Capítulo 1 - Carro despedaçado

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  Imagine um reino totalmente incrível, onde há príncepes e princesas, duques e duquesas, condes e condessas... Onde há também, reis e rainhas, um enorme castelo e um dragão maravilhoso... Pois bem, esse é o meu mundo. Um mundo totalmente meu, onde tudo que eu sempre quis acontece, onde fadas voam tão alto que mal conseguimos avistá-las, onde as princesas são doces e gentis, e o mais legal, onde os dragões residem. Aqui eles não são como histórias em quadrinhos, eles são bons e legais. Bom, pelo menos até você deixá-los com raiva. Se isso acontecer, pode ter certeza de que está ferrado. Da última vez que isso aconteceu, eu ri demais. (Sei que não deveria, mas fazer o que...) Um cara saiu sem um braço e com as duas pernas queimadas. Mas também, quem mandou se meter onde não devia, não é mesmo?
  Mas apesar de todas as dificuldades, continuo amando meu reino. Esse é um lugar mágico e especial e quem entra aqui, jamais esquece. Aqui eu tenho muitos amigos e também, muitas pessoas que me amam. O principal é minha família, é claro... Meus pais e principalmente meu irmão. Tudo aqui é perfeito. Tão perfeito que parece até um sonho. Aliás, eu não me surpreenderia se...
  — Gabriella, desce aqui agora!
  É, estava bom demais pra ser verdade...
  Nem me preocupo em me arrumar nem nada, apenas desço, descalço mesmo. Chegando lá, não vejo apenas minha mãe, mas meu pai também. Era um milagre meu pai estar em casa, afinal ele trabalha na própria empresa e nunca tem tempo pra nada. Raramente o vemos por aqui.
  — Oi, pai — digo e sento
  — Não vem com essa de "oi" pra cima do seu pai não, Gabriella! — minha mãe entra na frente, sem dar tempo do mesmo responder — eu não to acreditando que você foi expulsa de novo!
  — Aff, lá vem o discurso — murmuro
  — Era só o que me faltava! — grita — Faz as coisas e depois não quer ouvir! Ta achando que é quem?!
  — Gabriella, prazer — digo
  — E ainda por cima é debochada! Isso já está passando dos limites! Você tem que aprender a se comportar, parece um animal, por onde passa deixa rastros! Já estou de saco cheio disso! É a quinta escola só esse ano! Roberto, olha o que estamos criando!
  Às vezes minha mãe exagera um pouco. Eu não faço nada demais, só que já ouvi esse mesmo discurso 72 vezes só esse ano, e sim, eu contei a quantidade de vezes que ouvi isso... Eu nunca fiz nada muito grave, mas ela sempre deu um show, só porque estava na frente do meu pai. Esse ano, fui expulsa de apenas 5 escolas em 8 meses, o que é um recorde. Ano passado, até agosto, 12 escolas já não me quiseram mais lá, pelos motivos mais bestas que você possa imaginar. Até agora não entendi porque fui expulsa dessa escola se  única coisa que fiz, foi pegar o carro da diretora (sem pedir, óbvio, se não ia ficar muito sem graça) e bater com ele em um poste. Nem foi algo tão grave assim, só a frente que ficou toda destruída. Consegui pular do carro antes de alguém chegar pra ver o que havia acontecido, mas a maldita mulher conseguiu me alcançar no caminho. Ela concordou que não chamaria a polícia (afinal, uma menor de idade dirigindo um carro ia dar o maior problemão) se meu pai pagasse um valor bem alto pro conserto do carro e mais algumas coisinhas lá. No dia seguinte, tudo estava bem, mas ela não quis me deixar mais estudar lá, pelos "altos prejuízos" que já causei para aquela escola. Segundo ela, foram muitos, mas pra mim nem foram tantos assim. Meu pai nem ligou pra isso, já está acostumado com a filha que tem, mas já minha mãe...
  — Tudo isso é culpa sua, Roberto! Porque quando eu quis educar essa menina, você não deixou! Ficava com dó dela, agora olha o resultado aí! A culpa de estarmos criando esse monstro é sua, toda sua!
  — Tudo bem, Kelly. Eu já entendi que a culpa é minha. — diz meu pai. É quase impossível não perceber sua cara de cu diante dessa situação, até ele já está cheio disso tudo. — Decida o que vai fazer quanto a isso, eu preciso ir trabalhar.
  — Espera! Você não pode deixar isso nas mãos dela, é capaz dela convocar o satanás pra vim me buscar aqui! — grito em protesto, mas não adianta, pois ele já tinha saído... — merda.
  — Para de resmungar, garota. Eu já sabia que ele faria isso, portanto, já até sei o que vou fazer com você. Só preciso fazer mais algumas ligações e enquanto isso, quero que suba para seu quarto. Não quero você bisbilhotando meus telefonemas!
  — Como se eu realmente tivesse interesse em saber com quem você fala. — retruco — De qualquer forma, tenho mais o que fazer.
  Enfim, depois dessa discussão toda, subo para meu quarto e resolvo me jogar na cama.
  Você alguma vez já deixou uma música falar por você, enquanto estava triste ou pensativo? Ta bom, que atirem a primeira pedra naquele que nunca fez isso, ou algo do tipo. Eu mesma, quando estou pensando demais, sempre costumo colocar alguma música triste, não me pergunte o porque. Talvez isso ajude a pensar melhor, ou apenas seja coisa da minha cabeça, quem sabe uma desculpa pra ficar mais pra baixo do que já estou. Às vezes isso é bom, mas nem todos acham isso... Eu só sei que amo deixar a música falar por mim quando já não tenho mais palavras pra me expressar, é libertador.
  Quando lágrimas escorrem pelo meu rosto, simplesmente não ligo mais. Tantas vezes já aconteceram que eu já não me importo mais se acontece novamente. Por fim, choro.
  Então é isso, me chame de rio, se afogue em mim, ou me arraste para baixo, mas a questão é: você não está indo pra baixo. Mas mesmo assim, você não ligou e me arrastou cada vez mais pro fundo, até percebermos que estamos num abismo sem fim. E novamente, você não se importou, pois nunca foi bom em tomar decisões e talvez tenha sido por isso que fui tola em te entregar meu coração, porque entre curá-lo ou partí-lo ao meio, você optou pelo pior.
  — Onde está? — me pergunto enquanto procuro minha pequena caixa — onde eu deixei esse troço?
  Mal me dou conta de onde ela está, quando minha mãe grita lá em baixo me chamando. Reviro os olhos.
  — Justo agora ela tinha que me perturbar?! — murmuro. Enxugo as lágrimas restantes no meu rosto, destranco a porta e desço. — O que você quer?
  — Filha, isso é jeito de se falar com sua mãe?
  — Pra mim é, e você não respondeu minha pergunta.
  Olho pro lado e vejo o motivo de minha mãe estar tão gentil agora. Dois corpos desconhecidos estavam sentados no meu sofá. Duas mulheres, pra ser mais específica. As duas estavam ridiculamente vestidas de rosa.
  A mulher sentada à direita, tinha cabelos ruivos e lisos, que iam até o ombro. Um quilo de maquiagem faziam não muito bem o trabalho de esconder seu rosto pálido e enrugado. Ela provavelmente usava lentes de contato.
  Ao lado dela, estava uma menina morena, que aparentava ter no máximo uns 15 anos. Pele clara, cabelos longos e pretos, sobrancelhas bem feitas... Tinha tudo pra ser uma menininha perfeita, exceto a enorme cara de nojenta que tinha. A vontade de voar em cima dela realmente não era pouca.
  — Quem são essas duas? — pergunto e minha mãe me olha torto — é o que, não posso mais saber quem está na minha casa não?
  Ela revira os olhos.
  — Essas são Kátia e Monique. — responde
  — Oi. — cumprimento sem fazer contato visual — Ta, mas o que quer comigo?
  — Bom, Kátia é sua tia e também diretora de sua nova escola.
  — Tia? — acho que estou me confundindo um pouco.
  — Sim, somos irmãs. — responde Kátia, sorridente
  — Bem que vocês parecem — digo
  — É mesmo?
  — Sim, as duas tem cara de velha.
  Senti minha mãe querendo me matar naquele momento, mas não liguei. Ela sabe que não pode encostar um dedo em mim.
  — Bom, essa é minha filha Monique. — responde a senhora, sem graça. — Ela é aluna, mas também é encarregada de supervisionar os dormitórios.
  — Dormitórios? — pergunto
  — Sim. — responde minha mãe. — Você vai pra um colégio interno.   

Ela Chegou! - Colégio InternoOnde histórias criam vida. Descubra agora