Há muito tempo atrás, quando ainda se acreditava em lendas de reinos mágicos e tesouros perdidos no tempo, princesas presas em sonos eternos e príncipes valentes lutando contra dragões, um dos mitos mais temidos eram os das sereias - belas mulheres...
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Apenas poucas vezes durante seus trezentos e dezesseis anos de existência, Marinette realmente parara para pensar antes de fazer algo, e aquele momento era uma prova viva disso.
Assim que Nathaniel voltara para o quarto em que a sereia estava, trazendo nos braços trêmulos um balde de madeira quase transbordante, Marinette repensou seus futuros movimentos, hesitando sobre qual ação tomar a seguir.
Ela tinha total consciência de que havia sido capturada e que agora estava sendo mantida em um cativeiro, por mais que a situação em que se encontrava não lhe remetesse nem um pouco a um cativeiro. Naquele navio, ela não teria conforto o tempo todo ou pessoas em que pudesse confiar; em outras palavras, estava totalmente sozinha, e teria que lutar por sua própria sobrevivência. Chorar como na noite anterior nada adiantaria, mas desafiar Chat Noir talvez adiantasse de alguma coisa. Marinette sabia o quanto era valiosa como sereia para o pirata, mas, se se transformasse em um humano comum como os outros,perderia seu valor como a galinha dos ovos de ouro para Chat. E aquilo talvez implicasse em sua libertação.
Mas, aquilo também implicava em outra possibilidade. A possibilidade de morrer nas mãos do pirata. Por mais que odiasse admitir, Marinette tinha medo de Chat Noir, e apenas imaginar sua reação após vê-la como uma humana era o suficiente para fazer suas escamas ficarem tão escuras quanto a própria noite, simbolizando seu medo por não saber como o pirata agiria consigo após ver pernas humanas no lugar de uma cauda escamada. Certamente não será uma boa reação, ela pensou.
A sereia foi despertada de seus breves devaneios pelo barulho do balde pesado sendo posto no chão, observando Nathaniel adquirir uma postura rígida e se mover para o lado do balde, um sorriso tão trêmulo quanto o de um bêbado deformando seus lábios finos.
— Posso ficar com você agora? Quando iremos para a água? — perguntou para Marinette, que revirou os olhos e suspirou, se reclinando na direção do balde enquanto afastava os cabelos dos ombros.
Ao contrário do que se pensava, a voz de Marinette não fazia os homens se afogarem de um modo completamente inconsciente. Na verdade, sua voz apenas os atraía para a água e para si; se Marinette estivesse em terra firme como era o caso e cantasse alto o suficiente para que alguém ouvisse, a pessoa enfeitiçada iria até ela e permaneceria por perto da mesma até que decidisse voltar para o mar, para que finalmente se afogasse com o belo canto da sereia ecoando por sua cabeça como uma doce maldição. A garota quase não conseguia acreditar no poder de sua voz, mas ao ver os corpos de pescadores boiando na límpida e tranquila água do mar, não tinha mais dúvidas do quanto sua voz era venenosa.
— Eu vou voltar, mas você... você não. Ainda tem uma vida inteira pela frente, e não deve desperdiçá-la com uma sereia como eu. Agora, vou fazer algo que pode me custar o pescoço, mas não pense que foi culpa sua. — respondeu sem emoção na voz, levando o copo até o fundo do balde e o enchendo até a boca, esvaziando pela metade ao ver que havia pego muito e o levando para seu colo novamente, encarando o líquido transparente. Marinette mordeu o lábio e abriu a palma da mão, onde o fio de cabelo de Chat Noir estava guardado, o colocando dentro do copo e o vendo afundar ali. A sereia respirou fundo e prendeu o ar na garganta sentindo o coração acelerar, levando a mão até as madeixas escuras em sua cabeça e arrancando um dos fios rapidamente, sentindo uma leve fisgada no couro cabeludo, fechando os olhos com força e soltando o fio dentro do copo, o balançando entre as mãos lentamente ao senti-lo ficar quente, um sinal de que o feitiço estava funcionando. Marinette entreabriu um dos olhos, observando de soslaio a água no copo mudar de transparente para azul-claro, azul-escuro e por fim roxo em apenas alguns segundos, abrindo totalmente os olhos e os arregalando ao ver que os dois fios de cabelo haviam sumido. — F-funcionou!