"O Efeito Ellie"

"Adrenalina e outras drogas"

Acho que minha mãe estava empolgada em receber Ellie porque quase nunca comíamos no mesmo cômodo. É engraçado como as pessoas se empolgam com coisas novas, como até um pequeno par de brincos ou uma visita de ente pode mudar dia de uma pessoa.
- Então, vocês se conhecem a quanto tempo? - Minha mãe perguntou entre uma mordida e outra enquanto se encostava no balcão da cozinha. Eu e Ellie estávamos sentados nos bancos turquesa da cozinha.
- Na verdade faz pouco tempo...
Deixei sem querer um pedaço de queijo cair na minha calça jeans formando uma mancha.
- ...Foi em uma festa na casa de uma amiga... - Ellie me interrompeu, eu já estava acostumado.
- Ah, mãe, como vai na empresa? - Tento mudar de assunto.
- O de sempre, meu querido!
Depois da pizza e da insistente entrevista, Ellie disse que já estava tarde e foi para casa, minha mãe foi ver o noticiário e eu escutei baixinho The Smiths no meu quarto até cair no sono.

Na manhã do dia seguinte, quando eu acordei peguei o telefone sobre a escrivaninha e liguei para Ellie. Eu tenho certeza que acordei diferente naquele dia, acho que não era realmente eu. Eu não me sentia eu mesmo, o que parecia algo bom.
- Oi, Ellie? - Disse ao telefone ainda sentado na cama.
- Oi... - A voz saiu rouca e sonolenta.
- E se nós matassemls aula hoje?
Meus níveis de adrenalina deviam estar altos naquele momento que eu nem cogitei receber um "não".
- Como você me conhece tão bem? Vou passar aí daqui a pouco - Ellie desligou o telefone antes de me deixar dizer qualquer coisa.
Me troquei, penteei meus cabelos, escovei os dentes e desci. Minha mãe estava tomando café no sofá e falava com alguém no telefone.
- Bom dia!
- Oi, querido! - Disse baixo e voltou a falar com quem quer que seja.
Mordiscava uma maçã quando escutei a buzina do carro de Ellie.
- Tchau, mãe! - Saí pela porta da frente e vi o carro para do do outro lado da rua.
- Vamos, eu não tenho a manhã toda! - brincou Ellie.
Cruzei a rua e entrei no carro. É, ele ainda tinha cheiro de cigarros.
- Próxima parada loja de doces! - Ellie gritou e deu uma arrancada.
- Eu não acredito, sua viciada! - brinquei.
Por alguns minutos, aquele silêncio assustador tomou o carro.
- Você é virgem? - Ellie disparou, me fazendo ficar vermelho.
Fico em silêncio.
- É óbvio que sim, não sei por que perguntei! - Ela provoca e olha para a rua.
- Eu saio com garotas o tempo todo! - Ela sabe que eu menti e não faço questão de disfarçar, eu sou mesmo um baita de um virgem.
- Não, o tipo mulherengo não cai bem em você! - Ela me olha por um segundo e me analisa - Você é fofo, tem cara de quem casa com a primeira namorada ou coisa parecida!
- Isso é bom?
- É, sim! - Ela dá um sorriso de meia lua me deixando mais corado do que provavelmente eu já estou.
- Chegamos? - Pigarreio.
- Não, essa não tem a maravilha que eu chamo de Spoiled Strawberry que eu vou te obrigar a provar! - Ellie estala a língua.
- Devo ficar com medo?
-Sim, quero dizer talvez... - Ellie estaciona em frente a loja rosa mais pomposa da rua - Vic já deve estar aqui...
- Vic? Aquela que você estava... na festa? - Tiro o cinto de segurança, abro a porta e Ellie também.
- Exatamente!

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"I am sick and I am dull
And I am plain
How dearly I'd love to get carried away
Oh, but dreams have a knack
Of just not coming true
And time is against me now...oh"

- The Smiths ( Acept Yourself)