Capítulo 4

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          Tudo o que Anthony, Duque de Briston, queria fazer nesta noite era tomar uma boa dose de conhaque e dormir, mas já estava claro que a Duquesa não o deixaria em paz. Desde o passeio com as filhas na tarde anterior, tudo o que ela conseguia falar era sobre ter visto a filha conversando com o Hampton e que poderiam juntar os dois.
— Estou lhe dizendo Anthony, essa é nossa grande chance de ver Melissa casada e com um homem de posição! Deus sabe que se depender dela, acabará morrendo solteirona como a tia, e nenhum de nós gostaria que ela acabasse como Tia Mary, certo?
— Sim, querida, sim... — Era a milésima vez que ele dizia isso. Claro que não queria ver a filha solteira e abandonada, mas o que poderia fazer? Forçar ela a se casar? Arranjar um marido?
— Então tome uma atitude! Converse com ela, Deus sabe que ela nunca me escutou, mas tudo que você diz é lei. Se você disser duas palavras ela vai aceitar se casar com Hampton.
— Mas querida, quem disse que Hampton gostaria de se casar com ela? Já parou para pensar que talvez esteja se preocupando tanto à toa?
— Ela é bonita, ainda jovem e pode dar vários herdeiros para ele. E tem um dote considerável, incluindo até aquela casa de campo em estilo francês. Ele seria tolo de rejeitar uma oferta dessas de bandeja. — A duquesa frequentemente falava sobre as filhas como mercadorias a serem vendidas. Sim, ela tinha o melhor delas em mente, mas quem sabe este não fosse o modo correto de demonstrar.
— E é isso que quer fazer? Colocar nossa filha numa bandeja em frente a ele? Quem sabe devesse amarrar um laço na cabeça dela como um pacote. — Anthony revirou os olhos. Amava a esposa, perdoava tudo o que ela fazia, mas às vezes, Clarissa passava dos limites. Principalmente quando se tratava de Melissa, como se ele não soubesse o motivo.
— Não é para tanto. Mas não seria má ideia encontrarmos um modo de apresentar para ele as qualidades dela. Estavam conversando e dançaram juntos no baile de Callendale, então é óbvio que ele tem ao menos uma curiosidade por ela. E ouvi as criadas comentando que ele está em busca de uma esposa.
— E desde quando criadas sabem de alguma coisa? — Ele suspirou, tomando um gole do conhaque.
— São quem mais sabe de qualquer coisa aqui. Uma criada encontra a outra na feira ou costureira e pronto, informações correm Londres inteira. E se essa for verdadeira, só precisaremos dar um empurrãozinho e Mel estará casada.
— E o que quer que eu faça, querida? Só diga e eu faço, se isso significar que vai sossegar um pouco.
— Um jantar. Convide-o para um jantar, com qualquer desculpa que puder pensar, e eu falo com Melissa. Se eles não acabarem o jantar ao menos visivelmente interessados, eu me calo completamente e encerramos o assunto.
— Ótimo. Se ele aceitar um convite para jantar, eu lhe aviso. — Ele balançou a cabeça, mas não pode evitar sorrir ao ver o pulinho de alegria que Clarissa deu. As vezes ela ainda parecia ser a garota com quem ele se casou tantos anos antes, antes de acontecer tudo.

Na manhã seguinte Melissa estava deitada na cama da irmã, observando Emilly escovar os cabelos de Corine. A mais velha havia vindo passar o dia com elas já que estava na cidade, e Corine não parava de falar sobre como seria o casamento, o vestido que pretendia usar, as flores, que valsas gostaria de dançar com Langford no baile do casamento...
— Como você sabia que queria casar com ele, Cori? — Melissa interrompeu os devaneios da irmã. — Como sabia que seria uma boa ideia?
— Eu apenas soube. Nós nos apaixonamos, Mel. Ele literalmente caiu de joelhos e disse que me amava e não seria feliz se não fosse casado comigo. — As duas se viraram para ela, Corine franzindo o cenho. — Por que?
— Mas e se não fosse assim? Se ele não a amasse, se apenas precisasse de uma esposa para continuar a linhagem da família e te escolhesse por ser uma boa opção. O que você diria? — Ignorou a pergunta da irmã, fazendo as que queria, que não saíam de sua cabeça.
— Mel, onde você está querendo chegar? — Emilly perguntou, encarando a irmã.
— Eu só... — Ela suspirou, olhando para o teto. — Conseguem guardar um segredo? E isso quer dizer não contar à mamãe de jeito nenhum.
— Prometemos não contar, certo? — Emilly olhou para Corine e ela assentiu, as duas se virando completamente para Melissa.
—Sabem o Duque de Hampton? Que dançou comigo no baile de Callendale, e que mamãe não para de falar que viu conversando comigo?
— Sim... — As duas estavam quase sem respirar de curiosidade, e se em fosse outro momento, Melissa teria rido.
— Ele meio que me pediu em casamento.
— O quê?! — Os olhos de Corine se arregalaram tanto que parecia que iam pular fora das órbitas. Emilly ainda estava mais séria, com uma sobrancelha erguida. — Como ele meio pediu?
— No dia que dançamos, ele disse que precisava de uma esposa e de herdeiros e que eu seria uma boa opção. E aquele dia no Serpentine...
— Ele simplesmente chegou e disse isso, sem mais nada? Mel... — Emilly conhecia a irmã bem o suficiente para saber que ela estava omitindo algo, e Melissa suspirou.
— Certo, essa não foi a primeira vez que eu o vi. No baile dos Valbury, aquele momento em que eu desapareci, bem, eu estava nos jardins. E ele me encontrou, ou melhor, esbarrou comigo. — Como nenhuma das irmãs falou nada, ela continuou. — Eu não sabia quem ele era, e nem ele quem eu sou. E nós... bem, ele flertou comigo.
— Não parou no flerte, não foi? — Emilly se sentou na lateral da cama, encarando a irmã. Apenas um ano mais velha, e muito mais sábia. — Até onde vocês foram?
— Um beijo. Só isso. — Ela não iria admitir que gostaria que fosse mais, de jeito nenhum. Corine soltou um gritinho agudo quando Melissa disse isso, fazendo as duas irmãs mais velhas revirarem os olhos.
— Só isso?! Mel, um beijo é muito sério, eu só beijei Harry depois que estávamos noivos! — A surpresa de Corine fez as outras rirem, Emilly principalmente.
— Você ainda tem tanto para descobrir sobre a vida, irmãzinha. Essa é a desvantagem de se casar na primeira temporada. Não teve tempo de aproveitar um pouco.
— Emilly, você não pode estar dizendo que...
— Hayston não foi meu primeiro beijo? — Emilly nunca chamava o marido pelo primeiro nome em frente às irmãs. Sempre o título, Visconde de Hayston. — Pois bem, não foi. E já que é para lhe chocar, nós não esperamos até a noite de núpcias para termos elas. — Emilly piscou um olho, enquanto Melissa tinha uma crise de riso ao ver o espanto de Corine.
— E você nunca pensou em nos contar isso?!
— Mel sabia. E você ainda era uma criança na época, eu não teria porque falar disso com uma menina de dez anos. — Emilly deu de ombros.
— Mas agora eu tenho dezoito! E estou prestes a me casar... — Corine começou a piscar os olhos, do mesmo jeito que fazia quando era criança e queria algo. — Poderia muito bem me contar direito o que se passa entre um homem e uma mulher, certo?
— Nem pensar mocinha. Não contei nem à Mel dos detalhes, contei?
— Infelizmente não. — Melissa fingiu uma expressão de raiva e a irmã riu.
— Viu só? Sem detalhes. Na véspera de seu casamento nós conversamos, mas os detalhes você terá que descobrir sozinha. Ou melhor, com a ajuda de Langford. — Emilly deu um sorrisinho, e as irmãs riram.
— Eu te odeio, sabia? — Corine fez um bico.
— Não odeia não. — Emilly riu, balançando a cabeça. — E voltando ao que começou tudo isso, Mel, pode continuar contando sobre seu beijo nos jardins. — As duas voltaram a olhar para Melissa, que suspirou.
— Foi só isso, um beijo. Um beijo incrível e forte, sim, mas só um beijo. E então no baile de Callendale, quando ele veio falar comigo, ele não tinha ideia de que eu era a garota do jardim. Ele mesmo admitiu que foi atrás de "Lady Melissa" porque era uma boa opção de esposa por ser uma solteirona sem mais opções. — Ela revirou os olhos, fazendo uma imitação forçada da voz dele. — E que era conveniente que eu fosse a desconhecida que ele beijou no jardim.
— O quê?! Eu não acredito nisso. Que homem horrível, ridículo e...
— E honesto. — Emilly cortou o chilique da irmã mais nova. — Pense bem, Cori. Ele não a enganou se fingindo de apaixonado apenas para deixar ela de lado após se casarem. Ele deixou claro o que quer, para ela aceitar sabendo no que está entrando. — Ela se virou novamente para Melissa. — E aquele dia no Hyde Park que vocês conversaram perto do Serpentine? O que aconteceu?
— Ele veio de novo com essa história de ser meu futuro noivo. E ele ficou me provocando, vocês não fazem ideia do quanto ele me irrita! — Melissa bufou, batendo a cabeça contra o travesseiro enquanto ouvia Emilly rir.
— Hayston também me irritava, esqueceu? Aquela mania dele de ficar me chamando de "garotinha" como se eu fosse uma criança, quer dizer, ele é só doze anos mais velho! — Emilly balançou a cabeça, mas acabou rindo. — Hoje até que eu não me incomodo. Se tornou uma espécie de apelido carinhoso e... o que foi? — Ela se interrompeu ao ver a careta da irmã.
— Hampton me chamou de "princesinha". Eu disse que merecia mais do que um Duque arrogante, e ele veio com uma história de só príncipes estarem acima de Duques e que eu queria ser uma princesinha. "Inha" este adicionado graças ao fato de que eu sou mais de uma cabeça menor que ele. — Melissa suspirou, revirando os olhos para a risada das irmãs. Ambas eram mais altas que ela.
— Sabe o que eu acho? — Emilly sorriu. — Eu acho que você gostou dele. E não gosta de estar sentindo isso, acertei?
— Não! Sim... eu não sei, Emilly. Ele é fascinante e forte, e tem aquela maldita barba inapropriada que o deixa tão diferente... — Ela suspirou, fazendo a irmã rir. — Eu dei um tapa nele, sabia? No Serpentine.
— Não! — Corine praticamente pulou no banquinho da penteadeira, arregalando os olhos. — Detalhes, agora!
— Ele me provocou demais e eu perdi o controle. Só isso.
— Mel, a história completa. — Emilly encarou a irmã, que revirou os olhos.
— Ele ameaçou destruir minha reputação para que tivéssemos que nos casar e começou a citar palavras que me arruinariam. Jardim, noite, árvore, beijo... não creio que estivesse falando sério sobre me arruinar, mas minha irritação foi demais no momento.
— Que horror! Depois disso você certamente não está considerando casar com ele, certo? — Como Melissa ficou em silêncio, Corine perguntou novamente. — Mel?
— Eu não sei. Uma parte do que ele falou era verdade, eu não estou ficando mais nova e o tempo voa. Desse jeito, em breve, eu vou perder toda chance de um casamento e filhos e vou acabar como tia Mary. — No mesmo momento as duas irmãs fizeram uma cara de espanto e ela riu. — Viram só?
— Eu te entendo Mel, mas você sempre sonhou com um casamento por amor. Nossos pais tiveram isso, nós duas temos. Tem certeza que vai suportar ser a única a se casar por um arranjo?
— Oliver ainda não está casado, quem sabe ele arrume um casamento só para manter o nome da família. — Melissa deu de ombros. — Eu só não quero me arrepender depois por ter feito a escolha errada. Mas não sei qual delas é a errada, me casar sem amor ou esperar e arriscar ficar sozinha no futuro.
— Sabe o que eu acho? Que você precisa pensar. E acima de tudo você precisa ser a sua prioridade nessa decisão. — Emilly sorriu. — Não tem nenhuma pressa em decidir, você pode muito bem esperar e ver o que acontece.
— Quem sabe vocês não acabam se apaixonando? — Corine parecia mais esperançosa que a própria Melissa, que apenas sorriu e balançou a cabeça.
— Vamos ver, Cori. Vamos ver. — Melissa realmente queria ver o que aconteceria. E, quem sabe, uma luz caísse sobre ela e lhe mostrasse a solução.

Existia um motivo para Rannolf odiar abrir correspondências: as cartas da irmã. Não importa o quanto ele a ignorasse, Christine continuava o mandando cartas de tempos em tempos. Dizia que se importava com ele, que não queria ter perdido o irmão. Bem, deveria ter pensado nisso antes de fugir com Montrell. Já haviam se passado no mínimo seis meses desde a última carta, tempo suficiente para ele achar que ela havia desistido, mas aqui estava em suas mãos mais um envelope. Suspirou e decidiu abrir e acabar logo com aquilo.

Caro Ranny,


Sou eu, Chirstie. Me perdoe o tempo sem lhe enviar novas cartas ou bilhetes, estive bem ocupada nos últimos meses. Soube que esteve viajando e voltou recentemente, certo? Espero que tenha se divertido. Eu tenho uma notícia nova para lhe contar.
Você será tio! Estou grávida, atualmente com cerca de sete ou oito meses. De acordo com o médico e as parteiras, a data já está bem próxima. Sei que não quer manter contato comigo, mas quem sabe queira vir visitar seu sobrinho ou sobrinha quando nascer. Estarei, como sempre, aguardando uma resposta sua.


Com amor,

Christine Rasbury Montrell.


Rannolf amassou a folha e a jogou em um canto da biblioteca. Maldita fosse Christine, grávida! Era como se ela quisesse desafiar o destino de todas as formas que podia. Se casou por amor, mesmo sabendo o que isso fez com os pais, e agora uma gravidez, mesmo sabendo que foi isso que matou a mãe. Se Rannolf já pretendia manter distância dela, isso só aumentaria agora. Não queria estar perto para ver a irmã morrer.
Rannolf pegou um copo de Scotch e voltou aos envelopes, tentando tirar a irmã da cabeça. Já estava quase desistindo quando viu um envelope com o selo de Briston. Era um convite para jantar na residência Briston em duas noites. Um meio sorriso surgiu em seu rosto e ele momentaneamente esqueceu do problema com a irmã. Ao menos o plano dele parecia estar dando certo. E a Princesinha não perdia por esperar.


Um Duque Arranjado (Degustação)Where stories live. Discover now