Eu fui tinteiro
repleto das mais belas cores,
pois no meu peito inteiro
cresciam flores.
Até que um dia de inverno,
de frio, de solidão,
as arrancou do meu peito terno,
cobrindo de pétalas o chão.
Ainda assim caminhei,
com o meu peito aberto e descoberto,
e ao mundo mostrei
as minhas feridas e passo incerto.
Adotei da noite o negrume.
Fiz do meu peito porta fechada
porque havia agora, no lugar do lume,
só as cinzas da minha primavera derrotada.
Sobra apenas do passado
o meu peito sem vida,
o tinteiro vazio e acabado,
da minha existência adormecida.
17/02/2018