Capítulo 4 - Minha melhor amiga vai embora

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  [Day 5/11:45 A.M.]

  Os dias ultimamente tem sido complicado de se lidar. Tenho tido que me despedir de cada amigo meu e colega também, o que tem tomado a maior parte dos meus dias. Mas apesar de tudo, admito que a falta de vontade que eu estou de ver meus pais tem colaborado muito pra eu ficar fora.
  Eu não sei vocês, mas quando eu recebo uma notícia muito chocante, a mesma não sai da minha cabeça por um longo período. Isso tem acontecido comigo desde que soube que iria para o colégio, mas por incrível que pareça, ainda não caiu a ficha de que eu vou estudar em outro país.
  Estou deitada desde que eu acordei, que no caso foi às 9:30 da manhã. Nesses últimos quatro dias, tenho ficado até mais tarde na cama já que Monique acorda cedo e eu tenho sentido falta da minha cama só pra mim. Sem contar que cada minuto deitada nela vale ouro, já que não vou fazer isso por um bom tempo... Sem nada pra fazer, abro meu whatsapp e vejo lá uma única conversa fixada. Não é todo mundo que tem essa moral comigo. "Meu melhor" era o nome. Victor...
Eu não falo com ele desde o dia em que o contei sobre o internato. Eu achei que ele reagiria de uma maneira ruim, mas jamais pensaria que ele pararia de falar comigo. Aquilo me doeu demais, eu me lembro exatamente de cada palavra que ele me falou... Chorando, ele disse: "é... É melhor a gente se afastar, Gabriella. Eu não quero sofrer por mais uma pessoa que se foi." E então foi embora correndo.
  Eu sempre fui uma garota com personalidade muito forte e também sempre soube esquecer os outros de maneira surpreendente. Porém, tem horas que a pessoa chega num ponto onde ela já não aguenta mais ser forte, onde ela já não consegue mais prosseguir. Eu estou passando por isso e acredite, é horrível. Mas eu não tenho mais o que fazer, já tentei tudo que era possível, porém não há mais saídas. O jeito agora é seguir em frente, mesmo que doa, mesmo que eu tenha que pagar minha conta com sangue... eu só tenho que seguir em frente.
  Podem falar o que for, mas a pior sensação do mundo é querer chorar, mas ter alguém ali na sua frente e você não poder demonstrar que está triste. Isso estava acontecendo comigo nesse exato momento. Minha prima no meu quarto, mexendo nas coisas do armário, fofocando no telefone, e eu deitada na cama olhando pra ela com raiva por ela estar ali. É impressionante como duas meninas podem passar tantas horas em apenas uma ligação falando sobre nada mais, nada menos do que meninos! Ela está em ligação faz umas três ou quatro horas com uma tal menina apenas falando dos "boys" que elas andam ficando. Enquanto isso, eu e minha melhor amiga passamos três ou quatro horas falando sobre comida ou... Memes! É foda...
Por falar em melhor amiga, é hoje que eu vou visitar a Sofia... Vai ser muito, muito difícil mesmo ir lá, porque eu ainda não contei a ela sobre o internato e eu tenho certeza que ela vai ficar muito triste com tudo isso. Somos o porto seguro uma da outra, ela é a única pessoa que eu sei que posso realmente contar. Eu tenho muito orgulho de falar dela, pois ela foi a única menina que conseguiu me fazer confiar nela até hoje. Todas as outras foram falsas comigo, exatamente por isso que eu tenho muito mais amigos meninos do que meninas. Mas ela não. Diferente de todas, ela permaneceu do meu lado quando mais precisei e nunca me deu motivos pra não confiar nela, por isso eu a amo tanto... realmente vai ser uma tortura ter que vê-la chorar ainda mais por minha causa. Não sei se vou aguentar tudo isso...
  — Tá, amiga, mas e o Bruno? O que você vai fazer em relação a ele? Você sabe que ele gosta de você...
  — Eu não me importo — responde Monique. Vejo que ela está mexendo em uma parte do armário onde ela não devia... — Ele sempre falou mal de mim e agora que eu fiquei bonita ele quer me pegar? Tadinho dele se ele acha que vai conseguir...
  — Mano, tira a mão daí.. — falo
  — Que? — ela não ouviu
  — Tira a mão daí antes que... — de repente, tudo cai no chão.. — EU FALEI PRA TU TIRAR A PORRA DA MÃO DAÍ
  — Descul... Pera, o que é isso? — puta merda, ela achou a caixinha que eu estava procurando — Letícia, depois eu falo contigo — desliga o celular. Ela abaixa pra pegar a caixa. Eu corro pra tirar da mão dela, mas ela desvia.
  — Monique, deixa isso agora...
  Essa caixinha o que mais tem história minha pra contar. Eu estive com ela em todos os piores momentos da minha vida. Quem diria que uma caixinha tão pequena podia guardar coisas tão significantes pra mim. Mas o que há alí dentro pode fazer pessoas se assustarem ou até me julgarem por isso. Por esse motivo eu odeio quando alguém mexe nela, prefiro evitar comentários escrotos pre cima de mim.
  — O que é isso? — ela pergunta
  — Não é da sua conta, me dá a merda da caixa — ela já está tirando a minha paciência...
  — Não, eu quero ver o que tem.
  Ela tenta abrir, mas antes que isso aconteça, derrubo ela no chão e seguro seus braços. Ela começa a se debater, mas é totalmente em vão... Ela sabe que sou mais forte, nem adianta. Pego a caixa de suas mãos e solto ela.
  — Hm... muito obrigada por achar ela pra mim — digo e saio do quarto.
  Essa menina realmente me estressa. A pior ideia da minha mãe foi ter feito ela ter que dormir no meu quarto. A parte boa de ir pra esse colégio é que logo não terei que dividir uma cama com ela né.
  — Bom dia, filha — ouço a voz do meu pai. Quando me viro, vejo ele sentado no sofá tomando um café e lendo o jornal.  
  — Ué, por que não está na empresa? — pergunto — é raro te ver aqui essa hora.
  — Resolvi dar uma passada aqui pra te ver. — ele deixa o jornal de lado — Sente-se aqui, tenho que conversar com você. — me sento no sofá
  — O que você quer? — pergunto
  — Nada demais... Só queria conversar mesmo.
  — Então diz, ué.
  — O que me diz da gente sair hoje a noite? Faz tempo que não saímos juntos.
  — Quer sair comigo pra que, se despedir? Percebeu a merda que ta fazendo em me levar pra outro país e agora quer se redimir comigo?
  — Gabriella...
  — A mano, chega... Você não se importa comigo, eu sei disso. Desde que aquilo tudo aconteceu, você nunca mais demonstrou amor por mim, só pela sua empresa. Foi duro conviver com aquilo, mas eu já me acostumei. Só por favor, não venha pra mim fingindo que você liga pra alguma coisa, porque você já provou o contrário faz tempo. Agora é tarde demais. Passar bem. — me levanto do sofá e saio. Ta cada vez mais complicado lidar com tudo isso.
  Depois de uns 15 minutos, resolvo comer alguma coisa e vou direto para o banho. Visto uma roupa comum e vou a caminho da casa da Sofia.
  [...]
  — Sofiaaaaaaa, você sabe que o Dyllan é mais bonito, para de discordar de mim.
  — Sim, ele é bonito, mas olha o Mike! Ele é um Deus grego...
  — O Dyllan continua sendo mais bonito...
  — Aaaaaaa tá! Chega... Vamos comer, a gente já ta aqui faz uns 15 minutos discutindo por meninos da série
  — Somos loucas? Sim ou claro? — falo rindo
  — Claro que sim — ri — agora vamos comer...
  — Hum, tem Nutella?
  — Tem, Gabriella — revira os olhos
  — Aeeeeee — sorrio — vamosss
  Cheguei aqui já faz mais ou menos uma hora. Sempre achei impressionante o modo que Sofia me faz esquecer dos problemas. Ela começa a falar um monte de coisa que não tem nada a ver, mas sempre consegue me fazer rir... E foi isso o que ela fez, por um momento eu até esqueci o que realmente tinha ido fazer alí...
  — Eu preciso te perguntar o que você quer comer? — pergunta — Ou já te dou logo o pote de Nutella?
  — Você me conhece... — respondo e ela me joga um pote enorme de Nutella. É incrível como apenas um potinho consegue me fazer tão feliz. Enquanto como, ela prepara um sanduíche bem grande pra sí.
  — Ta bom... Eu ia falar alguma coisa, mas esqueci — reviro os olhos
  — Que novidade você esquecer das coisas
  — Claro... — diz — Hm... Lembrei!
  — Diga
  — E o que rolou depois daquele lance do carro da diretora?
  — Fui expulsa de novo — sorrio e me sento em cima da mesa
  — Hum, já era de se esperar... Vai estudar aonde então? — pergunta e dá um gole no suco
  — Então... — droga, eu não queria ter que contar isso agora
  — Então...? 
  — Meu pai me colocou em um colégio interno.
  Ela ri.
  — Você vai ser expulsa de lá em uma semana... Nem liga muito, você já sabe que não vai conseguir ficar lá.
  — Eu sei, mas... O que eu não mencionei é que a escola fica nos Estados Unidos...
  — Que? Tá brincando né? Não, você não pode ir embora... — ela olha fixamente pra mim e corre pro quarto.
  Como eu odeio ver Sofia daquele jeito!
  Largo a Nutella e vou atrás dela lá em cima. Tento abrir a porta do quarto, mas está trancada.
  — Ei, Sofia! Abre a porta!
  — Não quero — eu sei que ela está chorando...
  — Princesa... — respiro fundo — Eu sei o quanto vai ser duro, não só pra você, mas como pra mim também. Eu fiquei a semana toda remoendo isso na minha cabeça pensando numa forma de conseguir te contar isso sem te magoar, mas eu sabia que não daria certo... É só que... Eu te amo... E eu ainda estou aqui, então por favor, abre essa porta, vamos conversar...
  Alguns segundos depois ela abre a porta e eu vi que ela estava mal... Eu sei quando ela está assim. Eu apenas a abraço, pois sei que nada que disser vai valer a pena. Ficamos alí durante alguns minutos. Depois que ela se acalmou um pouco, nós começamos a conversar sobre como seria estudar num internato. Passamos o resto da tarde inteira ali, até a mãe dela chegar.
  Fui embora a noite e quando cheguei, fui direto pra cama. O prazo estava acabando, o grande dia estava chegando... E eu tinha que me preparar...

 

Ela Chegou! - Colégio InternoOnde histórias criam vida. Descubra agora