Correr. Isso é realmente tudo o que me vem na mente nesse momento. Fugir. Sim, fugir, eu preciso fugir, eu preciso encontrar uma maneira de sair daqui o mais rápido possível, mas eu estou presa, ele está vindo atrás de mim e eu não sei o que fazer. Tento sair, tento correr cada vez mais rápido, mas a cada segundo que passa parece ele se aproxima mais de mim.
Queria pelo menos conseguir sair desse lugar, isso tudo se tornou tão idiota, eu estou fugindo de algo que eu mesma criei. Eu dei forças a ele, o alimentei até ele ficar grande e forte e agora ele me persegue como se não houvesse amanhã. Ele quer minha alma, ele quer meu corpo, ele me quer, quer me matar. Me sinto uma inútil por não conseguir controlá-lo ou fazê-lo parar, eu tento, mas ele não me escuta, ele quer ver sangue...
Não há mais saída. A cada centímetro que corro ele ganha mais velocidade e está ficando cada vez mais próximo. Se eu me entregar talvez seja melhor, não terei mais que correr, não precisarei fugir, nem terei mais o que temer... Quem sabe se eu deixar ele me dominar, ele me ajude, abra meus olhos e me faça pensar de uma maneira diferente. Talvez ele possa desvendar o mundo junto comigo, tudo isso se eu aprender a controlá-lo.
Eu paro de correr. Chega de fugir dos problemas, chega de tentar correr quando não se há mais saídas, chega de achar que há uma luz no fim do túnel, afinal de que adianta a esperança de conseguir algo se o destino escolheu outra coisa pra você? Ele para atrás de mim. Todo meu corpo esta arrepiado nesse momento, eu estou em choque, paralisada. Sinto que estou pálida. Nesse momento meu coração já está acelerado, sinto que tomei a decisão errada, mas agora não posso mais mudar nada. Agora ele me controla. Todos os meus pesadelos se tornaram reais naquele momento, toda a minha felicidade foi arrancada de mim e jogada fora, todo sentimento bom foi levado embora e a única coisa que me restou foi dor.
Péssima escolha. Sim, eu sei que fiz uma péssima escolha. Não devia ter deixado ele me dominar assim, fui tola em achar que em algum momento eu poderia conter esse monstro... Por causa de um único erro, agora ele me controla... ele tem domínio total sobre mim, sobre o que eu sinto, sobre a minha personalidade... Agora ele passou a ser parte de mim, e ele quer me matar.
[Day 1/7:38 A.M.]Abro os olhos repentinamente. Coração pulando, respiração acelerada, estou suando... Sim, mais um pesadelo acaba de acontecer.
— merda... — sussurro
Eu nunca costumei questionar muito os meus sonhos, pois na maioria dos casos eles acabam acontecendo direta ou indiretamente, mas ultimamente eles tem passado um pouco dos limites. Pesadelos como esses me assombram todas as noites... Geralmente eu tento não pensar em nada desse tipo antes de dormir, não queria mais ter contato com sonhos assim, mas eu não consigo controlar isso.
Olho a hora no celular, e porra... São 7 da manhã ainda, não acredito que eu acordei esse horário por causa de um maldito pesadelo... Eu sou muito trouxa mesmo.
E bom, a partir de hoje, já entro em contagem regressiva para aquele inferno. Outro país? Da onde que meu pai achou que isso faria bem pra mim? Só se for na cabeça dele.
Se bem que já não era de se estranhar que meu pai tivesse umas ideias malucas assim. Da última vez que eu tive um contato decente com ele, ele sugeriu me colocar numa aula de balé alegando que ia ser bom pra mim. Cada dia eu me surpreendo mais com o quanto meu pai me conhece. Em pensar que éramos tão próximos quando eu tinha dez anos...
— Bom dia. — Monique chega por trás, secando os cabelos.
— Dia.
Abro meu WhatsApp e vejo uma mensagem do meu melhor amigo me chamando pra ir no mesmo lugar de sempre, pra me ver. Ele deve estar matando aula, certeza. Eu aceito ir, afinal já faz uma ou duas semanas que não o vejo e estou com saudades. A única coisa que eu estou preocupada é se vou conseguir dar a ele essa notícia. Tudo bem, eu tenho esquecer disso, afastar esse pensamento da minha cabeça, afinal isso está me matando. Respiro fundo, entro no chuveiro e vou tomar um banho. [...]Eu nunca fui de me arrumar muito pra sair, principalmente de dia e isso foi o que mais incomodou meu pai durante anos. Na época em que éramos próximos, ele comprava todo tipo de vestidos, saias e blusinhas de menininhas pra mim, mas eu nunca usava. Nunca achei que esse fosse meu estilo e estava certa. Hoje em dia, prefiro muito mais andar com uma blusa que "assalto" do meu melhor amigo do que com um vestido rosinha e com flores e por sinal, é exatamente isso o que visto pra sair. Blusa preta, (que era dele, por sinal) short e vans preto também. Bem basiquinha, uaaaiiii. Ta, eu realmente tenho que parar de escutar Mc Loma. Pego meu celular, meu fone de ouvido e saio.
É bem ruim ter a cabeça vazia, pois você sempre acaba pensando em todos os seus problemas. Como dizia meu avô: "cabeça vazia é oficina do diabo."... Desde pequena, eu nunca fui muito de lidar com pessoas, mas isso nunca foi um problema tão grande assim, ainda mais pra mim, que gosto de ficar sozinha. Mas a questão é que não sei se vou conseguir viver em outro país, com outras pessoas, outros costumes, outra língua, outra escola... E se eu não conseguir me acostumar lá? Foram necessários anos pra conseguir todos os amigos que tenho aqui, como vou fazer amigos lá?? Eu não conheço ninguém, o que vou fazer caso algo aconteça, ficar em casa, chamar a polícia? Mano...
Aff, Gabriella... você tem que parar de ficar calma. Você não precisa de ninguém, sabe disso.
É, eu realmente tenho que parar de pensar nisso antes que eu fique louca. Eu não vou ter ninguém, mas também não preciso de ninguém, tenho que me conformar com isso.
— Oooi, meu anjo — Victor me abraça por trás e começa a me apertar
— Ooiii, troço — ele me vira de frente pra ele
— Ui, que grossa você.
— Eu? Nem sou. — sorrio
— Nãããooo, ata.
— Mas gente, que calúnia. Eu nunca fui grossa com ninguém, você não tem o que reclamar.
— Comigo pode até ser que não, mas com ninguém já é demais né, Gabriella? — ele me solta e continuamos andando pelo parque.
Aqui sempre foi o melhor lugar pra gente se encontrar. Brincamos por aqui a infância toda, conhecemos esse lugar melhor do que qualquer outro, pode ter certeza. Isso aqui significa muito pra gente, por isso na maioria das vezes que nos vemos é aqui. Sentamos em um dos bancos do parque.
— Mas me conta, como vai?
— A, eu vou bem. E você? — respondo olhando fixamente para uma pedrinha que brinco com os pés.
— Também. Mas tem certeza de que você está bem?
— Sim, por quê?
— Eu te conheço...
— Não conhece nada, rhum
— Conheço sim, sempre que você esconde alguma coisa, não consegue olhar diretamente pra mim. Geralmente você fica brincando com algo.
— Aff, eu te odeio tanto
— Por que gente?
— Você me conhece tão bem... — começo a chutar a terra
— Eu sei disso. Agora me conta o que está havendo. — respiro fundo
— Eu não sei se vou conseguir te contar isso, mas...
— Só vai.
— Tá... Você lembra de quando eu comentei com você na ligação que ia fazer alguma coisa pra compensar aquele castigo que a diretora me deu, né? — ele confirma — Então... Eu tive a brilhante ideia de pegar o carro dela emprestado (sem pedir, claro) mas eu bati com ele em um poste. Ela veio atrás de mim, chamou meus pais, a polícia veio, deu mó k.o, mas ela acabou não registrando nada, ficou tudo como estava. Meu pai pagou um valor que ela pediu e eu saí impune... Mas a questão é que depois disso tudo, ela acabou me expulsando da escola.
— Por que será que eu não estou surpreso?
— Tá, mas a pior parte disso é que agora eu vou ter que ir pra um colégio interno.
— Isso é o de menos, bb... Colégio interno é ruim, mas dá pra suportar, e outra você conse...
— Sim, mas a escola fica nos Estados Unidos e eu vou estar indo pra lá daqui há seis dias.
— É o que?
— Sim. É exatamente isso que você ouviu.
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Ela Chegou! - Colégio Interno
Teen FictionGabriella sempre foi uma menina forte. Nunca ligou pro que as pessoas falavam dela, e sempre viveu como se fosse seu útimo dia. Ta certo que com as coisas que ela fazia, era bem provável que seria seu último, mas ela nunca ligou pra isso, sempre pre...