— Entra no armário, entra no armário, corre — ouço um sussurro que não faço a mínima ideia de onde veio. Ao saber das circunstâncias da situação, decido obedecer, pois é a melhor coisa a se fazer agora.
Está ficando cada vez mais próximo. Ele me quer, eu sei disso. No momento, tudo o que eu penso é em fugir, mas não dá, pois ele está em todo o lugar: desde o meu melhor sonho até o meu pior pesadelo.
Tento ao máximo não me mexer alí dentro, muito menos fazer barulho. Eu não posso ser descoberta de jeito nenhum...
E é é agora, quando você está entre a vida e a morte, que tudo vem a tona... todos os momentos, todas as brigas, todas as palavras, os lugares, os sorrisos... Ah, aquele sorriso... Que saudade que eu sinto! Mas o que eu posso fazer? já não tem mais jeito, não há mais como mudar nada. A única coisa que eu não posso fazer é me entregar, jamais. Eu prometi a ele que não deixaria aquilo me pegar... Mas e se eu não conseguir cumprir a promessa? Eu sou totalmente igênua e inútil, como ele deixou uma tarefa tão importante nas minhas mãos? Eu não consigo fugir desse monstro, eu tenho muito medo dele e isso tá me matando. Eu não posso, sei que não consigo, mas eu fiz uma promessa e não posso me dar ao luxo de descumprir. Ele está morto agora e, se eu realmente o amo, tenho que conseguir fazer o que ele me pediu minutos antes de ir...
Ouço passos. Ele entrou no quarto. Sei que me procura, eu tenho o que ele quer. Eu não posso deixar ele me encontrar.
A respiração se aproxima. Meu coração acelera, mas não posso me dar o luxo de ter minha respiração acalerada também.
Ele não consegue ver nada, consegui dar um jeito de deixá-lo cego em uma luta antes de chegar até aqui. Mas quanto menos ele vê, mais ele vai querer ouvir...
Preciso enfrentar o meu medo em nome dele! Ora, e o que te faz acreditar que você vai conseguir?
Eu tenho que conseguir. Eu o prometi...
Sim, você tem... Mas não podemos ignorar o fato de que você é totalmente inútil. Principalmente contra um monstro desses. Olhe para trás. Veja por tudo o que você passou. Apesar de ser passado, ele sempre irá refletir em seu futuro.
Não sei o que fazer... Ele está se aproximando cada vez mais, minha respiração já está descontrolada e eu não consigo pensar em uma maneira de escapar...
Não pense. Você não vai conseguir. Você não é capaz, sempre soube disso... Foi você que ocasionou a morte dele e além de tudo, ainda ficou lá parada, olhando... Não teve a mínima coragem de fazer NADA! VOCÊ É COVARDE!
Eu quero chorar. Tenho apenas dez anos, não sei como resolver isso!
Você é uma perdedora. É uma covarde. Uma idiota! não se há esperanças de conseguir nada que esteja em suas mãos...
Para, por favor!
Parar...? Por quê? Você sabe muito bem que eu estou certa, sempre estive.
Não, você não está... Para, para!
Claro que estou! Sabe por quê?
P...p...por quê?
Porque eu estou dentro de você. Eu estou no teu pensamento desde que você acorda até a hora que vai dormir... Sou aquilo que te controla, que pode ser a tua melhor amiga, mas também a sua pior inimiga... Sou a razão de todos os seus surtos, de todos os seus pesadelos, sua insegurança... Eu sou a sua mente!
Não posso mais aguentar isso.
— CHEGA! — grito
Ele me escuta. Agora sabe onde estou. Se aproxima do armário... Em três segundos ele abre a porta.
Merda... Tenho que dar um jeito de te tirar daqui.
COMO?! NÃO DÁ!
Pra tudo há uma solução, querida...
~Som do despertador~
[Day 7/ 9:34 A.M.]Passo a mão pela cabeceira até achar o despertador para desligá-lo. Acordo bem ofegante e assustada, normal pra quem acaba de ter um pesadelo.
Eu não sei vocês, mas eu sempre acordo com sono. Dá vontade de me jogar na cama e ir dormir de novo, sem ligar pra nada, mas infelizmente hoje tenho bastante coisa pra fazer, então eu levanto, escovo os dentes, visto qualquer roupa e desço pra ver o que há lá em baixo.
"Meus amigos em volta sorrindo, se diventindo, melhor não podia estar! Oooh, hoje a festa é da cinderela, qual meu nome? Larissa Manoela... Todos cantam parabéns! Entre nessa você também!"
— Mas que porra é...
Olho pra baixo e... Sim, o que eu menos esperava está acontecendo. Minha mãe, junto com minha prima escutando Larissa Manoela e dançando que nem duas doentes. O que mais me surpreendeu foi que a vida inteira minha mãe teve um nojo da cara dela, por que ela ta escutando as músicas agora?
— EI, DÁ PRA ABAIXAR ESSA MERDA? — grito e elas fingem que não me escutam. Desço as escadas e eu mesma desligo o aparelho de som — é o que isso aqui?! Resolveram fazer uma festinha pra comemorar minha ida? — elas se calam — Hum, imaginei.
Deixo a sala e vou até a cozinha ver alguma coisa pra comer. Pelo menos a Elisa – a empregada – tinha deixado algo pronto ontem, pois sabia que hoje seria o dia de minha viagem. Como eu sou MUITO sortuda, logo hoje é seu dia de folga então não terei ninguém pra me ajudar em nada.
— Já fez suas malas, querida? — minha mãe fala num tom de deboche
— Por que isso te interessa? — pergunto
— Realmente não dá pra ser gentil com você — reclama
— Você não ta sendo gentil. Eu te conheço desde que nasci, sei como é! Por que se importaria tanto? Não são apenas algumas malas que vão te impedir de ficar longe de mim. — ela se cala e então sai da cozinha
Depois de comer alguma coisa, prefiro ir pro meu quarto até dar o tempo de ver as coisas para viagem.
Sei que pode parecer esquisito o fato de eu não querer ir pra outro país bem melhor que esse, por sinal. Vou ter tudo que eu quero lá, – exceto estar num internato – já que meu pai vai me mandar dinheiro sempre... Mas eu me pergunto: qual é necessidade? Eu não sou uma boa filha, disso todos sabemos. Mas precisa mesmo me levar pra estudar num colégio interno longe de todos os meus amigos? Se é que eu tenho amigos, né... Mas infelizmente, sou obrigada a aceitar isso.
[...]
— Tá bom, acho que já peguei tudo o que faltava — digo
— É bom conferir, não acha? — meu pai abre a porta do quarto e senta na minha cama, me observando.
— Eu já conferi duas vezes, não há necessidade de ver mais nada.
— Você parece muito comigo, quando era pequeno — diz rindo
— Por quê?
— Antes de fazer qualquer coisa, lembro que ficava conferindo tudo várias vezes pra ver se estava tudo em ordem. Era cansativo, mas valia a pena.
— Realmente. — paro e penso — Você quer me levar no aeroporto?
— Mas Kátia e Monique vão com o motorista. Elas não vão querer ir com a gente.
— E eu com isso? Não gosto delas mesmo, quanto mais distância, melhor. — ele ri — E então, vai querer me levar ou não?
— Vamos lá então. — diz sorrindo — Deixa que eu levo suas malas, senhorita.
— Para de me chamar assim, pai. — rio — Até parece que você virou o motorista agora.
— Para de cortar o meu barato — ele pega minhas malas e vamos até o carro. Chegando lá em baixo, como sempre, minha mãe me olha torto.
— Por que está levando as malas de Gabriella, amor?
— Eu vou levá-la ao aeroporto.
— Que? Não precisa, deixa que o Sandro faz isso
— Não, eu quero levá-la. — diz e ela se surpreende
— Fica na sua ae... — digo — Deixa que o Sandro leva suas amigas, já está de bom tamanho
Saio e entro no carro, no banco do carona. Alguns minutos depois, meu pai entra no carro e nós saímos. O caminho não foi tão ruim quanto imaginava. Nós fomos conversando, rindo, brincando... Acho que fiz bem e ter pedido pra ele vir comigo. Esse foi um dos únicos momentos bons que tive com meu pai depois de tanto tempo.
A hora passou tão rapido que quando percebi, já estava dentro do avião olhando o maravilhoso céu escuro. E aqui começa uma nova etapa da minha vida...
[...]
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Ela Chegou! - Colégio Interno
Teen FictionGabriella sempre foi uma menina forte. Nunca ligou pro que as pessoas falavam dela, e sempre viveu como se fosse seu útimo dia. Ta certo que com as coisas que ela fazia, era bem provável que seria seu último, mas ela nunca ligou pra isso, sempre pre...