"Senhoras e senhores, bem vindos ao meu grande desastre"

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Quando me perguntavam "quem é você?", eu respondia o meu nome e nada a mais, mas eu não queria só dizer isso; o meu nome não chegava nem perto do que a pergunta "quem é você?" representava. Na verdade eu era muito mais do que o meu nome podia representar e muito mais do que as milhões de pessoas na qual eu também compartilhava o mesmo nome. Eu queria dizer a verdade: eu sou um estranho, um desastre ambulante a espera de que alguma fatalidade aconteça para mudar algo, mas quando Ellie me perguntou isso eu simplesmente congelei, porque no fundo eu não acreditava que daria certo.
Depois de dias e dias planejando, minha cabeça dava nós e nós. Então eu anotei tudo o que sabia sobre ela em uma lista e o que poderia fazer com essas informações:

"Ellie

•Ellie gosta da cor cinza:
°Vestir algo dessa cor.

•Ellie tem um gato:
°Pesquisar mais sobre.

•Ellie é boa pintora
°Pesquisar sobre pintores famosos."

Eu realmente havia feito tudo isso e Ellie realmente falou comigo, mas como isso aconteceu?
Naquele fim de tarde, eu peguei a minha bicicleta azul turquesa que era mais velha do que eu conseguiria me lembrar. Menti para a minha mãe e disse que faria um trabalho importantíssimo na biblioteca do centro, e pelo trabalho ser tão extenso e complicado eu provavelmente só iria voltar depois das dez. Eu deixei a bicicleta na garagem de uma velhinha simpática na qual há algum tempo atrás eu havia ajudado a aparar a grama, que era a duas quadras da casa em que me mandaram a localização. E quando eu cheguei lá?
Todos pareciam mais velhos e completamente chapados. Só o cheiro daquele lugar me dava náuseas e eu não queria acreditar que Ellie frequentava lugares assim. A música estava muito alta e o provável dono daquela casa realmente não sabia o que estava acontecendo.
Eu não encontrei Ellie em lugar algum, então resolvi subir as escadas torcendo para que ela não estivesse em nenhum dos quartos com algum daqueles garotos. É, ela não estava. Em vez disso ela beijava outra garota que estava sentada no balcão da cozinha enquanto segurava uma caneca que dizia "Depois da chuva vem o arco-iris". Enquanto a vi beber seja lá o que estivesse dentro, eu me afastei, desci as escadas e desmoronei no sofá mais próximo.
Eu fiquei lá por um bom tempo. O cheiro daquele lugar estava me deixando um pouco grogue. Senti alguma coisa encostar no meu ombro, como se alguém estivesse me cutucando.
- Ei, quem é você? - A voz dela era diferente do que eu imaginava, era mais fina e macia. Eu estava paralizado e tudo o que saiu da minha boca não passou de gaguejos. Ela jogou o cabelo para o lado. - E por que está sempre me encarando?
- Me desculpa, eu não estava... - Foi o que eu consegui dizer.
- Estava, todos os dias! Isso é meio estranho, sabe. - Falou no tom mais compreensível e calmo que alguém poderia falar, com certeza ela estava mais chapada do que a maioria das pessoas que estavam lá.
- Você está bem... - Antes que eu terminasse a frase, Ellie vomitou no meu ombro, limpou a boca.
- Me leva para casa! - com a cabeça ainda baixa, ela balbuciou.

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"And I know it's over - still I cling
I don't know where else I can go
(Over and over and over and over
Over and over)
I know it's over"

- The Smiths (I know it's over)

 "O Efeito Ellie"Onde histórias criam vida. Descubra agora