Capítulo 2 - Outro país?!

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  — É o que? Repete pra mim, acho que não entendi muito bem... — falo na esperança disso tudo não passar de um grande mau entendido.
  — Não, você entendeu bem sim! — Monique se pronuncia. Ranço ta vindo... — Nossa escola é um internato, e muito bom por sinal! Temos muitas coisas pra fazer, tanto nas aulas, com os professores, como fora delas, com os alunos.
  — Ta, mas me diz... Há algo que compensa o fato de ter que olhar pra essa sua cara de nojenta todoa os dias? — pergunto
  — Gabriella! — minha mãe berra — dá pra ser mais educada, pelo amor de Deus?!
  — Não — dou um sorriso falso. Ela sempre se irrita quando faço isso.
  — Desculpem, meninas. — fala e me puxa pra um canto afastado do lugar — Olha aqui, eu acho bom você parar de me fazer passar vergonha na frente dos outros, se não...
  — Se não o que?! Vai me bater? Não se esqueça que você não pode...
  — Olha aqui, garota.. — ela levanta a mão pra mim.
  — Olha aqui o caralho, você não é louca de encostar um dedo em mim! Já não basta o que você fez com ele!
  — Para de falar dele! — ela surtou aqui — Já combinamos de não tocar mais no nome dele nessa casa!
  — Não combinamos porra nenhuma, você combinou! Você acha que é assim que se resolve as coisas, esquecendo delas?! para de se achar a adulta e assume logo o que você fez!
  — NÃO FOI CULPA MINHA!
  — Ah, não foi é? Então me explica por que todas as provas apontam pra você? — ela me olha com uma cara de ódio, mas não fala nada — Desculpa, mas você não sabe mentir. — volto pra sala 
  — Você é uma vadia... — fala entre os dentes
  — Desculpem a demora, tivemos que resolver uns probleminhas ali atrás — digo
  — Percebi — Monique sussurra.
  — Que bom que percebeu. Hum, agora pode me dizer o que isso tem a ver com a sua vida?
  — Nada, ué. Mas continuando, o que estávamos falando sobre o colégio mesmo?
  — Sobre as atividades que podem ser feitas lá... — minha tia respinde. 
  — Nem precisa continuar. — digo — Eu não vou pra essa escola nem ferrando.
  — Claro que vai — minha mãe discorda
  — Não, eu não vou.
  — Ah, mas vai sim...
  — Quero ver quem é que vai me obrigar... Isso não passa de mais uma das suas histórias loucas, eu não vou estudar em um colégio interno.
  — Eu posso até não te obrigar, mas pode ter certeza que o seu pai vai. Ele ja aprovou minha ideia.
  — Não, ele apenas disse que você resolvia o que ia fazer comigo, mas certeza que ele jamais deixaria isso...
  — Bom, você acrediteando ou não, sua matrícula já está feita e sua passagem está sendo comprada nesse exato momento. 
  — Hã? Passagem? — não to entendendo qual é a dela.
  — Ih, esqueci de dizer... Mas a escola fica nos Estados Unidos. — rio.
  — Só pode estar de brincadeira né?
  — Não, eu não estou. Você não tem mais escolha, Gabriella. Finalmente vai ter as consequências fo que merece. Seu pai está comigo nessa e eu realmente espero que não se importe em deixar sua prima dormir no seu quarto durante essa semana, pois as duas ficarão aqui nesse período e Kátia irá dormir no quarto de visitas. Ela precisa de um pouco mais de privacidade.
  — Eu não to acreditando que você está fazendo isso...
  — É, eu estou. Agora suba e ajude Monique a arrumar as coisas lá em cima.
  Confesso que o único motivo pelo qual eu subi aqui depois da minha mãe ter mandado, foi porque eu realmente não quero que essa menina fique fuçando minhas coisas. Eu sempre tive muito ciúme do meu quarto. Cada canto foi milimetricamente planejado por mim e pelo meu pai, de um modo que tudo ficasse perfeito. Hoje esse quarto guarda todos os meus maiores segredos e lembranças. Apenas uma pessoa que realmente me conheça poderá descobrir o que realmente há por aqui... Mas isso não vem muito ao caso agora.
  — Onde eu durmo? — pergunta
  — Você não trouxe nenhum colchão? — reviro os olhos de tanta estupidez.
  — Não ia caber na mala né.
  — Ué, fazia caber. Agora me diz você onde vai dormir.
  — O quarto é seu, você que tinha que saber onde tem espaço sobrando.
  — Minha querida, por mim você nem tinha saído da sua casa pra vir até aqui, então saiba que não está sendo bem vinda. Agora me explica por que eu teria que saber onde você vai dormir? — ela revira os olhos. Suspiro.
  — Ta difícil... — sussurro. — A cama é de casal, dá pra dormir nós duas aí. Fica de um lado que eu fico do outro.
  — Ah, obrigada. — ela começa a guardar as coisas e eu a ajudo. — Não precisa de ajuda, não são muitas coisas assim.
  — Precisa sim, não quero que mexa nas minhas coisas.
  — Ah, entendi. — fala sem graça.
  Ficamos mais alguns minutos ali, apenas guardando as coisas em silêncio. Nenhuma palavra saía de nossas bocas. Até que ela parecia bem menos chata enquanto estava quieta. Depois de mais alguns minutos arrumando as coisas, fui tomar banho. Quando saí, ela entrou e eu fiquei ali na cama mexendo no celular até dar a hora de dormir.
  Eu nunca tenho hora certa pra dar sono e geralmente quando durmo com alguém, o sono simplesmente não vem. Não sei o motivo, talvez seja porque não confio em qualquer pessoa pra estar do meu lado enquanto durmo e talvez Monique seja uma dessas pessoas.
  Bom, então vamos analisar a situação... eu estou sem sono e também não to afim de conversar com ninguém no whatsapp. Sabem o que isso significa? Exato, estou completamente entediada.
  Geralmente quando isso acontece, eu facilmente arranjo algo pra fazer, me distraio com qualquer coisa, mas hoje isso não estava acontecendo. O tédio veio, e veio com força. Como não tenho o que fazer, decido ir pro terraço do prédio olhar a vista lá em cima.
  — Hum, aonde vai? — ela pergunta desviando o olhar do celular por um segundo.
  — Ué, te interessa? — visto um moletom e saio andando.
  As vezes eu sinto que sou grossa demais com as pessoas, realmente. Mas a verdade é que nem sempre eu fui assim. Houve uma época da minha vida onde eu era boa com todo mundo, mas a questão é que as pessoas nunca foram boas comigo. A maioria delas são más e não ligam pros seus sentimentos. Muitas vezes, você até tenta mudar a sí mesmo pra agradar uma pessoa que você acha que vale a pena, mas quando percebe, ela já pisou em você. Agora você está perdido e sem chão, afinal ela era tudo em sua vida. Não há mais saídas. Mas com o tempo você aprende que era melhor elas não estarem ali. Também aprende a controlar seus sentimentos e lidar com pessoas. Infelizmente, sempre tem que ser a ferro e fogo, ou então você sempre se fode no final. Depois de ter quebrado a cara muitas vezes, é muito raro eu realmente não ser fria com uma pessoa, e é por isso que algumas sentem falta até hoje. Mas isso não me importa mais. Não quando tenho esse céu maravilhoso pra admirar enquanto respiro esse ar fresco.
  Você tem que admitir que as estrelas foram uma das melhores criações que Deus fez por aqui. Elas são as coisas mais lindas de se ver, apesar de estarmos sendo um pouco iludidos ao olhar pra elas. Elas parecem estar tão próximas umas das outras, não é? Mas quando realmente nos damos conta, percebemos que na verdade elas estão totalmente distântes. O vazio ocupa o espaço entre cada uma elas. Talvez você consiga fazer uma comparação disso com diversas situações da sua vida, como por exemplo, quando você pensa que alguém está contigo pra tudo, mas quando se dá conta, ela está extremamente distante e a única coisa que sobrou pra você é o vazio. Você já não faz mais diferença e a menos que algo aconteça com você, ela vai nem se quer vai lembrar que algum dia você esteve ali. Por isso na maioria das vezes eu fico na dúvida entre continuar e não continuar, entre ir ou ficar, entre pular ou não pular... Não faria diferença acabar com tudo agora ou depois, todos vão morrer, eu apenas estaria adiantando o processo. No final, todos seremos lindas estrelas a brilhar na imensidão do céu...
  É estranho dizer de que maneira vejo isso, ou como isso faz sentido na minha mente. Talvez nem faça pra você, mas eu sei como é, eu sinto todos os dias, sei que é real. Pensamentos e mais pensamentos surgem e no final, quando você se dá conta, nem alí está mais. Sua mente já está vagando em outro mundo em busca de um lugar mais seguro... e você? Você já está prestes a se destruir.
  — Ei, está frio aqui em cima, não acha? — ouço uma voz atrás de mim.
  — Ham? — olho pra trás.
  — Vamos entrar. — é Monique
  — Não, eu quero continuar aqui em cima. Pode ir, eu vou ficar bem.
  — Tudo certo.
  Ela saiu. Bem na hora... Por que tinha que ser logo agora, justamente nesse momento? O silêncio me respondeu. Então por mais alguns minutos, isso era tudo o que havia ali.     
  Passou. Minha mente finalmente acalmou, então decido descer de uma vez. Talvez esteja realmente ficando tarde pra mim. Chegando lá, apenas deito e durmo, pois não conseguia nem mais um segundo pensar em tudo o que havia acontecido em apenas um dia.  

Ela Chegou! - Colégio InternoOnde histórias criam vida. Descubra agora