Prólogo

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Londres, 1800

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Londres, 1800.

Ele sempre soube que iria se tornar o Duque. Mas nunca pôde imaginar que seria tão cedo. Agora, com apenas dez anos de idade, enquanto deixava o funeral dos pais, Rannolf ainda não conseguia acreditar em tudo o que havia acontecido. Seu nome agora era Hampton. Não Rannolf, ou Ranny como a mãe o chamava, mas Hampton. O título que sempre pertenceu ao pai, o título de Duque.
Há apenas dois dias atrás tudo estava como sempre foi, Ranny aprendendo o que podia com o pai e os tutores antes de ser mandado para Eton. Christine, com quatro anos, começando a aprender algumas coisas e correndo pela casa toda. A Duquesa esperando o terceiro filho, enquanto o Duque só lucrava mais com suas propriedades. E tudo teria continuado como sempre, não fosse a queda da Duquesa. Uma coisa pequena, tropeçou em um brinquedo que estava no chão. Era de se imaginar que não fosse acontecer nada, certo? Mas aconteceu.
A queda a levou a um parto prematuro, e um ar de pânico assolou a todos na residência, desde o criado do mais baixo até o Duque. Se existisse uma unanimidade naquela casa, era a de que todos amavam a Duquesa. E, enquanto ela gritava no quarto, o Duque andava em círculos pelo corredor, com Ranny sentado em um canto, calado. Isso prosseguiu pelo que pareceu uma eternidade até que a porta foi aberta, revelando um médico de cabeça baixa.
— Sinto muito, Vossa Graça, a criança não sobreviveu.
— E minha esposa? — Essa era a maior preocupação do Duque, e ele não tentou disfarçar nem por um segundo. Nenhuma perda seria tão grande quanto se perdesse a esposa.
— Temo que a Duquesa esteja enfraquecida demais. Não deve passar desta noite. Eu sinto muito. — Mal ele terminou de falar e precisou lidar com uma enxurrada de gritos e ofensas da parte do Duque. Maxwell Rasbury, Duque de Hampton, amava a esposa acima de tudo o que tinha na vida, e não aceitaria ninguém lhe dizendo que ela iria morrer. E enquanto gritava, nenhum dos homens viu Ranny se esgueirando para o quarto da mãe.
Ela estava pálida como nunca esteve antes, e o quarto cheirava a sangue. Se olhasse bem, seria fácil ver as manchas por baixo da manta que a cobria agora. Mas ao ver o filho, por mais fraca que estivesse, Ellen ainda se obrigou a sorrir.
— Ranny, meu menino. Não deveria estar aqui. — Ela estendeu uma mão, e ele correu para segurá-la. — Uma sala de parto não é local para crianças, principalmente para um menino.
— Mas eu queria ver como a senhora estava, mamãe. — Ranny apertou a mão dela, os olhinhos castanhos reluzindo com as lágrimas. — A senhora vai ficar bem, não vai?
— Ranny... temo que isso não seja escolha minha. E você precisa me prometer que vai ser forte caso eu me for, meu menino. Seu pai vai precisar da sua ajuda.
— Eu não sou forte. Só tenho dez anos, nem para o colégio fui ainda. Por favor mamãe, não vá agora. — Ranny apertou a mão dela com mais força, sem perceber que começava a esfriar ou notar as lágrimas em seus olhos. Nesse momento, o Duque entrou no quarto, depois de ter esgotado toda sua raiva no médico. Naquele momento, Ranny podia jurar que qualquer um em Londres havia sido capaz de ouvir o coração do Duque se partir ao ver a esposa naquele estado.
— Ellen... minha Duquesa, minha vida. — Ele se inclinou sobre ela, lhe beijando a testa e caindo de joelhos ao lado da cama. — Não faça isso comigo, Ellen. Não faça isso conosco. Aguente firme, grite, me enlouqueça, mas não me deixe num abismo onde não poderei encontrá-la. Como vou viver sem você, minha alma?
Rannolf se afastou um pouco, dando espaço para o pai se despedir, mas não conseguiu sair do quarto. Queria aproveitar cada instante que ainda poderia ter com a mãe, cada palavra que ela ainda iria dizer. Por mais que não quisesse acreditar, sabia que ela estava partindo.
— Meu amor, você terá que ser forte. Não pode se deixar prender por isto, precisará ser forte se não por si mesmo, por nossos filhos. Ranny e Christie vão precisar de apoio para crescer sem uma mãe. E você, meu amor, se apoie no carinho deles para continuar sem mim. Eu sei que você consegue. — Ela, mesmo fraca sorriu, enquanto olhava para o homem que amou desde os dezessete anos.
— Ellen... — O Duque podia ver a força dela se esvaindo. A fala ficando mais fraca, o aperto dela em sua mão diminuindo. Ele sabia que ela estava partindo, e havia apenas uma coisa que poderia dizer. — Eu te amo. — Os lábios dela se abriram, como que para dizer algo, mas ela se foi antes que pudesse falar.

Horas depois, naquela noite, Rannolf estava caminhando pela casa. Não conseguia dormir. Como poderia, depois de ter visto a mãe morrer em frente a seus olhos? Não, dormir estava fora de cogitação. E a julgar pela luz que vinha através da fresta na porta da biblioteca, não era o único sem dormir.
— Pai? — Rannolf empurrou um pouco a porta, colocando a cabeça para dentro. O pai estava sentado em uma poltrona, com uma garrafa de scotch pela metade em uma das mãos, enquanto a outra estava fechada ao redor de algo que Ranny não conseguiu ver.
— Entre meu filho, entre. — Ele tomou mais um gole, enquanto o menino entrava e andava até a poltrona em frente a ele. — Não já deveria estar dormindo?
— Não consigo. Não paro de pensar na mamãe... — Ranny abaixou a cabeça, sentindo as lágrimas nos olhos.
— Também não paro de pensar nela. — A voz do Duque soava distante, quase como se não fosse realmente ele ali. — Você sabe que tudo vai mudar agora, não sabe?
— Eu vou ficar triste pra sempre? Sinto falta dela.
— Não, Ranny. Claro que não. A tristeza vai passar, já a saudade... — O Duque balançou a cabeça, olhando para o menino sentado à sua frente. Seu filho, seu herdeiro. E tinha os seus olhos. — Você é um menino forte, Ranny. Sua mãe sempre soube disso. E vai se tornar um Duque, o próximo na linhagem dos Hampton. Rannolf Rasbury, quinto Duque de Hampton. — Ele deu um sorriso que por trás, não demonstrava uma gota de ânimo, e estendeu a mão que não segurava a garrafa, revelando um colar com um pingente de coração prateado. — Era da sua mãe. Dei este colar a ela no dia em que a pedi em noivado. Um dia, entregue-o à sua futura esposa. — Ranny pegou o colar com todo o cuidado que pôde, olhando para o coração. Havia algo escrito na parte detrás.
— Pai, o que isso aqui quer dizer? — Ele passou os dedos pela gravação.
— Ich Liebe Dich. É "eu te amo" em alemão. Uma antiga governanta que tínhamos quando eu era jovem me ensinou algumas frases de seu idioma. Sua mãe amava o modo que as palavras soavam. Ich liebe dich. — Ele sorriu para o vazio, com lembranças de Ellen aos dezessete anos voltando à sua mente. — Agora vá dormir, Ranny. Vai ficar tudo bem, eu prometo. — Ele deu um sorriso quase caloroso ao filho, levantando da poltrona e o acompanhando até a porta. Rannolf naquele momento acreditou mesmo que tudo ainda pudesse ficar bem e foi dormir. Três horas depois, a residência Hampton foi acordada com o barulho de um tiro na biblioteca.

Agora, vendo a casa se aproximar pela janela da carruagem, Rannolf secou uma lágrima que caiu ao lembrar de tudo isso. Por toda sua vida, ele perguntaria a si mesmo se seria capaz de ter impedido o suicídio do pai, se tinha deixado passar alguma coisa... Tirou o coração de prata do bolso e o ficou girando nos dedos, enquanto em sua mente giravam as palavras de seu pai. "O amor que ele sentia o destruiu". Rannolf não conseguia tirar estas palavras da mente, e foi nesse momento em que ele jurou nunca deixar que se apaixonasse e fosse destruído como o pai. 

Um Duque Arranjado (Degustação)Where stories live. Discover now