Palácio de insanidade

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As paredes sussurram palavras apressadas

Palavras carregadas de temor

Corra! Fuja!

Prefiro pensar que é imaginação

Minha mente pregando peças

Confinamento e exclusão transformam qualquer pessoa


Minhas faculdades mentais estão bagunçadas

Pele amarelada por semanas longe do sol

Repito palavras aleatórias para mim mesmo

Quase me esqueci da sensação de falar

Se eu escapar o mundo não será mais o mesmo

Tanto tempo longe de outros seres humanos

Me faz questionar se ainda sou um deles


Após tantas doses de remédio,

tudo tem gosto amargo como fel

Se é dia ou noite,

impossível saber

Não há janelas no quarto em que estou trancado

Mas a sensação não é mais sufocante

Tornou-se meu lar


Acostumei-me a dormir e acordar sem horários

Não há nada para descobrir

Nenhum mistério a desvendar

Tudo é feito de gelo e prata

No ar,

paira sempre o cheiro de medo e formol

Assepsia


Ouço outra vez

o apelo dos mortos

Fuja!

Pessoas feridas antes de mim

Pessoas cujas vidas foram roubadas

sobraram somente suas cascas vazias

Mas não há para o que voltar

Essas paredes frias se tornaram meu lar

Os remédios são meu combustível

E as palavras são minha fuga

Letras e EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora