Mandaram-me um dia desassossegar-me. Não devia ser tarefa difícil para mim que com tudo me desassossego.
Inquieta-me o tempo: o ontem, o hoje e o amanhã.
Não posso mudar o passado, por muito que me arrependa ou deseje que as coisas tivessem acontecido de forma diferente. Não posso prever o futuro, que é como um poço de desconhecido onde não posso evitar cair. Errarei de novo? Com certeza que sim e essa é a única previsão que posso fazer. Por isso, tenho ainda outro acontecimento inevitável à minha espera: num futuro longínquo, olhar para trás, para aquilo que hoje ainda é um futuro um pouco menos distante, e arrepender-me, desejando ter feito algo diferente, mas não o podendo mudar. Vemos então que o passado e o futuro não são, afinal, tão díspares quanto parecem.
No entanto, ao menos sabemos o que são o futuro - aquilo que ainda está por vir - e o passado - aquilo que já foi. Por esta lógica, o presente seria aquilo que é, agora. Mas o que é o agora? O que escrevi na última linha é já passado e o futuro é o que escreverei na linha seguinte. Mas já a escrevi! Vivemos numa dança constante, em que o futuro se torna passado em menos de nada e o presente parece nem existir. Será que não existe mesmo? O que é afinal o presente?
Encontrei algo com que me desassossegar... Como se não tivesse já desassossegos suficientes! De facto, desassossegar-me não era tarefa difícil para mim...
02/11/2017