Piratas

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  Enquanto os homens mais brutos e fortes do navio, Coração de Pedra e Cupido Negro, puxavam a rede de dentro do mar, Chat Noir ouvia gritos aterrorizados virem abaixo de si, suspirando profundamente e tentando conter os próprios gritos de comemor...

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  Enquanto os homens mais brutos e fortes do navio, Coração de Pedra e Cupido Negro, puxavam a rede de dentro do mar, Chat Noir ouvia gritos aterrorizados virem abaixo de si, suspirando profundamente e tentando conter os próprios gritos de comemoração por finalmente ter conseguido pegar a sereia que há tanto desejava, sorrindo enquanto batia a ponta da bota preta no chão com impaciência.

  Há seis meses, em uma de suas muitas andanças pela cidade, ouvira dois fuzileiros navais conversando casualmente sobre corpos achados na Costa Azul*, todos estranhamente afogados. Como se apenas isso não bastasse, ainda haviam boatos de pescadores sobre uma doce melodia ecoando ao longe das praias, os mesmos divagando sobre ser ou não uma melusina das águas salgadas, não se arriscando a se aproximar da água sozinhos. E aqueles boatos não eram apenas falados em Paris, e sim na França inteira e na Inglaterra. Chat Noir vagara por todos esses lugares a procura dela, mas nunca conseguiu achá-la, sentindo que mesmo que revirasse o mar a sua procura, nunca a acharia.

  Mas a sorte finalmente conspirou a seu favor, enquanto pensava que apenas o azar estava ao seu lado. Onde há fogo, há fumaça, e onde há corpos afogados e belas mulheres cantando, há uma estratégia sendo formada por um esperto pirata. Quando dois de seus homens mais inteligentes não voltaram no pequeno barco que lhes foi dado ou atiraram para o céu com um sinalizador como um sinal de que não encontraram nada além de água para todos os lados, Chat Noir soube que era ali que ela estava.

  E então, bastava apenas esperar. Esperar por uma chance entre um milhão, chance a qual ele agarraria como a uma rede de pesca e nunca a soltaria se conseguisse.

  E, por fim, conseguira.

  Assim que vira as ondas escuras tremeluzirem rapidamente, Chat Noir esperou em silêncio, levando os dedos aos lábios como um sinal para os outros piratas, que permaneceram na mais absoluta mudez como seu capitão. O pirata observou algo como escamas de peixe brilharem com a luz que a lua derramava sob a água, assim como um belo manto prateado, um ligeiro sussurro que julgou ser feminino lhe atraindo a atenção, soltando a rede no mar sem hesitar por um segundo que fosse, capturando sua mais nova aquisição.

  Uma sereia. Sua sereia.

  Chat Noir sorriu ao ver a rede quase dentro do barco, sendo puxada com certo esforço por dois de seus subordinados, levantando o lampião que segurava para iluminar o piso de madeira do barco, vendo a rede ser jogada ali com certo descuido por conta do peso, revirando os olhos e mandando os piratas tomarem cuidado com ela e se afastarem imediatamente. Cupido Negro e Coração de Pedra se distanciaram rapidamente, obedientes como os dois cãezinhos que eram, se juntando ao resto da tripulação atrás de Chat Noir, que observava a sereia se debater na rede e gritar. O pirata sorriu, colocando o lampião ao seu lado ao se agachar, esticando as mãos para desenrolar a rede, sentindo a sereia parar de se debater e gritar, ficando rígida de medo, os olhos verdes de Chat Noir perscrutando a sombra borrada da criatura.

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