motivo que ela suprimia com todas as forças e escondia de todos, principalmente de Meredith. Mas Josh sabia.Que merda!
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O Lar das Rosas (EM HIATUS)
Mystery / ThrillerOBS: Este livro está sob revisão para posterior conclusão. Quatro garotas, uma lenda urbana e um desaparecimento. Às margens do lago proibido existe um culto secreto conduzido por quatro adolescentes que se autodenominam ''As Rosas de Moulinville''...