Prólogo

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PANDORA

Minha vida nunca foi fácil, mas em nenhum momento imaginei que ficaria pior. Moro em São Paulo desde que nasci, nenhuma vez viajei ou conheci outro lugar e agora com dezoito anos pensava que jamais sairia daqui. Moro numa casa simples junto com a minha mãe, meu padrasto e meus dois irmãos menores. Minha tarefa é cuidar da casa, dos meus irmãos e ainda preparar a comida uma vez que fui demitida do meu antigo trabalho no mercadinho da esquina. Apesar de fazer tudo que minha mãe manda, ela nunca está satisfeita comigo, no menor deslize me xinga e costuma bater na minha cara sempre que pode, não sei quem é o meu pai e meu padrasto consegue ser pior do que a minha mãe.

Alguns dias depois do meu aniversário, meu padrasto me chamou para uma viagem ao Rio de Janeiro, no começo desconfiei, não queria ir sozinha com ele. Cheguei a chorar implorando para minha mãe ir junto, mas depois ele disse que conhecia um amigo que iria me contratar para trabalhar de modelo numa agência, esse era o meu sonho, iludida por uma vida melhor, acabei concordando e saímos de casa no dia seguinte. Abracei meus irmãos e entrei chorando no carro, eu não queria ir, mas fui obrigada minha mãe não me queria mais em casa.

Levamos cinco horas para chegar na casa do tal amigo dele, na hora que entramos numa das maiores favelas do Brasil senti um frio na espinha e meus braços se arrepiaram na mesma hora. Parecia que meu corpo sabia a tremenda enrascada que eu estava entrando.

Meu padrasto nem desceu do carro, desci sozinha carregando uma mala pequena nas mãos com tudo que eu tinha. O amigo dele me recebeu com um sorriso amarelo e conseguia ser ainda pior do que meu padrasto. Ambos tinham o mesmo corpo forte e muitas tatuagens pelo corpo, porém, o cabelo dele era preto, enquanto meu padrasto tinha os cabelos loiros.

Fiquei apenas uma noite naquela casa e não tive coragem de fechar meus olhos nenhuma vez, o lugar era tão simples quanto a minha casa, esse não era o problema. Fiquei num quartinho nos fundos numa cama de solteiro e sem luz, mas o que mais me deixou nervosa foi a desconfiança, eu sabia que tinha alguma coisa errada.

No dia seguinte embarcamos para o meu primeiro trabalho, uma mulher apareceu dizendo ser da agência e me levou junto com ela para o aeroporto internacional do Rio. Embarcamos para Bahamas algumas horas depois. Quando perguntei a mulher por que estava indo pra tão longe, ela só respondeu que era um trabalho e eu tinha que fazer isso. Tive dúvidas se ela estaria falando a verdade, mas a quem eu iria perguntar? Minha mãe estava mais do que feliz com a minha partida, era uma boca a menos para alimentar, por isso encostei a cabeça na janela do avião enquanto minhas lágrimas escorriam pelo meu rosto, eu era um estorvo que ninguém queria.

Quando desembarcamos estava com fome, cansada e abatida, mas não podia reclamar, toda vez que tentava a mulher insistia que meus pais não me queriam e ela era a única pessoa que poderia me ajudar e infelizmente estava certa. Saímos dali direto para um grande navio de turista, acho que era um cruzeiro. No navio fiquei trancada num quartinho minúsculo por vários dias, estava enjoada e não conseguia comer quase nada. Mas a mulher não me deixava sair, nunca tive contato com ninguém do navio, não sai da cabine nenhuma vez.

A viagem acabou quando desembarcamos em Miami, sei disso por que ouvi as pessoas comentando enquanto passava por elas para sair do navio.

Eu não estava mais na minha cidade, nem no meu estado ou país. Estava num lugar diferente e não entendia quase nada do que as pessoas diziam. No porto uma van nos aguardava, entrei e sentei num cantinho ao lado da mulher que me trouxe até aqui, descobri que tinha outras garotas além de mim e fiquei um pouquinho mais tranquila ao vê-las, porém, ao ver refletido nos seus rostos o mesmo medo que eu sentia, descobrir que essa viagem pode não ser a solução para o meus problemas. Viajamos juntas por quase dois dias, com apenas duas pausas, algumas garotas tiveram que fazer as necessidades numa garrafa e comemos uma única vez, não reclamei. Entretanto algumas garotas reclamaram e acabaram ficando sem a garrafa de água que ganhamos no começo da viagem.

Quando Encontrei Você- DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora