Há muito tempo atrás, quando ainda se acreditava em lendas de reinos mágicos e tesouros perdidos no tempo, princesas presas em sonos eternos e príncipes valentes lutando contra dragões, um dos mitos mais temidos eram os das sereias - belas mulheres...
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Anos antes
— Garoto, onde está sua mãe?
Adrien mordeu o lábio cortado, o gosto metálico de sangue invadindo sua boca e escorrendo em um filete pelo queixo. A dor de ser estapeado pelo vendedor da barraca de frutas com um pesado anel de ouro na mão direita após lhe roubar uma fruta nem se comparava a dor de ter que responder àquela pergunta, baixando os olhos para o chão, emudecido.
— Responda à pergunta moleque, antes que eu arranque seus dentes com um alicate e os coloque a venda! — alterou o tom de voz, atraindo olhares de pessoas que passavam pela feira, que logo desviaram do caminho do vendedor ao ver que se tratava de apenas mais um ladrãozinho apanhado após ter sido visto roubando. — Estou te dando uma chance garoto. Responda antes que eu perca o resto da minha paciência.
Naquele dia estava ocorrendo uma feira, bem no centro de um pequeno vilarejo ao lado oeste do litoral, de onde vinha recentemente. Assim que avistou as bandeiras coloridas que enfeitavam os arredores do lugar, Adrien sorriu maravilhado. Haviam muitas pessoas, algumas até mesmo cantando e dançando, barracas com acessórios para beleza, tecidos de cores vibrantes vindos do oriente, comida exótica de outros países, e diversas frutas e doces espalhadas pelo grande espaço. Ainda haviam tendas de cartomancia e tarô em alguns cantos do lugar, mas eram pouco visitadas. Estava mesmo em uma feira, como na vez em que sua mãe lhe contou sobre ter ido em uma para vender algumas jóias, onde acabou comprando seu espelho favorito por apenas uma moeda de ouro.
"Foi algo muito lucrativo docinho." disse ela ao lhe mostrar o espelho, levantando o dedo indicador e fechando os olhos ao fazer uma expressão convencida. "Consegui sete moedas de ouro naquela tarde e ainda ganhei um espelho!"
"Com o que gastou as outras moedas, mãe?" perguntou o menino, os olhos arregalados indicando sua curiosidade.
"Adivinhe."
Ele se lembrava de ter inclinado a cabeça para o lado pensativamente, franzindo o cenho.
"Não sei."
"Em doces, obviamente." replicou num tom ofendido. "Até mesmo aprendi a fazê-los para nós gatinho."
"O único problema é que você coloca muito açúcar mamãe."
"Ah, fique quieto. Falas como se não gostasse, sendo que não deixa nem um uma migalha no prato quando faço bolos para você."
O garoto se recordou que riu junto a mãe. Aquelas eram doces lembranças. Mas naquele momento, Adrien só conseguia pensar que se saísse vivo daquela situação, teria uma amarga memória daquilo.
— Não tenho mãe. — sussurrou.
— Fale mais alto, não estou te ouvindo.
Adrien revirou os olhos, levantando a cabeça e fechando a cara indiferentemente para o homem de rosto suado e lábios apertados. O garoto notou que a face dele era decorada por uma monstruosa cicatriz que lhe rasgava a bochecha até a testa em um corte largo, passando pela têmpora em uma linha torta, por pouco não trespassando seus olhos cinzentos e opacos. Ele se perguntou como o velho teria conseguido aquele belíssimo atrativo facial, sentindo vontade de gargalhar com seus pensamentos, mas prendendo o ar ao sentir o homem apertar o punho bruto em volta de seu pulso fino, mordendo mais uma vez o lábio ferido. Havia acabado de ter uma ideia, a qual não sabia se seria muito boa no momento.